Capítulo Dez

235 25 63
                                    

Sasuke encosta a porta do quarto e caminha lentamente até a poltrona. A bandeja que havia deixado ali, com o seu desjejum, ainda estava intacta. Assim como estava intacta a bandeja de seu jantar da noite passada, quando fora substituída, naquela mesma manhã, pela do café.

A moça não estava se alimentando.

Apoiou o objeto na poltrona vaga, encarando as costas da garota deitada na cama. Estava assim desde ontem, quando descobrira, por conta própria, que tinha sido enganada a vida inteira pelo pai.

Talvez esteja se perguntando como pôde não ter notado antes, toda a sujeira que seu pai estava metido, não a culpava, de certo, Kizashi era um homem ardiloso e Sakura era apenas uma criança ingênua e facilmente manipulável, na verdade, poderia dizer-se surpreso pelo fato de ela ter conseguido descobrir sozinha, apenas usando de suas próprias conclusões.

Não tem dúvidas de que seu silêncio tenha apenas confirmado todas as suas suspeitas, mas não soube exatamente como reagir diante de uma criança chorona que esperava por uma resposta que a faria chorar ainda mais. Então decidiu consigo mesmo que, talvez, o seu silêncio fosse uma melhor opção.

Mas refletindo bem enquanto observa seu estado, tem para si, que provavelmente ela gostaria que ele tivesse mentido. E ele o teria feito, sem muitos problemas, se soubesse de sua predileção, pois não é algo que o toca particularmente de toda forma.

Mais tarde, na noite de ontem, quando viera trazer-lhe o jantar, pegou-a chorando nessa mesma posição. Então Sasuke, sem saber exatamente como prosseguir em tal situação, apenas deixou a bandeja e se retirou do quarto. Julgou adequado que ela tivesse a própria privacidade em um momento de fraqueza.

Não voltou mais naquela noite, não tinha motivos para isso, ele ia até seu quarto somente quando deveria levar à ela sua alimentação, entretanto, não possuía dúvidas de que a moça deveria ter chorado a noite inteira.

A história se repetiu naquela manhã, quando trouxe-lhe o desjejum, a rosada não mais chorava , todavia, continuava deitada na mesma posição. Não podia ver seu rosto mas sabia que estava acordada e muito provavelmente, com olhos e nariz vermelhos. Talvez apenas quisesse esconder sua dor, ou talvez quisesse apenas ficar sozinha e não ter que falar com ninguém, supôs que muito possivelmente, se tratava das duas coisas. Então assim como na noite anterior, deixou a bandeja e retirou-se do ambiente.

Agora, trouxe-lhe o almoço e encontrara a moça nas mesmas exatas condições de antes.

Aproximou-se da cama fitando as costas da menina, seus cabelos longos se misturavam com o emaranhado de lençóis e travesseiros, estava claramente acordada mas ignorava a sua presença e, principalmente, o fato de que estava ali para cuidar de sua alimentação.

A situação estava passando dos limites, então considerou, consigo mesmo, se deveria tomar alguma providência, poderia tranquilamente obrigá-la a sair da cama e se nutrir. Mas pelo pouco que a conhecia, não duvidaria que ela começasse a chorar entre uma garfada e outra, comendo das próprias lágrimas.

Se continuasse assim, a moça entraria em estado de desnutrição logo logo. Às vezes se pergunta como um corpo tão pequeno pode conter tanta água, como consegue chorar tanto?

Com um suspiro voltou em direção à bandeja, pegando-a em mãos e seguiu de volta para a cama. A garota nem mesmo se mexeu, portanto, Sasuke senta na beirada ao seu lado, colocando a bandeja no colchão diante de si.

Sabia que ela estava acordada, podia notar pelo movimento irregular de sua caixa torácica, mas preferia fingir estar dormindo achando que, assim como das outras vezes, ele também deixaria o cômodo.

EpiphanyOnde histórias criam vida. Descubra agora