Capítulo Dezenove

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Sakura sentou na cama, sentindo sua perna engessada latejar e então passou lentamente a mão em seu joelho, acariciando-o, como se isso pudesse amenizar um pouco a dor. Teve de usá-la algumas vezes para fazer o caminho da cozinha até seu quarto, esforço esse que não deveria ter sido feito.

Suspirou, pressionando os lábios um no outro. Era para ter sido apenas uma pequena fuga, ainda estava tentando entender onde foi que as coisas saíram tão fora de controle assim.

O homem de cabelos negros fecha a porta, permanecendo de costas para a rosada por bons segundos. Sakura apenas observa suas costas, juntando as mãos em punhos no próprio colo, sem saber o que dizer ou se sequer tinha permissão para dizer alguma coisa.

Sentia os próprios olhos úmidos e tentava respirar calmamente, controlando a sua respiração, pois sabia que iria se derreter em lágrimas a qualquer momento. Tinha certeza que seria punida, pôde ver nos olhos dele quando foram dirigidos a si na cozinha, mas agora o seria por algo que nem sequer chegou a fazer.

Não sabe o que aquele homem disse, ela não fez nada demais, não entendia o porquê de todo aquele alvoroço. Ela só estava no jardim, fora de hora, sim, mas aquele segurança agiu como se ela estivesse tentando matar alguém.

Então o moreno se virou, passando a mão esquerda nos cabelos e bagunçando-os ainda mais.

— Prefere ficar trancafiada? — a voz rouca soou pelo cômodo.

Sakura balançou a cabeça, sem coragem de olhá-lo e então mordeu o lábio inferior, já sentindo a primeira lágrima deslizar por sua bochecha.

— Responda. — exigiu.

— Não. — respondeu baixo.

— O que esperava obter com tudo isso então? — perguntou novamente.

Sakura permaneceu calada, realizou o fato de que responder suas motivações em voz alta soava estupido demais, até mesmo para ela. Sentia-se envergonhada.  Era para ele acreditar sim que ela estava tentando fugir, mas nunca pensou que os seguranças agiriam daquela forma, deram-lhe até mesmo um mata-leão, muito menos imaginou que ele próprio ficaria tão nervoso. Era pra ser apenas uma pequena tentativa de fuga, apenas para tirar uma sua dúvida. Agora, além de tudo, ainda receberia uma punição exemplar. Olhando pelo lado positivo, pelo menos suas dúvidas seriam sanadas. Era patética.

— Eu não ia fugir. — disse a verdade, em seu tom baixo.

O homem riu em deboche, desacreditado.

— Tentou roubar um fuzil porquê então?

Sakura levantou o olhar, completamente em choque. Ela nunca tentou roubar uma arma, quando foi isso? O homem simplesmente a atacou do nada, sem ela ter feito nada. A rosada só estava no jardim, claro, ela esteve tentando fugir, mas no momento em que foi avistada por aquele segurança, Sakura já havia decidido desistir daquela história toda e voltar para dentro da residência.

— Eu... não... — sussurrou no seu silêncio, tentando se lembrar em que momento isso aconteceu. O segurança mentiu na cara dura sobre o acontecido, mas por quê? — Eu não tentei... eu juro.

O homem de cabelos negros mirou-a por longos segundos, sério, as duas mãos apoiadas no quadril. Sakura encarava-o com olhos angustiados, não tinha nem sequer coragem de fazer algo assim, nunca tocou em uma arma em toda a sua vida.

Um longo suspiro foi ouvido no cômodo e o  moreno abaixou a cabeça, parecia pensar sobre o que fazer, talvez sobre qual punição ela deveria receber. Sakura aproveitou o momento para enxugar as bochechas e os olhos. Agora entendia o porquê de todo aquele alvoroço, o segurança estava provavelmente gritando que fora atacado e que a moça tentou desarmá-lo de alguma forma. Não entendia em que momento teria feito algo assim, o máximo que fez foi tentar se apoiar nele quando escorregou.

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