007

2.6K 295 73
                                    

27 de junho de 1986

Quarta-feira, dia de receber as últimas provas. Meu nervosismo tomava conta de mim. E a diretora fez questão de me chamar em sua sala. Eu não sabia se isso era algo bom ou ruim. Sobre o que se trataria? Será que minhas notas foram tão ruins assim? Ou será que ela simplesmente irá me parabenizar? Bolsa de estudos? Argh! Tantas perguntas.

Eu esperava em algumas cadeiras em frente sua sala. Aparentemente, ela estava resolvendo mais uma briga por aí. Minhas pernas balançavam inquietas e eu batucava os dedos em minha mochila, no ritmo de alguma música pra me distrair.

- Senhorita Harrington? - Ela me chamou.

- Sim?

- Entre.

Entrei em sua sala e me sentei em uma das cadeiras em frente à sua mesa. Eu olhava a decoração do escritório. Porta retratos, um globo, pintura de Jesus, normal, básico. A diretora começou a mexer em alguns papéis e eu a olhava esperando respostas.

- Tudo bem? - Perguntei.

- Sim, claro. Alysson, você já sabe sua nota na prova de matemática?

- Sei, foi um 9.

- Bom, eu sei que isso é constrangedor, mas alguns alunos vieram te difamar pra mim e eu preciso saber se os boatos são verdade.

- Poucos dos meus boatos são verdadeiros.

- Eu sei disso Alysson. Você é uma aluna excepcional. Nunca me deu trabalho em todos seus anos de escolaridade.

- Diretora, desculpe. Por favor, vamos direto ao ponto.

- Bom, hoje um aluno me disse que alguns dias atrás te viu conversando com o professor Smith, de matemática avançada.

- Sim. - Disse pedindo pra ela dar continuidade.

- E também disseram que ele olhava pra você com um tanto de... Malícia.

- Sim. Eu já havia contado isso pra a senhora.

- Claro. Eu me lembro.

- E então? - Pedi uma resposta.

- Você sabe que a nossa escola é muito bem respeitada. E seria uma terrível pena caso nós perdêssemos esse respeito por um professor que está afim de uma aluna.

- Sim. Por isso eu pedi pra que algo fosse feito.

- E foi por isso que eu te chamei. Alysson, eu gostaria de te pedir uma coisa. Mas não quero que se ofenda com isso. Estou te dizendo porquê me importo contigo e quero seu bem.

- Continue.

Eu olhava atentamente para a diretora. Eu acho que já sabia onde essa conversa iria dar, mas não queria acreditar nisso.

- Claro que eu não estou te responsablizando por isso. Mas você poderia... Usar algumas roupas menos curtas?

Me levantei na mesma hora. Eu não acreditava o quão insensível ela estava sendo.

- O que? - Disse com indignação.

A diretora se levantou também vindo em minha direção pra tentar me acalmar.

- Senhorita Harrington, eu preciso que me entenda. O Smith é um dos melhores professores que temos. Ele é renomado, concursado, fez até mestrado! Não podemos simplesmente demiti- lo. Estou te pedindo um favor. Para o seu bem, e o da escola.

Eu já não ouvia mais a ela. Saí de sua sala pisando fundo. Como assim "vestir roupas menos curtas"? Em que isso iria adiantar? E eu pouco me importo se esse professor fez faculdade ou não. E por que ela acreditou em um boato mas não acreditou em mim quando eu contei?

Eu andava rápido sem olhar para a frente. Eu não queria olhar pra ninguém agora. Minhas lágrimas escorriam e eu torcia pra chegar do lado de fora da escola logo.

Esbarrei em uma pessoa, e no automático só disse "desculpa" e segui o meu caminho. Mas a pessoa me segurou pelo braço. Me virei para ver quem tinha feito isso. Era Eddie. Automaticamente, quando vi seu rosto, olhei para baixo na intenção dele não me ver chorando. Infelizmente, já era tarde pra isso. O garoto levantou meu rosto com delicadeza e me olhou preocupado.

- Aly? O que aconteceu?

Eu só abracei ele. Abracei como se não houvesse problemas. Eu me sentia segura em seus braços.

Eddie me levou para fora da escola, onde novamente me perguntou o que havia acontecido. Sentamos na calçada e eu contei pra ele cada detalhe. Dessa vez, ele não ouvia essa história por boatos, mas sim pela pessoa que passou e viveu isso. Ele me olhava com uma expressão compreensiva e de preocupação.

Logo depois, me abraçou novamente, fazendo carinho nos meus cabelos e beijando o topo de minha testa. E eu? Chorava em seu peito.

Quando eu me acalmei, tirei uma garrafa d'água e um espelho da mochila. Limpei meu rosto sujo de maquiagem. Eddie me olhava atentamente.

- Não vai contar pra ninguém sobre isso, não é? - Perguntei.

- Se você não quiser, eu não vou. Mas sabe que os boatos vão continuar e você só vai continuar sendo difamada, né?

- Eu sei. - Disse enquanto guardava minhas coisas e levantava.

- Você sabe se recuperar rápido. - Disse em referência ao choro.

- É. - Disse dando uma pequena risada.

- O que eu posso fazer pra você se sentir melhor, Harrington? - Disse se levantando também.

- Sua presença já é o suficiente.

- Bom... Tudo bem. Mas se isso te faz se sentir melhor: Você estava certa. Eu tirei um A em espanhol, professora.

- Eu te disse! Sou uma ótima professora. Pode me dar as 20 pratas. - Respondi rindo.

Ele tirou o dinheiro do bolso e se curvou. Me entregou, falando:

- Oh vossa majestade! Muito obrigado por me ensinar a matéria de última hora e me fazer passar de ano!

Eu peguei o dinheiro, o colocando no bolso e ri da gracinha do Eddie.

- Você é muito bobo.

- Eu amo isso. - Disse se levantando.

- O que?

- Sua risada. É perfeita.

- Obrigada. - Disse fazendo uma reverência com minha saia.

- Seguinte: Quando estiver mal, não precisa esconder seu rosto, ok? Nosso acordo não inclui só os momentos bons.

- Tudo bem.

- Me promete? - Perguntou mostrando seu dedo mindinho.

- Prometo. - Apertei seu dedo.

- Olha só, promessa de mindinho não pode ser descumprida. Eu levo isso muito a sério.

- Já entendi que eu estou submetida a morrer caso não cumpra.

Rimos e andamos juntos até minha casa. Ninguém precisava saber que estávamos matando aula.

Eddie realmente era o tipo de amigo que você podia contar pra todas as ocasiões. Não só os momentos bons. Ele é aquele tipo de amizade que não se importa como está o clima. Ele simplesmente está lá contigo. Mas será que ele era realmente só um amigo? Só uma amizade? No que eu estava pensando? O que eu sentia sobre Eddie Munson?

me and your mamaOnde histórias criam vida. Descubra agora