A Melhor Parte de Mim - II

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Pela primeira vez na minha vida me sentia intimidado na presença de uma mulher. Era como se ela soubesse de todas as minhas defesas e eu estivesse como um gato acuado. No momento em que ela falava, tudo o que eu conseguia fazer era assistir, deixar de prestar atenção nem passava pela minha cabeça. Beatrice era o Sol e eu um Ícaro tolo demais para conseguir me conter. E o pior de tudo era que eu não conseguia tomar nenhuma iniciativa.

Sempre fui um homem de ações. Tinha saído a minha mãe nessa parte, visto que o meu pai não parava de conversar com as pessoas, socializar e fazer filhos. Provavelmente não tinha outra coisa atrativa para se fazer no século passado para se ter feito doze filhos. O velho sempre nos constrangia contando como e quando nos tinha feito, John não suportava o lado pervertido do nosso pai, mas eu tinha aprendido a lidar. Dos doze filhos, sendo sete homens e cinco mulheres, Jurnee e eu fomos os únicos que despertamos interesse pelo negócio da família. Ela ainda estava na escola, mas tinha o objetivo de seguir os meus passos. Quando meu pai se aposentou tive que me tornar presidente, cedo demais, acabei perdendo boa parte da minha juventude. Jurnee ficou comigo por puro amor ao trabalho. Nossos outros irmãos tinham seus negócios próprios e viviam muito felizes. Mas o Müller Group era a maior empresa do país inteiro, o que nos tornava notícia em qualquer jornal.

- Pensa mesmo em perder a virgindade com um professor? – perguntei a Beatrice depois de um tempo, ainda me negava acreditar naquilo. Ela falava de alguma coisa que não consegui prestaratenção, não tinha reparado porque estava tentando formular uma pergunta que não fosse afastá-la.

- Alguma coisa contra professores?

- Alguma coisa contra o fato de que você vai abrir as pernas para esse bosta. – vi que ela buscou outro lugar para olhar. Reconhecia o quão invasivo eu estava sendo, mas simplesmente não conseguia compreender.

- Eu gosto dele, Jason... quer dizer, eu sinto que... – ela parecia confusa. Como se durante as últimas semanas aquela certeza dela tivesse se esvaído.

- Bea, acorda. Ele não quer nada além de sexo. Não estou dizendo que é só isso que chama atenção em você. Pelo contrário, é a mulher mais linda que já vi.

- Você fala essas coisas com tanta naturalidade.

- Eu sou sincero. Só isso.

- Eu gosto do Rob. – ela disse aquilo com o mesmo tom de incerteza de antes.

- Mas ele não gosta de você.

- Você diz isso, mas não sabe...

- Você é virgem, e ele sabe disso. Vai por mim, eu entendo como funciona cabeça de homem. – ela riu de nervoso.

- Você não pode saber disso. O fato de eu ser virgem não significa nada.

- Beatrice eu sou homem. Eu já iludi várias garotas virgens só para transar com elas. Sei do que eu estou falando.

Ela tinha o lábio inferior entre os dentes. Um gesto bem sensual, mas ela fazia parecer normal. Desde que nos conhecemos eu tinha começado a reparar em cada mania dela e aquela era a que eu mais gostava.

- Isso não quer dizer que...

- Transa comigo.

  Ela arregalou os olhos tão pretos quanto a noite. Custaria a admitir, mas estava pensando nela fazia muito tempo. Joe e Julian, os irmãos com quem eu mais conviva, tinham notado minha mudança repentina de comportamento, mas nem para eu eles eu tive coragem de admitir.

Müller - Contos de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora