Encontrei o Amor em Você - I

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Naomi

- Errado? Como errado? Deve haver algum engano, peço que verifique novamente. - eu suava frio por baixo do vestido que eu escolhi muito mal, inclusive, para o meu primeiro dia de aula.

A mulher a minha frente era o estereótipo de secretária de universidade. Óculos caindo pelo nariz, um cabelo perfeitamente aparado atrás da cabeça e os lábios discretamente pintados num tom rosa que quase imitava a própria boca.

- Tenho certeza, srta... - ela leu meu nome na ficha. - Naomi Hadji.

O meu nome havia soado com uma pronúncia errada, e não havia como julgá-la por isso.

- Sinto muito, mas...

- Senhora... - forcei os olhos para poder ler no crachá o que estava escrito. - Constantine. Eu prometo que assim que puder venho com os documentos corretos. Deve ter sido algum erro na emissão do meu visto, e acredito que a senhora saiba o quão burocrático isso possa ser.

Ela deu um leve baixar de cabeça como se compreendesse perfeitamente o que eu estava dizendo. Respirou fundo e ali eu soube que havia um pouco de esperança para o meu plano.

- Vamos deixar assim por hoje, mas amanhã preciso de todos os seus documentos, Srta. Hadji.

Senti meu corpo relaxar da tensão causada pelo nervosismo. Minhas mão suavam e eu tinha prendido a respiração involuntariamente. Caminhei para longe dali o mais rápido que pude e tentei imaginar o que eu poderia fazer para conseguir documentos falsos que pudessem se passar por verdadeiros pelo menos até arranjar alguma forma de fazer aquilo legalmente.

O primeiro dia na faculdade foi relativamente bom, houve dificuldade da minha parte em entender o que estava sendo dito pelo professor e todas aquelas pessoas interagindo de forma única era algo completamente fora da minha realidade. Estava aos poucos tentando me adaptar com aquela realidade livre, diferente de tudo o que eu conhecia. E estava sendo uma experiência única.

Eu morava há duas horas da faculdade, era um caminho longo com ônibus e metrôs, mas ainda assim nada se comprava a ser livre. Eu não conseguia reclamar de absolutamente nada. Talvez as pessoas ao meu redor no transporte público achassem que eu era louca, por sempre estar sorrindo e tentando conversar. Mas era difícil entender sem conhecer a minha história, então eu não os julgava, eu estava de fato louca. De felicidade.

O bairro era tranquilo, as pessoas conversavam umas com as outras como se fizessem isso há muitos anos. O nome disso era rotina, e eu nunca tinha vivido de um jeito positivo. O apartamento em que eu morava era minúsculo, eu o dividia com uma outra garota que trabalhava numa boate, nós pouco conversávamos e ela nunca se interessou para saber qualquer coisa que fosse sobre a minha vida.

Quando cheguei estranhei vê-la sentada no sofá conversando com alguém no telefone, pois geralmente naquele horário eu era a única na casa. Norah continuou conversando animadamente no telefone mesmo depois de notar a minha presença.

- Como foi o seu primeiro dia? - ela perguntou com certa curiosidade um tempo depois.

- Foi ótimo! Não conheci ninguém, mas ainda estamos no início. Muita coisa ainda vai acontecer. - ela resmungou alguma coisa mas não pude ouvir.

Eu cursava relações internacionais, e durante o dia trabalhava numa empresa terceirizada de faxinas em eventos. Era algo que eu já estava acostumada mesmo sendo um serviço tão cansativo. Poder escolher estar fazendo algo não tinha preço. Apesar do enorme cansaço que aquela rotina causava, eu só conseguia agradecer por poder estar vivendo algo positivo.

O segundo dia de aula pude conhecer melhor o prédio, eram três lindos edifícios separados por um enorme jardim. Minhas aulas normalmente eram no segundo prédio, havia outros bolsistas além de mim, mas aquele fato não parecia ser importante para os demais alunos que pagavam, considerando que todo mundo conversava tão animadamente uns com os ouros, que mesmo que eu tentasse me encaixar em algum assunto, parecia muito difícil. No fim, eu sempre terminava encostada na parede do corredor observando as pessoas irem de um lado para o outro, preocupadas demais com as próprias vidas para notar uma imigrante nigeriana que andava pelos corredores.

Müller - Contos de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora