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18 de dezembro de 1986

Uau, como passou rápido. 4 mêses parecem ter sido 4 dias. E eu ainda estava presa naquele lugar.

Quando os médicos disseram que se tudo corresse bem, eu poderia sair daqui em dezembro, eles mentiram. O tratamento foi todo perfeito e eu segui tudo o que eles pediram pra eu fazer.

Sinceramente, eu não sabia o que eu tinha feito de errado e o que me impedia de sair dali. Talvez porque eu ainda não tive minhas memórias totalmente de volta, mas eu não sei o que fazer pra isso acontecer. Não tem como eu forçar meu cérebro, ou algo assim.

Eu me sentia injustiçada. O que eu poderia fazer pra mudar isso? Será que o problema estava em mim e só eu não enxergava isso? E se só eu não enxergo, porque não me contam? Novamente, eu em busca de respostas.

No geral, tudo continua na mesma. Steve e Eddie continuam me visitando. Agora, eles se revezam para vir. Eu até preferia desse jeito.

Steve sempre trazia variadas comidas que ele comprou em alguma vendinha, ou algo assim. Isso porque eu sempre conto como a comida daqui é ruim. Ele continua se preocupando comigo, mas continuamos na mesma implicância de sempre, um com o outro.

Eddie, por outro lado, trazia algumas fitas de música. Outras vezes, um gravador com o som dele cantando e tocando guitarra. Eu amava quando ele fazia isso. Trazer uma guitarra para um manicômio não é uma das boas, mas ele arranjou um jeito de eu o ouvir tocar.

O baile de inverno da escola seria dia 28. Daqui 10 dias. Eu sei que com certeza não vou conseguir ter alta até lá, então fiz Eddie prometer que ele iria, mesmo sem acompanhante.

"- Mas a coisa não vai ter graça se você não estiver lá.

- Munson, você vai sim e ponto final.

- Você não manda em mim.

- Mando sim.

- Manda mesmo..."


Ri com meus pensamentos quando tive a lembrança dessa conversa que tivemos. Ele parecia estar desapontado, mas queria me fazer rir.

"- Munson, eu juro que se eu descobrir que você não foi nesse baile, eu vou roubar todas as suas fitas de música durante a noite, enquanto você dorme.

- Ah, não! As fitas não, Aly.

- E a guitarra.

- Você não vai encostar nenhum dedo nela!"


Lembro de iniciarmos uma discussão muito séria depois disso. Só porque ele sabe que eu sou capaz disso. Logo depois, ele se rendeu e nós dois caímos na risada.

Por mais que eu não estivesse com Eddie, queria que ele se divertisse. Odeio que ele absorva os meus problemas pra ele. É uma coisa que ele faz toda vez e toda vez eu preciso brigar com ele.

"- Bom, então eu prometo que eu vou. Só não prometo que vai ser tão divertido sem você lá.

- Eu não ligo. Só vai na droga desse baile e fica bêbado. Aproveita ele por mim, bom?"

- Terra chamando Alysson. Você está viva? - Chamou Anne, me acordando de minha lembrança.

- Oi, oi. Acho que sim. Você não bate mais na porta?

- Nenhuma porta fica na minha frente quando eu estou animada com algo.

- O que foi dessa vez?

- Eu ouvi você falando com o garoto com o cabelo doido.

- Sobre o que?

- Gata, você vai sim nesse baile.

- O que? Não. Como você espera que eu vá? Fugindo daqui?

- Exatamente, ué. Ninguém precisa saber que você foi. Eu te acoberto.

- E como você espera que eu saia sem ninguém me ver?

- Nunca percebeu o quanto Pennhurst é mal protegido? A gente pode fugir quando quisermos, só escolhemos não fazer isso.

Olhei para a janela e notei que, realmente, era tudo aberto. Não tinham muros, nem nada do tipo.

- E os seguranças?

- A troca dos turnos são de 19:00h até 19:10h. É uma ótima oportunidade. Eu só preciso que você volte até as 05:00h.

- Isso é muito errado, Anne. Não vou fugir daqui. Como você espera que eu chegue até lá? E com o uniforme de um manicômio? E se eles tiverem razão em me manter aqui? E se eu não estiver pronta para encarar o mundo de novo? Eu ainda devo estar aqui por um motivo.

- Ai menina, para de ser paranoica. Vamos lá. Se você quiser mesmo ir, vai de pé. Eu posso pegar um vestido da sala de teatro. E você sabe que as pessoas que mantém a gente aqui, são mais loucos que nós. Eu acredito que você consegue voltar para o mundo real por uma noite. Não confio em ti, mas torço por você. Agora, quer minha ajuda ou não? Não vou perder tempo caso você não queira.

Parei e pensei por alguns segundos. Até onde Anne me mostrou, o plano dela era bom e eu acho que poderia dar certo. Só estava com medo de onde isso poderia parar.

- Tá bom. Me fala mais.

- Essa é minha garota!

- Te juro que se isso não der certo e eu precisar passar mais 4 mêses aqui por sua culpa, vou te caçar até no inferno.

- Relaxa, é bem simples, na verdade. Eles vão te dar um remédio pra você dormir na janta. Você finge que tomou e depois joga fora.

- Por que jogar fora?

- Quer dormir no meio do baile? Foi o que eu imaginei. Continuando: Você coloca as almofadas na sua cama e quando der o horário certo, desce pela janela e sai correndo pelo jardim. Eu vou estar falando quais lugares você deve evitar por causa dos seguranças, pelo walkie talkie.

- Você falando assim, parece muito simples.

- E é. Só sai correndo, garota. Quando chegar aqui de novo, me chama pelo walkie talkie e eu te digo por onde passar. Lembrando: Volte antes das 05:00h.

- É, pode até dar certo.

- Vai dar certo! Meus planos são infalíveis.

- Claro que são.

- Eu senti um pingo de ironia, hein?

- Era pra sentir mesmo.

me and your mamaOnde histórias criam vida. Descubra agora