O homem dirigiu em silêncio. Minha cabeça doía com muita força. Não podia ir para o meu apartamento, tinha que dar a notícia da campanha e precisava ir até a casa do meu pai. Quando finalmente cheguei, entrei pelas portas do fundo, encontrando os empregados a postos esperando o primeiro membro da família levantar. O meu pai era sempre o primeiro e não entendi porque não tinha levantado ainda. Subi para o quarto que costumava ser meu depois de ter cumprimentado todos.
Tomei um banho e fiquei deitada na cama por longos minutos. Não conseguia pensar em nada e agradeci muito por ser domingo e não precisar ir para lado nenhum. Só queria descansar e esquecer que eu tinha ido para cama com um homem que eu não conhecia e que me mudou literalmente da noite para o dia.
- Parece feliz, mana. - Josephine subia as escadas quando nos esbarramos. Minha irmã sempre vivia apressada como se o mundo fosse acabar no dia seguinte. Não entendi porque estava na casa do papai sendo que tinha a própria casa assim como a maioria de nós, mas não perguntei.
- Leia May Palmer e saberá. - falei passando por ela em direção a sala de estar.
Meu celular estava cheio de mensagens e felicitações pela primeira campanha independente como Jurnee C. Müller. Não era como se eu quisesse me desvincular do GM e viver por conta própria, não. O Grupo Müller era a minha vida, cresci para estar naqueles corredores ao lado da minha família. Mas, saber que havia potencial para gerir minha própria campanha tinha sim me deixado muito feliz.
Meu celular começou a vibrar e no identificador de chamadas apareceu um número privado. Não costumava atender, mas instintivamente arrastei a tela para aceitar a chamada. Pressentia que era algo importante.
- Alô.
- Oi. - senti um frio de ansiedade no estômago. - É... sou Derek Palmer, da May Palmer.
- Oh, claro, Sr. Palmer. Quanto prazer.
- É todo meu, srta. Müller. Estou ligando para informar sobre a reunião de comemoração do sucesso da sua campanha amanhã às 21:00hs no Müller Hotel's. Gostaríamos muito da sua presença, visto que toda a ideia surgiu da senhorita.
- Sim, claro que irei. É... pode me chamar de Jurnee.
- Certo, Jurnee. Até amanhã.
Coloquei o telefone ao lado, fitando o teto. Muitas mensagens caiam o tempo todo, mas não senti mais a empolgação de respondê-las. Fechei os olhos mesmo sem sono, estranhamente ansiosa pelo dia seguinte. Foi o domingo mais monótono da minha vida. Não quis ir para o meu apartamento. Tinha tido uma conversa com o meu pai e ele se mostrou orgulhoso. Todos estavam, na verdade. Dormi cedo, sem TVs e sem sair, mesmo que quisesse sentir o mesmo orgulho do dia anterior pela minha campanha. Minha cabeça não estava tranquila. Provavelmente eu nunca ficaria tranquila depois da noite de sábado mais inusitada de todas.
Acordei pouco depois das sete da manhã, fiz minha higiene matinal e desci a enorme escadaria até a primeiro piso. Para encontrar a família na mesa. Não todos.
- Bom dia.
- Olha só, a melhor publicitaria dos Müller.
- A única publicitária dos Müller, John. - meu irmão tinha um sorriso largo, mesmo com a boca cheia de comida. Não conseguia deixar de achar novo o comportamento extrovertido do John. Sempre foi conhecido na família por ter a língua afiada e sempre fazer algum comentário maldoso para as mulheres. Depois que se casou com Isabela não se ouvia muita coisa que não fosse elogios saindo da boca dele. Meu irmão encontrou o motivo para ser um alguém melhor.
- Iria gostar de saber onde foi com aquele cara da boate. - ele falou de repente.
- Que cara da boate? - Jose perguntou, o que me fez estranhar. Ela nunca perguntava nada. Fazia parecer que não ligava para a vida dos próprios irmãos.
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Müller - Contos de Amor
DiversosHistórias pequenas sobre os amores dos irmãos Müller, que mesmo superando as complicações de cada um conseguem encontrar o amor nas pessoas menos prováveis...