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4 de agosto de 1986

Era uma segunda-feira. Eu andava em passos longos para chegar na escola o mais rápido possível. Steve resolveu me deixar pra trás por eu ter demorado um pouquinho pra me arrumar. Dramático.

O que aconteceu nesse último mês... Bom, Steve comprou um trailer com o dinheiro da herança. Nós estávamos vivendo nele a algumas semanas. Era confortável. Bonitinho. Recebemos muitas doações de roupas e objetos domésticos.

Steve se sentia culpado por tudo o que aconteceu. Ele não fala sobre isso, mas dá pra perceber. Ele acha que agora precisa assumir uma posição de pai pra mim. Um pai melhor do que tivemos. Pode ser egoísmo da minha parte, mas eu só queria ele como irmão. Me apoiando, apostando, zoando, como sempre fizemos. Não como um responsável por mim.

Eu sentia falta dos meus pais. Em parte, eu também me sentia um pouco culpada. Eu desejava que algo ruim acontecesse com meu pai desde que eu tinha 11 anos. Talvez pra aprender a lição dele e valorizar mais a gente ou sei lá o que.

A mamãe não merecia isso. Ela era muito religiosa, era submissa ao meu pai. Mas não quer dizer que concordava com tudo o que ele dizia ou fazia. Lembro-me dela cantar pra eu e meu irmão dormir depois de um dos surtos do meu pai.

Senti lágrimas escorrerem pelo meu rosto em pensar nesse assunto. Rapidamente, as sequei quando vi que estava perto da escola.

Aqui na escola, aquele professor tinha parado de mexer comigo por algum milagre. Eu ainda sentia seus olhos queimarem sobre mim durante as aulas, mas pelo menos ele não flertava comigo mais. Era o suficiente.

Antes do acidente, eu tinha saído das líderes de torcida, então resolvi não voltar de qualquer maneira. As meninas não falavam mais comigo, mas eu não me importava com isso. Era até melhor. E ainda assim, eu continuava sendo considerada a rainha da escola.

Eddie... Ele logicamente continuou sendo meu melhor amigo. Continuou me confortando e estando junto comigo sempre. Mas eu não sentia que isso era justo com ele. Ter que sofrer por um luto que não era dele. Eu era muito problema pra ele ter que lidar. Definitivamente, não era justo.

Então eu tentei me afastar. Mesmo amando muito o Munson, mesmo querendo estar com ele pra sempre. Eu não queria que ele sofresse por minha causa. Mas não adiantou muito.

- Aly!

- Oi Eddie. - Respondi sem parar de andar.

- Como você está hoje, princesa?

- Bem, obrigada. E você?

- Melhor do que nunca! Vou dar um show com a banda lá no Hideout hoje.

- Você não tocava lá só nas terças?

Ele parou em minha frente, me fazendo parar de andar e prestar mais atenção nele.

- É por isso que é muito bom. Quer dizer que estão gostando da gente e querem nos ver mais vezes.

- Fico feliz por você. - Respondi com um sorriso simpático enquanto voltava ao meu caminho.

- Você deveria ir nos ver. - Disse depois de segurar meu braço.

- Você sabe que eu não tô saindo de casa, Eddie.

- Exatamente. Só se vive uma vez, linda. Por que não vai? Vai ser divertido.

- Eu... Eu vou pensar, ok? Eu realmente tô cheia de dever de casa. - Respondi e voltei a andar até minha sala.

- Te pego às 19:00! - Gritou ao longe.

Dei um sorrisinho e entrei em minha sala. Só Eddie Munson pra conseguir me animar desse jeito. Ele me fazia esquecer de todos os problemas.

O que ele planejava fazer hoje? Ele com certeza não me chamaria pra um de seus shows por nada. Tinha um motivo por trás. A sorte dele é que eu estava curiosa, então iria sim.

Depois da escola, fui ao meu emprego. É, eu comecei a trabalhar. Steve não ia conseguir sustentar a casa sozinho com um emprego em uma locadora.

Eu trabalhava em uma lanchonete. Em partes, era bem divertido, na verdade. Nós servíamos os clientes enquanto andávamos de patins. O salário não era lá essas coisas, mas ajudava muito.

Infelizmente, as vezes acontecia algumas inconveniências. De clientes mal educados, ou tombos no patins. Mas nada é perfeito, não é?

Me entristeci ao lembrar das palavras de meu pai. Talvez ele realmente tentou me educar certo, só foi da maneira errada.

Cheguei em casa e fui me arrumar. Considerando que agora, eu morava perto do Eddie, ele não demoraria muito pra chegar.

Coloquei uma calça preta rasgada nos joelhos junto com uma meia arrastão, cropped branco e uma blusa de frio por cima.

Escutei a buzina de sua van e fui ao seu encontro. Ele me recebeu com um selinho e abriu a porta do carro pra eu entrar.

- Obrigada.

- Ao seu dispor, princesa.

Fomos até o local, onde ele se encontrou com sua banda e foi até o camarim pra se preparar.

- Boa sorte.

- Obrigado, linda.

Sentei em uma das mesas e pedi por um refrigerante e batata frita. Esperava ansiosamente por sua apresentação.

Quando ele apareceu, seus cabelos macios voavam e ele sorria enquanto tocava sua guitarra que tanto combinava com ele. O show foi incrível, eu amava ver ele tocando e cantando. Um porto-seguro.

- A última música eu quero dedicar à uma garota especial. Alysson, essa é pra você.

Me arrepiei ao ouvir meu nome. Por algum motivo, me senti feliz por ele ter falado ele na frente de todos. Eu estava com um sorriso de orelha à orelha. Estava tocando nossa música.

Os amigos dele tocavam enquanto olhavam para ele orgulhosos. E Eddie, não tirava os olhos de mim nem por um segundo. Eu tinha muita sorte de ter esse garoto.

me and your mamaOnde histórias criam vida. Descubra agora