Peguei um outro táxi do hotel para a minha casa, tentei entrar em silêncio, tirando os sapatos, para nenhum vizinho sair na porta, mas o meu filho logo veio me receber. Estranhei ele estar ali porque para todos os efeitos aquela semana ele teria que estar com o pai, mas me surpreendi ainda mais quando vi a figura do meu ex-marido vindo na minha direção. Ele parecia ter chegado há algum tempo e não estava com a melhor das expressões, aquilo não me preocupou para ser sincera.
- Achei que estivessem na sua casa ainda. - ele me olhou de uma forma desconfortável, como se checando se tudo estava no lugar. Obviamente sim, com exceção do meu juízo que eu tinha perdido noite passada.
- O Gus queria vir logo para te ver, então resolvi passar aqui. - do jeito que ele falava parecia morar ali perto, quando na verdade era do outro lado da cidade.
- Estava com saudades? - meu filho apertou ainda mais o abraço. Ele era carinhoso como toda criança de seis anos, mas sinceramente estava numa fase que dava vontade de amarra-lo muitas vezes. Sorri de imaginar fazendo aquilo.
Gus era a luz da minha vida, mesmo não tendo planejando a vinda dele, os últimos seis anos que tínhamos passado juntos tinham sido os melhores da minha vida. Cada momento mãe e filho que ele me proporcionou foi inesquecível.
Entramos e me deparei com uma mesa posta para o café da manhã. Tudo nos mínimos detalhes.
Austin e eu estávamos divorciados há mais de cinco anos e ele nunca tinha sido um marido carinho, nem perto disso. Mesmo com o nosso filho pequeno, ele não hesitou em ir embora, praticamente sem se despedir. Para mim estava tudo bem até quando de repente ele me disse que não estava. Foi a melhor coisa que me aconteceu, descobri que eu não era feliz, que nunca tinha nem recebido um terço da felicidade que merecia estando com ele. Todos os dias em que eu fiquei sozinha cuidado do nosso filho foram mais felizes do que o nosso casamento inteiro. Me casei apaixonada, achando que tudo daria certo, e no fim das contas terminei sozinha e com um filho para criar. Quando o Gus tinha três anos ele resolveu aparecer novamente, nunca deixou de ajudar financeiramente, mas não era do dinheuro dele que eu precisava. Por sorte eu tinha a minha mãe e minhas irmãs para me ajudarem na maior parte do tempo. O trabalho na polícia me ocupava muito tempo do meu dia, e eu temia não me dedicar cem por cento a ele e não receber amor. Mas o meu filho era um anjo, tão calmo e compreensivo que chegava a me emocionar. Eu o amava como nunca imaginei que amaria alguém em toda a minha vida.
- Ouviu o que eu disse? - balancei a cabeça para tirar aqueles pensamentos.
- Não, me desculpe!
- Eu te chamei para irmos no cinema juntos. O que acha?
- Péssima ideia! - Austin franziu a sobrancelha confuso.
- Mas por quê?
- O August tem que saber diferenciar nós dois, gostar de estar com você e gostar de estar comigo. Não somos casados, Austin, não quero meu filho fantasiando isso. - ele abriu a boca para argumentar contra mas não existia argumento nenhum que me fizesse mudar de ideia quanto àquela decisão.
- Você está diferente de antes.
- Experimenta ser abandonado com um bebê para ver se não muda também!
- Meu Deus, Kim, não perde a oportunidade de jogar isso na minha cara!
- Não fala alto, não quero que ele pense que estamos obrigando! E outra, não me chame de Kim, nem de Kimmy, perdeu esse direito. Para você é só Kimberley ou Srta. Prescot.
Os olhos dele aumentaram de tamanho, mas eu não tinha mais nada para acrescentar.
- Vamos filho!
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Müller - Contos de Amor
DiversosHistórias pequenas sobre os amores dos irmãos Müller, que mesmo superando as complicações de cada um conseguem encontrar o amor nas pessoas menos prováveis...