Capítulo Sete

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Sakura suspirou, juntando o resto que sobrou de sua dignidade após a saída do homem do quarto. A moça não sabia onde estava com a cabeça quando pensou que ele poderia fazer algo por ela.

Custava a crer que fora ingênua o suficiente para imaginar, por um segundo sequer, que um sequestrador de pessoas teria humanidade o suficiente para simpatizar com a sua miserável situação.

Situação essa que ele mesmo causou, pois se estivesse em casa, na segurança do próprio lar, nada disso estaria acontecendo!

Deitou-se na cama tendo como companhia apenas sua própria vergonha, jamais imaginou que um dia teria de contar suas intimidades à um homem desconhecido e ainda por cima que esse mesmo homem, após o conhecimento de sua condição, se recusaria a oferecer qualquer tipo de ajuda!

O que pediu de tão impossível assim que ele não poderia fazer? Não dignou-se nem mesmo de lhe responder, retirando-se do quarto como se ela possuísse uma doença contagiosa! Só queria uma tesoura, ele poderia ficar controlando-a enquanto utilizava-a, não veria problemas, a esse ponto já não mais ligaria pois o homem já sabe dessa lastimável situação de qualquer maneira.

Revirou-se na cama sentindo seus olhos arderem, isso tudo era tão injusto!

Era genuinamente uma boa garota e nunca fez mal a ninguém, então por que estava sendo castigada dessa forma? Está pagando alguma penitência por algo feito em vidas passadas? Só podia ser, estava pagando pelos pecados de uma sua outra reencarnação.

Sentiu quando algo gelado encostou no seu pé, fazendo-a dar um pulinho na cama, a moça sentou-se rapidamente afastando as pernas, para então checar o que era aquilo.

Seus olhos caíram e suas sobrancelhas se juntaram ao aproximar-se do objeto, pegando-o entre as duas mãos. Seu polegar acariciou a escrita no rótulo da embalagem, absorta.

Era a garrafinha de suco de maracujá que havia deixado pela metade na bandeja. O homem de cabelos negros provavelmente colocou-a na cama para que pudesse terminar de bebê-la em algum outro momento.

Sakura engole em seco com a confusão de sentimentos dentro de si, o que isso deveria significar? Quer dizer, isso deveria significar alguma coisa? Deveria dar qualquer tipo de valor a essa ação dele? Deveria levar em consideração algo assim?

O moreno trazia-lhe a comida e não olhava-a com segundas intenções, até mesmo quando a moça se encontrava apenas de toalha. Ele estava sempre calado, mas ela também não é como se fizesse qualquer questão de conversar, os dois estavam sempre calados.

Mas pensando bem ele pelo menos não fazia nada que pudesse machucá-la, quer dizer pelo menos não o fez ainda.
Mas deveria dar qualquer peso à essa atitude em particular? Um peso diferente de qualquer outra que ele já tenha tido? Era verdade que ele alimentava-a mas se não o fizesse, mais cedo ou mais tarde, morreria de fome e se ela for mesmo a galinha dos ovos de ouro como imagina que seja, certamente ele não o faz de genuína intenção por ela e sim devido aos seus próprios interesses sórdidos. Céus fora sequestrada, era o mínimo que deveria fazer, alimentá-la!

Talvez só quisesse evitar o desperdício afinal ela já tinha bebido da garrafa, riu amargurada, um sequestrador e possível assassino com preocupação pelo meio ambiente, era só o que faltava mesmo.

Esse gesto não significa nada, não depois dele ter cruelmente ignorado seu pedido de ajuda pouco depois. Ele era ruim! — constatou.

Desdenhou de seu sofrimento não tendo um mínimo de empatia para com ela. Odiava-o! Faria ainda mais questão de encarar bem a sua cara toda vez que ele aparecesse por ali, para não perder nenhum detalhe e poder descrevê-lo o mais idêntico possível em seu retrato falado. Faria com que ele apodrecesse na cadeia pelos seus crimes!

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