Estava tentando entender em qual ponto a minha vida tinha virado aquele grande questionamento. Eu não conseguia pensar direito com tanta coisa ao mesmo tempo. Sentia vontade de sumir por vários dias e voltar quando tudo estivesse bem, mas talvez as coisas nunca mais voltassem a serem as mesmas, as pessoas não voltariam com certeza.
Kimmy tinha me deixado em frente à casa do meu tio Joseph mas eu não conseguia entrar, caminhei alguns minutos pelo jardim enorme tentando encontrar uma ocupação mental, não encontrei.
Antes mesmo de tocar a campainha ouvi várias vozes ao mesmo tempo tentando conversar, quando finalmente a porta foi aberta para mim me deparei com a minha mãe, de costas, mas facilmente reconhecível para mim. Era minha mãe ali e eu só consegui correr para abraçá-la. Olhei para o lado e meu peito encheu de um sentimento puro de alívio misturado com felicidade, todos os meus irmãos estavam naquela enorme sala. Eu senti saudades, embora tivesse saído por vontade própria e a pouco tempo, eu os amava demais.Quando Made e Amy resolveram sair da ilha para tentar a vida em outro lugar eu só pensava em como fazê-las mudarem de ideia até ver que não era possível. Estava sendo egoísta em querer que abrissem mão do que verdadeiramente queriam porque eu não me sentia bem, porque eu sentiria falta. E ali estávamos praticamente todos novamente, todos nós com exceção do meu pai e do Jamal, que provavelmente se surpreenderia como eu estava surpreso.
- Onde está o papai? - minha mãe mudou a expressão imediatamente e eu senti por um segundo o chão fugir dos meus pés. - Não...
- Calma, filho. Ele está no hospital.
Um dos muitos filhos do tio Joseph pediu para que sentássemos pois ele tinha algo para nos dizer.
Todo o diálogo consistiu basicamente em confirmar o diagnóstico do meu pai, zero esperanças. Meu irmão Jamal chegou no meio da conversa e tudo teve que ser repetido, e foi duas vezes doloroso. Eu não conseguia pensar muito no que aconteceu depois, mas eu estava sentado naquele sofá olhando para os meus pés e pensando que em pouco tempo eu não teria o meu pai. O meu pai, o cara que sempre tinha sido a pessoa mais incrível que eu já conheci. Apesar dos erros irreparáveis, das atitudes que nunca poderiam ser mudadas, eu perderia metade de mim sem ele. Tudo o que eu entendia por bom, ele tinha me ensinado e eu simplesmente acordaria em um dia e terminaria o final sem ele. Não conseguia nem sequer imaginar.
Jamal era o mais velho de nós, se achava responsável por muitas coisas e por todos. Mas eu não queria que o meu irmão carregasse aquele fardo sozinho, por aquela razão e algumas outras eu decidi tentar me manter o mais forte possível.
Ao fim da conversa com o Julian eu pedi carona até o hospital. Tinha muita coisa para falar com os meus irmãos, mas não tanto quanto tinha com o meu pai.
- Não posso imaginar o que vocês estão se sentindo.
- Espero que não experimente tão cedo!
- Deus te ouça! - ele estava focado na direção. Julian exalava felicidade, parecia ter a vida perfeita. O carro estava cheio de brinquedos.
- Tem filhos?
- Sete!
- Está tentando bater o recorde do seu pai? - ele sorriu e virou o rosto para mim por alguns segundos balançando a cabeça negativamente.
- Tive cinco na verdade, e adotei os dois irmãos da minha esposa.
- Nossa, que legal. - queria dizer algo mais empolgante mas eu só conseguia achar muita loucura ter mais de dois filhos. Imagine sete, ou doze.
- Inclusive tenho um filho chamado Jesper. - quando Julian parou o carro ele me mostrou a foto da família reunida. Eram crianças realmente muito lindas.
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Müller - Contos de Amor
DiversosHistórias pequenas sobre os amores dos irmãos Müller, que mesmo superando as complicações de cada um conseguem encontrar o amor nas pessoas menos prováveis...