Quando Estou Com Você - I

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- ...Sr. Müller?

A voz rouca da minha secretária me tirou dos pensamentos sombrios que assolavam a minha cabeça a maior parte do tempo.

Eu me perguntava se em algum momento eu me tornaria uma pessoa normal que viveria a vida sem se deixar influenciar pelo passado. Mas parecia uma tarefa extremamente difícil de ser feita. Era como se absolutamente tudo o que eu fizesse na vida fosse consequência da pessoa que eu tinha sido anos antes.

- Estou ouvindo. - a mulher uniu as sobrancelhas em questionamento.
Pauline trabalhava comigo fazia muito tempo, e diferente de muitos ela me conhecia um pouco.

- Uma ligação de Riad. Se identificou como Mohamed Khalil. Passo? - me perguntei quem poderia estar me ligando da Arábia Saudita. O nome não me parecia estranho, mas não importante o suficiente para que eu me lembrasse.

- Pode passar. - logo o telefone da minha sala começou a tocar e eu atendi no terceiro toque, como sempre costumava fazer. Não ouvi nada por alguns segundos e já estava prestes a desligar quando ouvi a voz arrastada de uma pessoa claramente de idade avançada.

- Jacob Lorenzo Müller. - ouvir o meu nome do meio soou estranho. Ninguém nunca me chamou assim antes.

- Pelo visto me conhece bem, já eu não posso dizer o mesmo. - ele riu com certa dificuldade. A risada meio seca denunciava uma falta de humor clara.

- Mohamed Khalil, da Ali Corporation. - o nome era tão estranho quando a empresa, podia já ter ouvido em algum lugar mas não tinha como me recordar, considerando o fato de que todos os dias trabalhava com gente que tinha as próprias corporações. - Pelo visto não se lembra de mim.

Não mesmo.

- Acredito que esta ligação possa ter sido um engano. - tentei soar gentil para me livrar daquela situação que não me interessava nenhum pouco.

- Khalil versus Patrow.

Automaticamente me lembrei do homem só de ouvir a frase. Mohamed Khalil havia perdido um processo contra uma grande cliente anos antes. Uma indenização bilionária havia sido paga o que gerou a falência do império Saudita que ele havia construído ao longo da vida. A história estampou a capa de jornais por muitos meses na época. Mas logo foi esquecida como qualquer outra.

Me questionei do porque dele estar entrando em contato comigo tanto tempo depois.

Havia um claro desprezo na voz daquele homem. E eu não me importava o suficiente para ficar preocupado.

- Não entendo o porquê de entrar em contato comigo, Sr. Khalil. O caso já foi encerrado há tantos anos e para mim não tem a menor relevância.

- Homens como você não valorizam o trabalho árduo de homens como eu. - respirei fundo, me perguntando como eu ainda estava naquela chamada. - Eu perdi tudo para aquela rata e tudo com a sua ajuda. Um sobrenome de peso perdeu a credibilidade graças a seu desdém ao levar o caso adiante mesmo quando meus advogados já haviam aceitado o acordo.

- O mundo não é um conto de fadas, vovô... quando perdemos algo significa que não era para ser nosso.

- Antes mesmo de você sair dos testículos do seu pai eu já estava nesse meio. - ele tentava soar perigoso.

- Se fosse bom de verdade não teria perdido o negócio. - desliguei o telefone sem deixar que ele continuasse a dizer qualquer outra coisa. Pedi a minha secretária que não me passasse mais nenhuma ligação naquele nome.

Apesar de ser um caso encerrado que não me interessava mais, procurei alguns arquivos para reler depois da estranha ligação. Mohamed Khalil havia sido acusado de plágio pela herdeira de um império de joias do Oriente Médio, Amna Patrow.
O caso ganhou grande repercussão devido a descoberta de um esquema de vendas ilegais de joias falsificadas. Amna pediu uma indenização altíssima e apesar do cessar fogo por parte da Ali Corporation, empresa comprada pelo Mohamed, ela continuou movendo o processo até o final, tornando pública todos os crimes cometidos por ele. Eu, como advogado, a apoiei em todas as decisões que tomou.

Müller - Contos de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora