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11 de julho de 1986

Quando acordei, vi Eddie encolhido na poltrona do meu lado, dormindo com um cobertor azul. Ele estava exatamente assim minutos antes de me pedir em namoro na delagacia, mas no chão.

Eu queria me levantar para ir ao banheiro, mas tinha uma agulha de soro na minha mão e um aparelho de oxigênio. Ele fazia um barulho bem chato, não sei como consegui dormir com isso.

Olhei para os lados e vi um relógio. Eram 08:23h. Cedo, mas eu estava morrendo de fome. Me sentei na cama e ouvi a porta do quarto se abrir devagar.

- Bom dia. Dormiu bem? - Perguntou uma das enfermeiras.

- Acho que sim.

Ela ajeitou alguns aparelhos e me ajudou a ir ao banheiro. Era a primeira vez que eu me levantava em 8 dias. Sentia minha pernas bambas e só aí pude ver os curativos de minhas feridas.

Por incrível que pareça, o estrago maior foi em minhas pernas. Nada que não pudesse ser cicatrizado.

Quando voltei para o quarto, Eddie já estava acordado. Eu consegui dar alguns passos sozinha, o que era muito bom. Ele me observava admirado e eu sorria para o mesmo.

A enfermeira me analisou mais um pouco, conferindo se tudo estava bem e foi buscar algo pra eu comer.

- Bom dia, princesa.

- Bom dia, Eddie.

- Conseguiu andar. Parabéns. - Disse me olhando orgulhoso.

Eu olhei para minhas pernas e toquei nos curativos. Ardeu um pouco, mas notei que já estavam quase cicatrizados.

- Não está tão ruim assim, né? - Perguntei.

- Tá brincando? Não! Eu diria radicais.

- Bobo. - Ri.

- É sério! Sabe, quando eu era menor, meu sonho era ter uma cicatriz pra mostrar pra todo mundo como eu era da hora. E olha quantas você tem agora! Eu tô invejando muito.

- Então eu sou da hora?

- Muito. - Rimos.

- O que aconteceu nesse tempo que eu estava dormindo?

- Ah, você sabe... O de sempre. Briga política, jogadores de futebol se matando e tal.

Ele puxou um jornal da poltrona. Notei que era o mesmo que ele estava lendo ontem quando eu acordei. Abri e dei de cara com a notícia da minha casa incendiada. Resolvi ler aquilo. Eddie me olhava com preocupação.

Haviam fotos que jornalistas malucos tiraram quando Steve me tirou de dentro da casa. Logo embaixo estava escrito:

"Já faz uma semana que aconteceu o incêndio na casa dos Harrington's. Hawkins deve estar, definitivamente, amaldiçoada.
Dois sobreviventes, dois filhos. A mais nova, Alysson Harrington, está hospitalizada desde o ocorrido. Não sabemos quando ela pode acordar e qual seu estado atual."

- Eles já sabem que eu acordei?

- Ainda não, mas vão dar um jeito de descobrir. Seu irmão se negou a dar entrevista, então eles estão bem putos.

- Você acha que minha vida pode voltar ao normal sem ter jornalistas bravos no meu pé?

- Não. Quando você estiver com o cabelo grisalho, com uns 54 anos, eles vão até sua porta pedir pra você dar entrevista em homenagem aos 36 anos do ocorrido.

Ri de sua fala. Pensei um pouco e impressionantemente, de alguma maneira, a conta dele estava certa.

- E como você está? Acho que não perguntei isso desde que eu acordei, me desculpa.

- Tudo bem. Eu continuo perfeitamente perfeito. - Riu.

- É sério, Munson. Você acha que eu não percebi sua mão com esses machucados? O que aconteceu?

- Ah, isso... Não é importante. - Disse sorrindo.

- Se meteu em briga?

- Talvez. Mas eu não me machuquei, tá bom? Fica tranquila.

- Da hora.

- Da hora. - Respondeu me imitando.

Passamos um tempo conversando e rindo. Algumas vezes, a enfermeira voltava pra checar se tudo estava bem. Até que chegou um momento em que eu me sentia melhor e ela tirou o soro.

Agora, eu só estava com o oxigênio. Mas eu ainda me sentia dependente dele. Meus pulmões inalaram muita fumaça naquele dia.

Senti minha cabeça doer e fui dormir mais um pouco para melhorar. Mais uma lembrança surgiu enquanto eu estava dormindo.

Eu me via naquela casa que já estava caindo. Eu estava com um pano molhado no nariz, tentando abafar a fumaça.

Eu corria para a saída, mas ouvi um grito de mamãe. Na mesma hora fui em direção à ela, mas era tarde demais. Um pedaço grande de madeira havia caído em cima dela e eu não conseguia ir até a mesma por causa do fogo.

Eu a gritava desesperadamente. Não podia acreditar que ela morreria. Lágrimas escorriam pelo meu rosto se misturando com o suor.

Sem pensar muito, atravessei o fogo e fui até ela. Minhas pernas se queimaram, mas não doía mais. Me sentei no chão junto a ela, a segurando e tentando tirar ela dali.

Escutei mamãe dizendo pra eu ir embora e correr pois eu não tinha tanto tempo. "Eu amo você e seu irmão, Alysson". As palavras dela ecoavam pelos meus ouvidos.

Ouvi um estrondo e percebi que mais um pedaço de madeira iria cair. Corri dali o mais rápido que eu pude, deixando a mulher que me deu a vida para trás.

Eu estava sem saída. O fogo havia me cercado e estava ficando cada vez mais difícil de encontrar o ar. Eu sentia minha visão ficar embaçada, mas continuava correndo pela minha vida.

Infelizmente, não consegui fazer isso e caí de barriga no chão, que estava em chamas, me queimando mais. Eu precisava de só mais alguns passos até a porta. Tentava me levantar e falhava miseravelmente.

Quando eu ia desistir de tudo, vi Steve entrando pela porta e gritando meu nome. Ele veio correndo em minha direção, tossindo, e conseguiu me levantar. Eu gritei de dor por ele encostar em minha queimaduras, mas ele me levou pra fora daquela casa rapidamente.

A lembrança se encerrou e eu voltei a ver claramente as paredes brancas do hospital. Minha respiração estava descontrolada. Eddie me abraçou fortemente tentando me acalmar.

- Ei, calma. Foi só um pesadelo, tá tudo bem.

Eu chorava em seu peito e ele olhava para os lados procurando alguém para me ajudar. Mas naquele momento, era só eu e ele. Ninguém mais viria.

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atualizei galerinha 🤙

queria dizer que tô amando ler os comentários de vcs, continuem KEJAKSK

me and your mamaOnde histórias criam vida. Descubra agora