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18 de agosto de 1986

Acordei com Eddie jogado em cima de mim. Sua respiração era pesada, ele estava em um sono muito profundo.

O despertador não havia tocado ainda, então eu só olhava o menino atentamente. Até que seus olhos abriram e sorriram ao me ver.

- Bom dia bela adormecida.

- Bom dia princesa. - Respondeu com um sorriso.

O som do despertador ecoou pelos nossos ouvidos, já eram 07:30. Me levantei fazendo Eddie murmurar algumas reclamações e enfiar o rosto no travesseiro de novo.

Eu puxei sua perna, fazendo ele cair da cama junto com a coberta.

- Bora Eddie. Você disse que nós não iríamos nos atrasar.

- Eu já tô pronto.

- Não vai passar na sua casa pra se arrumar?

- Não, eu tenho tudo o que eu preciso aqui. Depois eu pego uma caneta emprestada com alguém ou sei lá.

Ele se levantou e chegou por trás de mim, passando suas mãos pela minha cintura. Até que começou a levantar a blusa que ele havia me dado, delicadamente.

- O que está fazendo, Eddie?

- Eu preciso dessa blusa.

- Você têm várias iguais a essa na sua van.

- É, mas agora essa é a minha preferida.

Ele finalmente terminou de tirar minha blusa e me puxou para um beijo.

- Sai! Você tá com bafo. - Ri.

- Como se atreve?

Ele colocou a mão no peito fingindo ter se ofendido e logo depois riu também.

Abri meu guarda roupa e coloquei outra blusa, já que Eddie tinha pegado de volta a que ele tinha me dado. Peguei também uma escova de dentes nova e joguei no garoto.

- Vai lavar essa boca.

- Sim, senhora. - Disse enquanto levantava suas mãos em rendição.

Terminei de me arrumar e saí do quarto indo em direção à cozinha. Eddie e Steve discutiam sobre quem tinha o cabelo mais bonito, ou sei lá o que.

- Aly, o seu namorado é muito abusado. - Disse Steve.

- E seu irmão é atrevido. - Respondeu Eddie.

Eu ri dos dois e peguei duas torradas, dando uma mordida em uma delas e colocando a outra na mochila.

- O meu cabelo é o mais bonito e assunto encerrado. Agora, qual dos dois vai me dar carona?

- Seu namoradinho. Eu tenho mais coisa pra fazer. - Disse Steve.

- Pode deixar que eu cuido muito bem da minha mulher.

E os dois começaram a debater de novo. Eu saí dali indo em direção a van de Eddie enquanto ria.

Ele veio logo atrás de mim e entrou no carro. Perguntou se eu estava bem e logo depois de ter a confirmação, deu a partida.

Chegando na escola, dei um selinho de despedida nele e fui em direção à minha sala. Eu andava pelos corredores e recebia olhares curiosos.

Era a primeira vez que eu entrava aqui desde o ocorrido. O assunto mais falado era esse. Estava na boca de todos e no jornal da escola.

- Oi Alysson. Tudo bem? - Perguntou uma garota baixa de cabelos longos.

- Oi? - Respondi confusa enquanto continuava andando.

- Eu faço parte do grupo do jornal da escola. Você pode responder algumas coisas, por favor? - Ela me acompanhava.

- Talvez outra hora. Eu tô atrasada, desculpa.

- Tudo bem, eu te encontro!

Me deparei com vários desses ao decorrer da manhã. Eles estavam muito interessados em minhas respostas. Eu até respondi algumas das perguntas, mas queriam mais e eu não queria falar sobre aquilo.

Muitas pessoas também perguntavam se eu estava bem e essas coisas. Eu fui perseguida, isso parecia estar bem? Mas é claro que eu respondia de forma educada. Até porque causar constrangimento não era a intenção da maioria deles.

Na hora do almoço, comi minha torrada atrás da quadra. Era o lugar perfeito pra se esconder de todos. Logo depois, ouvi passos pisando nas folhas caídas, se aproximando.

- Oi princesa.

Era Eddie. Eu sabia que ele me encontraria aqui.

- Oi.

- De quem você está se escondendo?

- Jornalistas e pessoas inconvenientes.

- Sinto muito por você ter que passar por isso.

- Tudo bem.

- Quer uma notícia boa pra te alegrar?

- Eu adoraria.

- A diretora tá afastada da escola por tempo indeterminado. Está respondendo um monte de processo. Minha opinião é de que ela não volta aqui tão cedo.

- Foi a melhor coisa que eu ouvi nos últimos dias. Obrigada. - Dei um sorriso de canto e me deitei em seu ombro.

- Então o meu "eu te amo", não significou nada pra você?

Ri de sua fala. Que garoto dramático. Ele tinha um pequeno sorriso nos lábios enquanto olhava pra mim esperando uma resposta.

- Significou. E eu também te amo, viu? Não fica tristinho.

- Bom mesmo. - Murmurou.

Ele deu um beijo no topo da minha cabeça e segurou minha mão. Ficamos conversando e rindo e eu brincava com seus anéis. Até que o sinal tocou. O intervalo havia acabado.

- Qual sua aula agora? - Perguntei.

- Química.

- A minha também. - Me levantei e estiquei minha mão ajudando ele a ficar em pé. - Vamos?

- Bora.

Fomos até nossa sala de mãos dadas. Ele entrou primeiro, quase me puxando. Sentamos na última mesa no fundo.

Durante a aula, ele me passava bilhetinhos escondido, que geralmente estavam escritos algumas zoações para o professor ou elogios para mim. Eu ria baixinho e as vezes o olhava sério. Até que escrevi:

"Presta atenção na aula. Não vou te explicar isso depois"

E ele respondeu:

"Vai sim. Você me ama muito pra me negar uma coisa dessas"

Eu o olhei sorrindo com um olhar de repreensão. Mas ele não ligava. Só tomou a minha mão para si e começou a fazer alguns desenhos e rabiscos nela.

O sinal tocou e eu arrumei minhas coisas dentro da mochila. Eddie que estava só com uma caneta e um caderno, colocou eles em baixo do braço, segurou minha mão e foi guardar suas coisas no seu armário.

Quando ele abriu o armário, pude ver a bagunça que aquilo estava. Ele provavelmente não arrumava aquilo desde o primário.

Pude ver também a foto que nós tiramos aquele dia no boliche grudado com uma fita transparente na porta.

- Que gracinha. Você guardou. - Falei apontando para nossa foto, sorrindo.

- É, eu só tinha ficado na dúvida se eu deixava aqui ou no meu quarto. Mas resolvi deixar aqui pra mostrar pra todo mundo que eu sou teu.

Rimos e ele me deu carona até meu emprego, onde fez companhia pra mim por um tempo, mas teve que ir logo depois.

me and your mamaOnde histórias criam vida. Descubra agora