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12 de julho de 1986

Acordei suando e com a respiração pesada. Já tinha amanhecido. Steve estava do meu lado dessa vez, ao invés de Eddie.

- Oi. Você acordou.

- O que aconteceu?

- Os médicos te deram um calmante, você estava muito agitada. Tudo bem?

- Acho que sim. Cadê o Eddie?

- Foi pra casa. Ele está bem.

Concordei com a cabeça e voltei a olhar para o nada. Steve ainda me olhava com uma expressão preocupada.

- Me encarar não vai me fazer sentir melhor. - Disse.

- O que você viu no seu sonho? Foi tão ruim assim?

- Foi uma lembrança. De quando eu estava dentro da casa. Eu... Eu vi a mamãe morrendo, Steve. E não pude fazer nada.

- Você viu ela? - Perguntou com os olhos brilhando.

- Vi. Eu tentei ajudar, eu juro que tentei. - Lágrimas escorriam pelo meu rosto. - Ela mandou eu ir embora. Disse que amava nós dois e me mandou ir embora.

- Tudo bem, Aly. Ela deve estar muito orgulhosa de você. - Disse com um sorriso reconfortante juntamente a lágrimas.

- Eu quero descobrir mais sobre o que aconteceu. Por que eu não saí lá de dentro antes do fogo se espalhar?

- Com certeza teve um motivo, mas você não vai se lembrar se estiver com a cabeça à mil, ok?

O silêncio tomou conta do quarto. Steve queria que minha cabeça ficasse menos agitada, mas como? Eu não queria me entupir de remédio e continuar dormindo.

Todos estavam me tratando como um bebê e isso não era justo. Eu tenho quase 18 anos. Não podem me impedir de ver o mundo real para sempre.

Olhei para Steve que estava olhando para a parede, evitando contato visual. Ele estava muito calado ultimamente e eu sabia o motivo. Que merda.

- Parece que tudo o que aconteceu quando eu estava sonhando, está se tornando realidade.

- Como o que? - Respondeu me olhando curioso.

- Você se sente culpado pelo acidente. Não é?

Ele me olhou pensativo por um tempo, quebrando isso logo em seguida quando voltou a olhar para a parede.

- Um pouco. É só que... Talvez tivesse sido diferente caso eu estivesse lá.

- Steve, você não podia impedir isso. Sabe que o papai sempre foi muito desleixado com o cigarro.

- No fundo eu sabia que ia acontecer algum dia, só não sabia que seria tão cedo. Você não sabe o quão grato eu sou por você ter sobrevivido.

Ri comigo mesma. O Steve do meu sonho falou a exata mesma coisa quando estávamos na lanchonete depois de ele ter mentido para meu chefe e me tirado do trabalho.

- Eu te amo Steve. A gente implica muito um com o outro e tal, mas eu fico feliz que você esteja comigo.

Steve sorriu para mim. Era a primeira vez em muito tempo que eu demonstrava carinho por ele.

- Também te amo maninha. Vou sempre estar contigo, você que se vire pra me aturar.

- E como está sua vida amorosa aqui?

- Bom, digamos que na mesma. Mas eu conheci uma garota.

- Qual delas dessa vez?

Steve começou a contar sobre a tal garota e eu o olhava com um sorriso no rosto. Sabia que ela não iria durar muito na vida dele, mas ele estava feliz, isso que importa né?

A porta se abriu. Quando olhei para o lado pra ver quem era, Robin já estava do meu lado com os braços abertos. A garota me abraçou fortemente.

- Aly, como eu senti sua falta, guria!

- Também senti a sua, Robin. - Disse rindo.

- Eu vim ficar com vocês porquê eu sei como o Steve é um pé no saco e é horrível suportar ele todos os dias. Você deve estar se sentindo muito cansada e ele vai ficar te atormentando o dia todo, então eu vim te salvar. - Ela dizia rápido enquanto gesticulava com as mãos.

- Tudo bem, obrigada Robin. Eu não queria mais ouvir ele falando sobre a garota que ele tá saindo.

- Qual delas? - Perguntou.

- Heather. Ela se chama Heather. E isso é uma falta de respeito comigo. - Disse ironizando.

- Ai meu Deus. Não me diga que você tá pegando a menina que mais me odeia lá na escola.

- O que? Não. Existem muitas Heather's pelo mundo. E a Heather que eu tô saindo te ama. Ela diz que te admira muito e não vê a hora de você acordar.

- Steve, se você tiver pegando essa mina mesmo...

- Tá, tá. Pergunta pra Robin sobre a vida amorosa dela, ela também tem.

Olhei para a garota esperando respostas.

- Não tenho não. - Respondeu em defesa.

- Tem sim. - Falou Steve.

- Não tenho não.

- Tem sim, cara.

- Não?

- Sim?

E os dois começaram a discutir se a Robin tinha vida amorosa ou não. Eu amava a amizade desses dois.

Eu ria porque Steve com certeza estava perdendo pra Robin que soltava as palavras rapidamente e não parava. Steve ficava totalmente confuso por não entender praticamente nada, fazendo com que ele não tivesse argumento pra contra atacar.

- E eu venci! Você não tem mais nada a falar. - Disse Robin em comemoração.

- Sua estratégia é falar um monte de coisa nada a ver pra eu ficar confuso e não saber o que responder?

- Eu tô com a Robin. - Falei.

- Toma idiota! - Respondeu a garota.

- Fui eu que te salvei garota, você me respeita.

Steve me deu um tapa na cabeça em repreensão. Eu e Robin começamos a rir, logo puxando Steve pra a risada também.

O que eu não esperava era que os dois iriam avançar em mim ao mesmo tempo, fazendo muitas cosquinhas.

- Meu ponto fraco, meu ponto fraco! - Eu ria.

- Isso que dá se juntar com o inimigo. - Disse Steve.

- Robin, você me traiu. Eu tô indefesa! - Disse enquanto ainda ria.

Logo, a porta se abriu. Os dois, sem parar de fazer as cócegas, olharam pra ver quem era e perceberam que era uma das enfermeiras. Ela olhou feio para os dois que pararam no mesmo instante.

- O que estavam fazendo?

- Brincando só, tia. - Respondeu Robin.

A mulher olhou confusa pra ela, mas deu de ombros e trocou os meus curativos. Minha pele estava voltando a crescer, fazendo aquilo parecer só um roxo.

Eu olhava atentamente. Teria que lidar com isso pra sempre, pois as marcas não sairiam dali.

A médica entrou no quarto, dando boas notícias. Eu poderia ir embora do hospital no dia seguinte caso eu me sentisse pronta pra andar e encarar a minha vida de volta.

É claro que eu disse que sim. Eu conseguia andar perfeitamente, mas não podia forçar. Então, ela recomendou que eu ficasse mais alguns dias em casa e fosse em um psicólogo. Talvez isso ajudaria eu me recordar de tudo mais rápido.

me and your mamaOnde histórias criam vida. Descubra agora