Capítulo Vinte e Dois

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Viu a moça se remexer ao seu lado, estava compreensivelmente nervosa. E por algum motivo, isso o deixava, de certo modo, desconfortável também. Pegava-se perguntando se cabia realmente à ele tirar  a faixa de inocência que cobria os seus olhos verdes. Afinal, que direito ele tinha? Já não havia lhe causado mal o suficiente antes mesmo que ela soubesse escrever o próprio nome? Por que deveria ser ele a catapultá-la para aquele universo sujo e podre do qual faziam parte? Deixá-la a mercê de sua própria ignorância não seria a melhor coisa que ele poderia fazer por essa criança?

Sentiu os dedos gelados da moça tocar sutilmente a sua mão.

— Poderia não fumar agora, por favor?

Não tinha notado quando suas mãos abriram a carteira de cigarros, procurando, por conta própria, a saída mais fácil a todo esse estresse.

Lhe encarou pelo canto de olho, vendo os olhos esmeraldas acompanhados de um leve franzir de sobrancelhas, mas ainda sentindo aqueles dedos finos tocarem o dorso de sua mão. Provavelmente, não queria que ele se distraísse de seu questionário.

Em um suspiro entediado, jogou o objeto em algum canto do colchão ao seu lado, ainda incerto sobre o rumo que aquela conversa levaria.

— Para de pensar e me responde. O que acontecerá se você não aceitar o que meu pai propôs?

— Eu já disse. Ele está jogando verde. — respondeu saturado, apoiando o peso do corpo com a palma da mão no colchão atrás de si.

— E se não estiver? — tentou soar firme, mas Sasuke notou claramente a hesitação em sua voz.

Estava com medo.

— Ele está. — reafirmou, não sabe se para ela ou para ele próprio.

Ele tinha que estar, como ele ousava afrontá-lo dessa maneira e ainda colocar essa criança na reta sem o mínimo de hesitação? Sua própria filha em troca de um simples capricho. Inferno. Teria ele, desde o início, errado em todas as suas suposições?

— Você vai me matar se ele levar isso até o fim?

— Você acha que seu pai seria capaz disso? — devolveu.

A moça apertou os lábios, encarando os seus dedos trêmulos.

— Eu não sei mais o que eu acho. — sussurrou baixinho.

Era compreensível. Como poderia ela, depois de ouvir da boca do próprio pai que se seu sequestrador não acatasse as suas novas condições, ele poderia simplesmente matar a sua filha pois não estava mais disposto a continuar com o plano.

Tudo isso apenas para saciar um seu sádico desejo, um mero capricho. Tinha noção da confusão mental que provavelmente se apossava da cabeça da moça.

— Eu não quero morrer. — sussurrou, quase que em forma de pedido.

Sasuke suspirou, o seu tempo estava acabando. A cada dia que passava a ampulheta de seu sucesso se reduzia drasticamente. A última coisa que precisava agora era que o desgraçado de Kizashi começasse a lhe dar trabalho. Mas o que mais poderia fazer? O que poderia fazer caso o velho estivesse realmente sério sobre sacrificar a filha para obter o que tanto almejou por anos? Talvez, ele realmente tenha dado peso demais para os sentimentos de um narcisista louco, seja ele orgulho, humanidade ou qualquer outra coisa.

— Você... — a voz fina e hesitante ecoou pelo cômodo — poderia aceitar.

Sasuke lhe encarou sério, seus olhos severos e a boca em linha reta, antes de se levantar da cama e se afastar da garota.

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