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4 de agosto de 1986

Já era segunda-feira novamente e eu estava estudando na biblioteca da escola. Estava um completo silêncio. Era até impressionante se for contar com o fato de que estávamos no intervalo.

Eu perdi muita matéria no último mês, então precisava repôr de alguma forma. Estava lendo um livro de biologia quando um barulho alto foi feito na porta. Olhei para ver o que era e adivinha? Era Eddie que estava tentando abrir a porta puxando, quando era pra empurrar.

- Oi princesa, tudo bem?

- Você vem muito na biblioteca?

- Eu? Claro que sim.

- Sim, vem tanto que não sabe nem como abrir a porta.

- Me dá um desconto. Não tinha placa dizendo que era pra empurrar.

Rimos baixo pra não atrapalhar ninguém. Até que Eddie tomou o livro da minha mão, lendo seu título.

- Me devolve, preciso dele.

- Como você sabe que vai cair esse tipo de coisa na prova?

- Porque essa é a matéria que foi passada, bocó.

- E se o professor passou de um jeito, mas no livro está de outro?

- Então o livro está certo.

- E como você pode ter tanta certeza?

- Porque a escola não colocaria o livro aqui, caso estivesse errado.

- E se colocaram?

- Você é muito chato, sabia? - Rimos.

- Eu só tô perguntando pra garantir que você vai se sair bem.

- Com isso você quer dizer: Garantir que eu vou te ensinar certo?

- Talvez.

- Vai arrumar o que fazer além de me perturbar, Munson.

- Ah, tá bom. Desculpa.

O garoto foi se levantar e eu percebi que ele parecia realmente chateado com o que eu falei. Automaticamente, segurei seu braço o puxando para perto de mim.

- Ei, me desculpa. A intenção não foi te magoar. Eu só estava brincando.

- Eu sei que sim, princesa. Eu só estava brincando também. - Riu.

Dei um murrinho em seu braço e ele me deu um beijo ali mesmo. Depois, nos sentamos nas cadeiras ali novamente. Voltei a ler o livro enquanto Eddie me encarava. O ignorei por um tempo, até que fiquei incomodada com alguém me observando.

- Para de me admirar, Eddie. Eu sei que eu sou linda, mas não é pra tanto.

- Seu ego é muito alto, menina. Eu nem tô te olhando.

Tirei meus olhos do livro e o encarei com deboche.

- Jura? - Perguntei com ironia.

- Juro, ué. Tô olhando pra aquele livro todo preto ali. Do que se trata?

Antes que eu pudesse falar algo, ele saiu de perto de mim indo em direção ao livro. Se Eddie realmente não estava me olhando, de onde estava vindo a sensação de estar sendo vigiada?

Olhei ao meu redor procurando alguma pessoa que estivesse desocupada o suficiente para ficar observando uma garota a ler. Estranhei por não ter visto ninguém. Talvez tenha sido só uma brincadeira do Eddie pra me assustar.

Até que eu olhei para a janela e vi uma silhueta me observando. Ele estava vestido todo de preto. Forcei minha visão para enxergar melhor e percebi que era meu pai.

Ele fez um gesto para mim, mostrando que eu estava morta. Assustada, procurei alguém por perto para vê-lo também. Me levantei à procura de Eddie. Quando voltei para a janela, ele já não estava mais lá.

- Você viu ele, não é?

- Não, Aly. "Ele" quem?

- Ele estava ali, Eddie. Eu te juro! Precisamos ligar para o Steve. Precisamos ligar para o Steve!

- Tá bom, calma. Nós vamos ligar para ele.

Assim, nós fizemos. Fomos até o telefone mais próximo e ligamos para a locadora. Steve estava avisado e iria até a delegacia fazer a denúncia de que eu o vi.

Novamente, eu tive que ir para casa por causa daquele velho. Qual era seu plano? Me deixar sem aula até eu reprovar, ficar desempregada, sem dinheiro e morando debaixo da ponte?

Um policial ficaria lá em casa comigo. Eu não estava confiando muito nas pessoas ultimamente, então tive que ficar trancada no meu quarto. Sem perigos desse policial ser maluco e me matar.

Eddie não podia ficar comigo por algum motivo que eu não entendi qual. E Steve já estava quase chegando em casa. Ele teve que resolver mais um monte de coisa burocrática por causa disso.

Por causa de uma aparição, esse velho causou pânico em todo mundo. Se os policiais tinham desistido dele, agora pagaram com a língua. Ele não vai parar até conseguir o que ele quer, mas nós não sabemos o que é isso. O que é que ele quer?

Ouvi alguém tentando abrir a porta do meu quarto e fiquei atenta. Esperando só alguém fizer algo.

- Aly, é o Steve. Abre essa porta.

Superei de alívio quando ouvi sua voz. Rapidamente, fui em direção à porta destranca-la. Porém logo depois que eu girei a chave, pude ouvir um barulho alto. Abri a porta para ver o que era, mas já era tarde. O policial tinha batido na cabeça de Steve com a ponta de uma arma.

- O que diachos você está fazendo? - Perguntei confusa.

- Eu tenho favores para serem retribuidos, senhorita Harrignton. Me desculpe.

O policial tentou me acertar da mesma forma que ele acertou Steve, mas eu desviei. Rapidamente, tomei a arma de sua mão. Foi fácil, pois ele não esperava esse movimento.

Ter um pai problemático tinha suas qualidades. Ele ensinou eu e meu irmão a segurar uma arma desde pequenos. Claro que mira não era meu forte, mas uma arma na mão de uma mulher enfurecida era bem mais perigoso do que só uma arma.

Apontei o objeto para o policial, que ergueu as mãos em rendição. Fui até Steve, tentando o acordar. Ele tinha um belo machucado no canto da testa, que sangrava muito.

- Steve, Steve! Acorda cara. Acorda! - Disse alto, o chutando.

Logo, ele acordou confuso com o que tinha acontecido. Não estava entendendo nada. Muito menos o porquê de eu estar apontando uma arma para o cara que deveria estar nos protegendo. Então, ele se levantou, ainda assustado.

- Aly, o que você está fazendo? Toma cuidado com isso, ok?

Ele tentou tirar o objeto de minhas mãos geladas e trêmulas. Eu segurei mais forte e não deixei.

- Steve, eu sei o que eu estou fazendo, ouviu? Quem você acha que te acertou?

- Eu sei. E eu estou contigo. Só falei pra tomar cuidado com isso.

me and your mamaOnde histórias criam vida. Descubra agora