Um Acaso de Nós Dois

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 "Bem-vindo ao Rancho McFolling"

No meio do maldito deserto escuro de asfalto que eu me encontrava, a única coisa que meus olhos alcançaram foi uma placa suja e amarelada do tempo, numa penumbra distante, a oeste de onde eu estava.

Na merda.

A independência muitas vezes custava caríssimo, podia ver o quanto o meu pai tinha razão ao me dizer aquilo bem naquele momento em que eu me encontrava. Fodida!

Sempre me recusei a ter motorista ou algo parecido por achar que seria ridículo e arcaico, mas aquele pensamento se esvaía pelo meu cérebro ao olhar o maldito pneu do carro furado bem na minha frente. Um maldito carro alugado caríssimo, justamente para me poupar de problemas como aquele.

Me senti ridícula por passar por uma situação tão vexatória que em outro momento, contada por outra pessoa, seria motivo de muito riso. Mas era eu quem me encontrava no meio do nada com literalmente dois pneus tão fodidos quanto eu estava.

Quem furava a droga de dois pneus?

Depois de quase ter feito um buraco no chão ao andar de um lado para o outro por minutos incontáveis, consegui um pequeno sinal de telefone bem no meio da rodovia, seria quase cômico se eu fosse atropelada tentando pedir ajuda.

Me encontrava naquele lugar por ter ido a um desfile organizado pela minha agência, e a única pessoa que eu poderia pedir ajudar naquele momento era para um dos maquiadores que tinha ido comigo. As modelos em sua maioria iam para noitadas intermináveis e dificilmente poderiam me ajudar.

O telefone chamou por mais de um minuto até cair na caixa postal. E quando eu tentei ligar para qualquer outra maldita pessoa a tela ficou preta, sem mais nem menos. E eu comecei a rir de mim mesma, porque em situações como aquela eu só conseguia rir sem parar. Até o desespero bater novamente.

Olhei novamente para a placa do rancho e forcei meus olhos a enxergarem um pouquinho, embora precisasse de óculos, nunca gostei de como eu ficava parecendo uma tiazona com eles.

480 metros era a distância entre mim e o rancho desconhecido, que podia ou não ser habitado. E do outro lado, bem perto dos meus olhos. O maldito carro com dois pneus furados. Peguei minha bolsa e me certifiquei de que o carro estava trancado. Partindo para oeste, onde uma pequena chama de esperança me levaria até o rancho McFoulling. Ou não!

Estava com o meus sapatos na mão, depois de constatar que se trava de uma horrível estrada de areia mole e úmida. Quase 500 metros não era para ser uma distância tão grande, se não fosse a enorme quantidade de buraco que eu tive que passar. Claramente se tratava de uma estrada não utilizada, porque era inviável que um carro passasse por ali.

Ao fim da minha longa caminhada, encontrei uma porteira de madeira entreaberta, o mato praticamente cobria tudo, e bem no final do pequeno caminho de areia que se formava entre a grama alta, havia uma enorme casa com uma ou duas lâmpadas acesas. Eram nove da noite.

A minha mochila com os equipamentos de trabalho parecia pesar mais que eu. Mais aquela sensação era culpa da exaustão constante e do sedentarismo que me assolava desde sempre.

Ao chegar a porta do rancho, havia uma outra placa com informações sobre preços de animais. O silêncio só era cortado pelo barulho dos insetos. Enquanto eu lia, sem entender o porquê, a porta foi aberta eu pude ver a silhueta de homem alto abrindo a porta com um baque alto.

- Quem é você? - a voz grossa perguntou.

- O meu nome é Josephine, eu... o meu carro...

- Você está perdida? - ele me interrompeu.

Müller - Contos de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora