Sorte ou Destino?

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Competir era o meu ponto fraco, fosse a menor das coisas mas havendo uma competição para conseguir, eu estava dentro. Desde criança competia com os meus vários irmãos pelas coisas mais bobas possíveis. E ali estava eu, de frente para um dos maiores chefes de cozinha do país, que me olhava com o olhar normal de uma pessoa comum, mas que eu enxergava como o pior dos desafios.

Jeremy Müller tinha consigo o melhor dos resultados sempre, o sobrenome o levava para o topo mesmo que não merecesse estar lá, mas ele era bom para um caralho, e dificilmente ganhava algo que não fosse por merecimento. Mas tínhamos que admitir que o sobrenome Müller vinha com poder e, consequentemente, vitória. Mastiguei o último pedaço da sobremesa que tinha no prato e engoli a expressão de puro prazer que viria em seguida, morte a admitir que estava melhor do que tudo que eu já havia comido na vida. Jeremy me olhava com expectativa, está que poderia morrer se dependesse de mim.

- Ele nunca vai admitir que gostou mesmo que tenha gostado. - Madelane começou a falar. - Conheço meu irmão e ele nunca dá o braço a torcer.

Dei um sorriso antes de limpar a boca com um guardanapo e me retirar. Conseguir ouvir a voz do Jeremy no fundo me chamando para ouvir minha opinião, coisa que eu não daria nunca.

Se isso me tornava um babaca que fosse.

- Que bobo da sua parte. - Made sorria. - Não custa nada dizer que gostou, isso não te torna menos cozinheiro e nem pior do que ele.

- Made, uma pessoa como o Jeremy sabe no que é boa, eu sei no que sou bom porque lutei por isso, não estou desmerecendo o talento dele, muito pelo contrário. Jeremy não precisa da minha mera opinião para saber que é incrivelmente bom no que faz, já eu preciso da dele se quero me manter nesse mercado.

- Sabe que tecnicamente esse é o nosso sobrenome também, não sabe? - balancei a cabeça confirmando.

- O que estou dizendo é que o admiro, e sei que o meu elogio ou a falta dele não o vai tornar menos do que é. - Made balançou os braços como quem diz que não se importa e abriu a porta do carro sem nem me pedir carona.

- Você é muito folgada!

- Sou sua irmã caçula. - ela sorriu. Eu nunca a tinha visto tão feliz como ali, desde que tinha se tornado mãe era como se a parte sombria dela estivesse desaparecido completamente. O que achávamos que nunca seria possível, Made era completamente segura de si, nunca tinha se abalado por bobagem e foi uma adolescente bem diferente do que esperávamos que seria. Tudo isso pelo passado que a havia marcado tanto, mas que de certa forma a tornou aquela mulher forte que tinha muito a ensinar.

- Com quem as crianças ficaram? - ela olhou no relógio antes de responder como se a resposta fosse as horas.

- Com a Amy, meus horários no hospital estão super corridos, estou temendo que eles cresçam achando que a Amy é a mãe deles. - estacionei o carro na frente do apartamento onde a Amy ficava e ela desceu correndo depois de me dar um beijo de despedida.

Eu era o mais velho de sete irmãos, pelo menos era o que eu achava até descobrir que o meu pai escondeu um filho por 35 anos. Eu tentava entender a justificativa dele, mas era difícil, se fosse eu no lugar do Jake talvez nunca o fosse perdoar. Ainda me lembro de quando Madelane e eu descobrimos aquela história absurda e de tão bizarra que era duvidei por muito que fosse verdade. Mas depois de ouvir o meu pai, o homem que eu sempre admirei acima de qualquer outro que eu já havia conhecido, admitir que havia realmente deixado um filho para trás como se vira uma página, sem sequer procurar saber como estava. Aquilo me magoou, imagine como o Jake não se sentia.

Todo dia eu acordava com vontade ir embora logo, adorava viajar mas nada se comparava ao clima havaiano, as pessoas no Havaí eram diferentes em todos os aspectos.

Müller - Contos de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora