Amor Insano - Final

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- Não é possível que você esteja acreditando nisso, Alin! - ela não me respondeu, continuou me encarando como se quisesse arrancar os meus olhos. - Você...

- Não diga uma só palavra! - ela levantou o dedo e o manteve apontado para mim de forma dura. - Você vem novamente com todo esse papo sobre como estava se sentindo, fazendo com que eu me sentisse ainda pior do que há meses atrás. Toda essa conversa, para no fim ter uma amante, Joe? Você me parece tão mais inteligente do que isso, nem mesmo no pior dos pensamentos que já tive ao seu respeito, te imaginei tão... tão... - ela não terminou de falar, dava para ver como se contia para não chorar, e foi quando eu vi que aquela merda só estava no começo.

Ouvi o meu telefone vibrar mas não me movi. Eu não conseguia nem mesmo me defender daquelas acusações insanas, porque eu de fato imaginei que ela não duvidaria de mim. Bom... eu estava redondamente enganado sobre a mulher com quem eu era casado.

Peguei minhas roupas e me vesti rapidamente, sem dizer nada a ela. Estava sendo estúpido e alimentando aquele pensamento na cabeça dela, mas a raiva me consumiu e o orgulho me levou para fora daquele quarto, e comigo as explicações que eu queria dar ela. Comecei a pensar que espécie de casamento era aquele no qual ela duvidaria de mim na primeira oportunidade, depois de quase vinte anos juntos sob qual pretexto eu a trairia? E por que ela não me deu nem mesmo o benefício da dúvida?

Talvez tenhamos cometido muitos erros ao deixarmos de conversar sobre o que sentíamos um pelo outro, pois a partir daquele afastamento deixamos de conhecer um ao outro completamente, e embora eu soubesse que deveríamos conversar, a única coisa que fiz foi pegar o meu carro e dirigir para o mais longe dela que eu consegui. 

Dirigi em silêncio até a antiga propriedade do meu pai que ficava na praia.
Desci do carro e notei que eu estava descalço. Era uma sexta-feira e eu teria que ir trabalhar, mas qualquer coisa que eu fizesse com a minha cabeça como estava, daria muito errado.
Senti a área cobrir os meus pés e me sentei no chão. Encarando o oceano e tentando buscar nele a calma que eu precisava. Mas a última coisa que eu conseguiria era ficar calmo. Não havia como ficar calmo.

- Tudo bem? - me assustei ao sentir um toque no meu ombro. Me esqueci que aquele não era mais um lugar abandonado.

OceanVille agora pertencia a viúva do meu tio Jacob e os filhos dele. Mas não deixava de ser um lugar no qual eu me sentia bem. Lembrava da minha infância de muitos natais que eu passei ali com a minha família.

- Sim... me desculpe, eu...

- Não tem porque se desculpar, é Joe?

Balancei a cabeça positivamente.

- Eu sempre confundo vocês. - ela deu um sorriso. Aquela mulher tinha passado por tantas coisas nos últimos dias mas ainda assim parecia inabalável.

- Eu sou o gêmeo bonito. - novamente ela sorriu.

- Aposto que sim. - fez uma pausa e respirou fundo. - Mas me conte, o que está acontecendo para você estar com essa cara.

- Coisa demais para eu conseguir falar.

- Tente ao menos. - quando percebi estava contando a minha vida para aquela mulher, que embora fosse da família era como uma desconhecida. Mas conversar com ela foi a melhor coisa que eu fiz e precisava.

Downey era o tipo de mãe de todos, como se sete filhos não fosse o suficiente. Ela tinha as palavras certas.

- O que você está sentindo agora é raiva, e é perfeitamente normal sentir. Assim como a sua esposa também deve estar. Os sentimentos não pedem permissão para invadir as nossas vidas, mudar nossos pensamentos e desejos. Sentir é a natureza mais humana possível, seja para o bem ou para o mal. Você deve determinar.

Müller - Contos de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora