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18 de agosto de 1986

Acordei para mais um dia na minha nova rotina. Que agora, era normal, aparentemente. Não aconteceu tanta coisa nas últimas duas semanas. Não tanto quanto eu esperava.

Indo direto ao ponto: Fui internada em uma clínica psiquiátrica, diagnosticada com esquizofrenia leve. Manicômio de Pennhurst. É, pelo o visto, todas as vezes que eu vi meu pai, era coisa da minha cabeça.

Uma coisa que não estava totalmente explicada é como ele está morto, se não estava no incêndio. Mas a psiquiatra disse que pode ter sido um sonho, não uma lembrança. Ou simplesmente uma lembrança incompleta. Resumindo, eu não podia confiar na minha própria mente.

A esquizofrenia pode ter acontecido pelo trauma do incêndio. Por eu ter ficado desacordada por muito tempo, além das lembranças serem breves e confusas.

Eu comecei a tomar diversos remédios para melhorar logo. E se acontecesse, eu poderia voltar para casa até dezembro. Bom, é o que os médicos dizem.

Fora tudo isso, eu estava bem. Não saía do quarto fazia três dias, mas faz parte.

- Aly! Justo quem eu estava procurando. Beleza? Jóia? Hoje você parece menos pálida. Isso é um bom sinal! E eu ouvi dizer que tem visita pra você hoje.

- Você sabe que eu não quero ver ninguém de fora, Anne.

- Qual é? Aqueles dois gatões não merecem ficar esperando. Se você não for ver eles, eu vou no seu lugar.

Anne era uma das pacientes de lá. Seu quarto ficava do meu lado e ela acabou fazendo amizade comigo. Seus cabelos eram longos, cacheados e ruivos. Ela era muito magra e alta. Tinha mais ou menos, minha idade. Acho que ela foi internada por excesso no uso de drogas, ou sei lá o que.

Steve e Eddie sempre vinham me visitar, mas eu raramente queria ve-los. Isso porque eu não quero que eles me vejam mal do jeito que eu estou, mas seria egoísta da minha parte não deixar eles terem certeza de que eu estou bem.

Sinto que Steve se sente mal por me deixar aqui. Ele não queria ver a irmã nessas condições. Eu não sei como isso pôde acontecer. Quando foi que eu perdi o controle da minha vida?

Eddie sentia medo de me perder. Ele nunca disse isso, mas é bem óbvio. Eu também sentiria medo na situação dele. Afinal, eu estou presa aqui dentro sem querer ver ninguém e ele está solto lá fora, desesperado para ficar preso comigo.

Os dois sabiam que isso era necessário para mim. Eu não achava, mas já que eles faziam questão, eu ficaria.

Pennhurst não era tão ruim. Na real, era só estranho. Não tinha segurança nenhuma pra caso algum paciente queira fugir, ou algo do tipo.

- Aly, bom dia. Como está hoje? Vejo que já está conversando. Isso é bom. - Disse uma das enfermeiras entrando no quarto.

- Vou bem, obrigada. - Respondi com indiferença.

- E aí? Vai querer ver suas visitas hoje?

- Não.

- Tudo bem, mas o menino de cabelo longo me pediu pra te entregar isso aqui.

Ela esticou as mãos, me entregando um papel dobrado. Provavelmente, um bilhete.

- Obrigada.

- Não há de quê.

Ela deu um sorriso simpático, deixou o café da manhã lá e saiu. Anne pegou uma de minhas torradas e chegou perto de mim para lermos o bilhete juntas.

"Oi Aly... Bom, eu sei que você não quer me ver e eu sinceramente, não entendo o porquê. Mas se estiver lendo isso, significa que você me deu um chance, então obrigado.

Eu também sei que você se sente mal por estar aí dentro sozinha. Acredite, eu sinto o mesmo aqui fora. Mesmo eu vendo as mesmas pessoas que eu conheço à muito tempo, você me faz muita falta.

É como se você tivesse morrido naquela droga de incêndio. Eu arrumei briga com um garoto idiota do time de basquete ontem. Ele te chamou de louca e tal, eu precisava defender minha amada.

Vai parecer muito brega o que eu vou falar agora e se eu descobrir que você riu, eu juro que invado esse manicômio só pra te fazer cócegas no meio da noite. A questão é que você é a minha vida, sabe? Nada faz sentido sem você.

Esses dias, eu fui trocar o lençol e me lembrei de você com nojo da minha cama. Outro dia, fui até aquele lugar que eu te levei e me lembrei do nosso primeiro beijo. Hoje mais cedo, passei em frente ao seu armário na escola e me lembrei de você ganhando susto toda vez que alguém chegava perto de você.

Princesa, seus boatos estão aumentando cada vez mais por aqui. Está tudo uma confusão sem você. Não ter quem nomear um rei ou rainha da escola nunca foi tão estressante. Pelo menos, para eles. Para mim, você sempre será minha rainha.

O que eu quero dizer é que eu sinto sua falta. Sinto sua falta até na hora de dormir, pois me lembro de você me fazendo cafuné e eu cantando uma música aleatória pra te acalmar. E sabe do que mais eu sinto falta? Duas fitas de música que você roubou de mim. Pois é, eu senti falta delas e só você sabe onde você escondeu.

Eu preciso de você, Alysson. Preciso tanto quanto nosso corpo precisa do ar. Por favor, volta pra mim. Seja forte aí dentro, bom? Saiba que acima de tudo, eu sempre vou te amar. Do mesmo jeito que eu amo a minha guitarra.

Com amor, o maluco que você ama. (Eu acho)♡"

Senti as lágrimas escorrendo pelo meu rosto e molhando o papel. Eu tinha um sorriso gigante, que eu não conseguia esconder. Aquela caligrafia bagunçada e tremida. Eu sentia muita falta desse moleque.

- Mulher, se você não quiser esse homem, saiba que tem quem queira. - Disse Anne.

- Eu quero. Quero muito ele.

- Então vai ver ele, Aly! Você é bem maluca mesmo. Deve ser por isso que te internaram! Anda, anda logo antes que mandem ele ir embora.

Rapidamente, saí do meu quarto, procurando aquela enfermeira novamente. Infelizmente, não a achei, mas eu não podia perde-lo. Corri para o salão de visitas e avistei Eddie. Eu corri até ele e o abracei.

- Eu também sinto sua falta, bocó.

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Oooooi

Me desculpem por eu não ter postado capítulo novo ontem, mas eu prometo que vou postar mais um hoje!!

me and your mamaOnde histórias criam vida. Descubra agora