Capítulo Oito

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Sakura escovava delicadamente os cabelos longos enquanto olhava pensativa para além das grades, deveria ser de manhã bem cedo pois o sol ainda apontava tímido no céu. Tinha pra si que esse já deveria ser o quarto dia em que estava presa nesse lugar, todavia, não poderia afirmar com clareza, já que sua noção de tempo está um pouco embaralhada.

Não sentia mais cólicas devido ao comprimido que tomara e agora vestia o pijama novo, sentindo-se mais confortável. Estava bem. Na medida do possível para uma pessoa que fora raptada claro, mas sim, estava bem.

Suspirou, olhando a câmera de segurança, estava cansada de ficar trancada naquele quarto, queria sair, nem que seja para sentir o sol tocar sua pele por alguns minutos.

A moça fora criada em uma vinícola, estava acostumada à correr com os pés descalços entre as plantações de uva, deitar na grama para ver as estrelas, ou ficar sentada à beira do lago lendo um bom livro. Sentia-se sufocada ali dentro, aos poucos todo o medo que estava sentindo virava angústia em seu coração, e ficava sempre mais melancólica a cada dia que passava ainda presa no quarto claustrofóbico.

Tinha medo de morrer, e agora tinha medo de morrer, principalmente, sem antes conseguir sentir de novo em sua pele as coisas que mais ama: como a garoa de uma manhã fria, ou o cheiro de terra molhada em uma tarde chuvosa, ou talvez o vento em seus cabelos enquanto galopa com a sua égua Katsuyu.

A moça nunca teve muita liberdade, logo não havia muitas coisas que amasse fazer, então gostaria de ainda ter tempo e, possivelmente, conquistar sua independência para descobrir.

E no momento, por estar presa nesse cubículo, sentia tanta falta da sua vinícola, sentia falta até de Chiyo, que vivia sendo careta e impedindo-a de fazer tudo o que queria. Sentia falta de seu amado pai, como jamais sentira antes.
Via-o cerca de duas ou três vezes por mês desde que tem memória, isso até alguns meses atrás, quando ele lhe buscara dizendo que passariam um tempo juntos.

Lembra-se que nunca se sentiu tão feliz em sua vida e pensava, ingenuamente, que iria finalmente deixar sua prisão para viver a sua vida livremente, mas então tudo isso acontece e agora se vê ali, trancafiada novamente, no entanto, em um lugar mais pequeno. Muito mais pequeno.

Sakura sente-se como se fosse um peixinho dourado, que quer com todas as suas forças poder nadar pelo mar e explorar até as profundezas, mas infelizmente, sua natureza é viver em um aquário e pelo jeito, morrer também.

Não queria morrer de jeito nenhum, mas seu medo da morte estava se transformando em tristeza, pois tem a impressão de que não viveu nada ainda. A rosada recém completou seus dezoito anos, mas se alguém lhe perguntasse alguma experiência que ela tenha vontade de repetir, ela não saberia responder, pois nunca fez nada. O que ela poderia dizer? Talvez reler seus livros preferidos de Jane Austen? Ou o dia em que ganhou Katsuyu?

Suspirou, encostando a testa na grade. Sua vida inteira fora um completo desastre e agora o seu fim também seria, é tudo tão triste, ela é tão nova ainda.

Olhando o jardim, algo chamou-lhe a atenção e então forçou a vista para enxergar melhor, confirmando ser mesmo o homem de cabelos negros lá embaixo. Ele estava acompanhado por uma mulher, a rosada reconheceu-a no mesmo instante, aquela mulher, a mesma mulher que encontrara no corredor certa vez. A mulher que fingiu não saber que tinha uma outra mulher, vítima de sequestro, dentro dessa casa.

O rosto da rosada se fechou em desgosto, esperava por ajuda mas a outra simplesmente fingiu não ver nada, deve ser a mulher de um deles para compactuar com algo assim. Observou os dois conversarem até sumirem por entre as paredes da construção. Chiyo dizia que certas pessoas se merecem, esse poderia ser um dos casos.

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