Sasuke se abaixou brevemente, colocando Sakura no chão. A moça sentou na beirada da cama, antes de se arrastar pelos lençóis e ir até a cabeceira, se escorando ali e abraçando a perna boa junto ao peito.
O homem recolheu as próprias mãos nos bolsos de sua calça, ainda de pé no meio do quarto. Observou em silêncio o olhar perdido da menina, este que se encontrava focado em algum ponto da parede branca ao seu lado.
— Está silenciosa.
Obviamente compreendia que a rosada estava ainda digerindo as últimas informações que ouviu antes na sala de comunicação. Contudo, também tinha conhecimento — pelo o pouco tempo dividido em sua companhia — que a moça tinha uma grande dificuldade em controlar a própria língua, tanto devido à sua curiosidade exarcebada mas principalmente pelos seus momentos de ápices de fúria.
— Me deixa sozinha. — sussurrou, virando mais o rosto em direção à parede, querendo esconder-se dele.
Não imaginou que quando entrasse na sala o assunto que Kizashi queria tratar com tanta urgência fosse uma pequena mudança no plano. Melhor dizendo, uma exigência de mudança no plano.
Tinha para si que o homem ligava para checar as condições da filha, portanto, não se importou em deixá-la no ambiente com a chamada no viva-voz. Mas o velho era mesmo um filho de uma puta, por um momento se perguntou se ele realmente tinha uma filha ou apenas um troféu que escondia para mostrar que ainda estava um passo à frente.
— Eu não aceitei. — afirmou ele.
Tudo poderia ruir. Todo o seu plano. Meses perdidos para encontrá-la. Tudo, num piscar de olhos. Não podia ser. Kizashi estava jogando verde querendo colher maduro, não havia outra possibilidade. Ele não seria tão louco ao ponto de arriscar a vida dessa criança para saciar um mísero capricho seu.
Desde o início, Sasuke sabia que Sakura seria a sua carta na manga. Era nisso que se escondia o êxito de todo o seu plano. Entretanto, teria ele dado peso demais para o que essa menina realmente significa para o Haruno? E não, ele não estava falando sobre amor e todas essas tolices sem sentido. Orgulho. O orgulho esbanjado no sacrifício daquele que foi ferido. Era sobre isso que ambos os reinos fracassados se erguiam.
Sakura era a sua certeza de que tudo seria feito à sua maneira, tinha certeza que Kizashi não arriscaria manchar-se na vergonha outra vez, era narcisista demais para isso. Então, por quê? Qual informação não foi minimamente inserida em todas as suas previsões? O que foi que ele não conseguiu enxergar? Qual variável ele não foi esperto o suficiente para inserir em todas as ramificações de possibilidades que ele trabalhou por meses? Era um absurdo, para si, inacreditável.
Sasuke possuía apenas três opções.
A primeira é que o velhote está realmente jogando verde. Talvez tenha esperanças de que ele ceda à exigência se conseguir fazê-lo acreditar que não está tão no controle de tudo tanto quanto gostaria de fato.
A segunda, é que subestimou a loucura de Kizashi Haruno. Subestimou completamente. Mas e o orgulho? Ah, não, aquilo dificilmente. Conhecia o desgraçado, não tinha lógica. A não ser que esse bastardo odeie essa criança ou tenha desistido da possibilidade de reavê-la ainda com vida, todo o resto não faz o mínimo sentido.
E bem, ele também possuía a terceira opção: aceitar a exigência. Mas até que ponto ele estava disposto a ir em prol disso tudo? O quanto estava disposto a sacrificar de si mesmo para regozijar do fim? Talvez no fundo Kakashi tenha razão. Nem mesmo o diabo aceitaria a sua alma depois disso.
Soltou o ar pela boca, ainda tendo em seu foco a moça encolhida na cama. Deveria dizer algo? Normalmente é ela quem vai atrás de informações com a sua língua grande e afiada, logo se não possuía nenhuma pergunta sobre o que ouviu na sala, porquê deveria ele explicar-lhe algo de sua própria boa vontade?
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Epiphany
FanfictionSakura, que fora criada a vida inteira em uma redoma de vidro, é sequestrada por Uchiha Sasuke. Intrigas, segredos, acordos, horrores do crime e uma inocente. A história conta a epifania de Sakura, onde descobrirá as verdades sobre si mesma, seu pa...