Caminho Sem Volta - I

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- Uma bebida, por favor! - o barmen olhou para mim por cima dos óculos mas a expressão dele não era das melhores.

- Só um minuto, cara! - sentei em uma das cadeiras do bar e comecei a olhar em volta. Era uma grande casa de shows, um bar, um pub, tudo de uma só vez. Era um lugar bonito e estava lotado. Do lado de fora estava escrito Müller's e por mais que pudesse ser alguma coincidência, eu duvidava muito que fosse.

Eu estava com raiva, detestando qualquer coisa que fizesse o mínimo esforço. Tinha descoberto a maior mentira da minha vida e da pessoa que eu menos esperava, o meu pai. Que a atirasse a primeira pedra que nunca tinha tido nenhuma desavença com os pais. A única diferença do meu caso, era que não dava para ser esquecido com uma conversa simples.

A minha bebida tinha chegado mas eu ainda só conseguia pensar em como as coisas tinham mudado naqueles últimos meses. Duas das minhas irmãs tinham simplesmente saído do Havaí sem mais nem menos e por mais que as compreendesse perfeitamente, não diminuía a saudade. Estava vendo o meu irmão mais velho tomar esse mesmo rumo e só conseguia pensar que cedo ou tarde todos nós estaríamos ali, por vontade ou saudade.

Depois que descobrimos a mentira do nosso pai nada tinha sido igual, eu me sentia culpado por odiá-lo e infantil por ignorá-lo cada vez que tentava conversar comigo, optei por dar um tempo. Mesmo que nunca sequer tivesse saído da ilha nem por um fim de semana, eu precisava esquecer de tudo aquilo. Certamente ter ido justamente parar naquela cidade não me faria esquecer nada.

Estava com a cabeça abaixada ainda absorto na minha auto piedade quando ouvi uma voz feminina por trás.

- Pelo visto você é pontual! - não levantei a cabeça de imediato porque duvidei que fosse comigo, afinal de contas eu mal tinha chegado ali e não conhecia e nem tinha marcado com ninguém. - Está tudo bem?

Só então, ao sentir uma mão nas minhas costas que eu me levantei a cabeça e me virei para ver de quem se tratava.

- Jamal... - quando o jogo de luzes parou no meu rosto ela arregalou os olhos. - Ah, me desculpe, achei que fosse um amigo.

Poderia ser coincidência ela me chamar e me confundir pelo nome do meu irmão, mas eu achava aquilo muito difícil e decidi entrar no que eu poderia fazer de um jogo.

- Jamal Shaw? - ela balançou a cabeça confusa. - Eu sou Jesper Shaw, irmão dele! - a confusão no rosto dela aumentou ainda mais.

- Desculpe, vocês são bem parecidos!

- É o que dizem, mas eu sou o irmão bonito.

- E menos humilde também!

Ela não sorriu, pelo contrário, olhou o relógio e pediu uma bebida ao mesmo barmen que tinha me atendido.

- De onde conhece o Jamal? - era uma tentativa de saber se aquela bela mulher e o meu irmão estavam tendo alguma coisa e eu não precisaria me sentir mal por estar ligeiramente interessado nela.

- Somos amigos! - não havia muita certeza na fala dela o que me deixou em dúvida se de forma positiva ou não.

- Meu irmão sempre teve um bom gosto mesmo, mas não esperava que fosse tanto. - a mulher finalmente me encarou no fundo dos olhos e deu um meio sorriso. Ela não parecia nem de longe fácil de se conversar. Muito pelo contrário. - Então, vocês marcaram e ele ainda não chegou?

- Aparamente não, talvez pode ter acontecido algo. - ela voltou a olhar ao redor.

- Como se chama? - perguntei.

- Kimberley! - ela não tinha cara de Kimberley, soava um nome tão superficial e era tudo que ela não parecia ser.

- Talvez possamos conversar até o meu irmão dar o ar da graça.

Müller - Contos de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora