Epiphany

Capítulo Seis

Sakura abre o guarda-roupa alcançando uma toalha, as palavras do homem de cabelos negros ainda ecoando em seus ouvidos. Captou os dois sentidos implícitos na frase, mas mesmo depois de pifar seus neurônios não conseguiu chegar à uma conclusão efetiva sobre qual delas fora sua intenção. Ele tentou confortá-la ou simplesmente disse que seu pai entraria em contato pois se não o fizesse ele a mataria? Para seu lado racional era claro qual das duas deveria tomar em consideração, mas seu lado tolo que preferia mentir e iludir a si mesma agarrou com todas as forças a primeira opção.

Não queria morrer e não queria pensar que iria morrer.

Suspirou deitando na cama e ajeitando a toalha entre as pernas, a rosada sentia seu baixo ventre se comprimir em dores fazendo-a deitar de lado e abraçar os joelhos tentando inutilmente achar uma posição que aliviasse o desconforto.

Não havia muito o que pudesse fazer, se estivesse em sua casa uma hora dessas, após estar devidamente medicada, teria para si uma xícara de chocolate quente e leria um bom livro diante do calor aconchegante da lareira. Infelizmente, em seu cativeiro só lhe resta rolar de um lado para o outro e encarar as paredes.

Deveria usar desse tempo para tentar encontrar uma solução para sua situação. As suas três possibilidades anteriores não lhe apeteciam nem um pouco, por enquanto estava utilizando da primeira opção, mas não se sentia nada confortável em ficar o tempo todo apenas enrolada em um pedaço de pano.

Também tinha mais uma possibilidade no momento, já que seu pijama, agora seco, jazia dobrado em uma das poltronas: poderia vesti-lo e usar apenas papel higiênico. Mas esta também não lhe parecia uma boa opção, sim de fato estaria mais coberta e consequentemente mais segura, mas e se manchasse seu pijama? Era seu único par de roupas e duvidava que apenas papel conseguisse conter seu fluxo abundante.

Choramingou na cama miserável de sua condição, ainda não se conformava que isso estava mesmo acontecendo, quantas pedras jogou na cruz para merecer tudo isso que estava acontecendo consigo? É tão injusto!

Com isso restava-lhe suas outras duas possibilidades: pedir uma tesoura ou pedir por absorventes. As duas tinham uma coisa em comum que odiava: o homem de cabelos negros ficaria sabendo que ela está naqueles dias. Levemos em consideração de que ele se disponha a acatar seu pedido por uma tesoura, mas é mais do que óbvio que não dará nada à ela enquanto Sakura não lhe disser o motivo por trás disso. Poderia dizer que quer cortar os próprios cabelos... é uma ideia, mas que desculpa usará quando aparecer ainda com o cabelo longo? Não queria ter de cortá-los e com o pouco que conhecia do homem, tinha suas convicções de que ele ficaria no quarto com ela, vigiando-a e aguardando para levar a tesoura de volta.

E por fim suspirou, pensando na última possibilidade, esta que possuía o mesmo problema da primeira: ele saberia! A única diferença é claro, é que absorventes são melhores que pedaços de pano e seria muito mais confortável para ela. Mas nessa opção além do fato dele descobrir ainda por cima ela mesma teria que pedir.

Pedir! De sua própria boca!

Sentia suas bochechas queimarem apenas com o pensamento de ter que pedir algo assim à um homem. Pedir algo assim à um homem desconhecido. Um homem desconhecido que é seu sequestrador — riu nervosa em descrença.

E se ele apenas virasse as costas caçoando de sua desgraça? Não duvidava que seria plenamente capaz de fazer algo assim. Sakura morde os lábios brincando com os próprios dedos, ele era um homem formado de vinte e oito anos deveria saber que mulheres sangram e que é algo biológico e natural.

Mas deveria esperar que um homem que vai por aí sequestrando e matando pessoas possua algum tipo de empatia? A resposta era bem óbvia para seu lado racional. Não que ele houvesse maltratada-a desde que chegou ali, mas também a moça nunca deu-lhe motivos para tal, ela nunca perguntou além do necessário, nunca o desafiou e muito menos exigiu ou pediu coisas, ou seja nunca torrou sua paciência.
Seria correto tomar por garantido de que ele continuará assim uma vez que ela começar a pedir por coisas? Mesmo que tal coisa seja um item tão básico e essencial para qualquer mulher?