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- Sr. Müller... - a porta do meu escritório foi escancarada e eu adivinharia quem tinha sido se tivesse tido tempo. May Palmer entrou usando um vestido comprido e cheio de brilhantes. Estava muito bonita, assim que me viu ela sorriu.
- Pensei que estivesse furado comigo.
- Até pensei em fazer isso, mas seria crueldade demais. - me levantei e tirei o terno. Não queria ir tão formal para o jantar que tínhamos marcado. Era para ser estritamente sobre negócios, mas eu não sabia quais coisas poderiam acontecer. Tantos anos tinham se passado, eu ainda a achava incrível, mas duvidei que pudesse voltar a ter o mesmo sentimento de quase vinte anos atrás.
- Já mudou de ideia sobre me vender o seu prédio? - perguntei somente para irritá-la.
- Vai se foder! - gargalhei da expressão que ela fez. Saímos os dois juntos pelo mesmo elevador.
Ela foi no luxuoso conversível e eu fui no meu Jaguar. Nos encontramos no recém inaugurado Müller's, restaurante do meu irmão Jeremy.
- Uma mesa para dois, por favor. - a maitre era uma moça de pele escura e olhos verdes. Tinha a aparência juvenil pelo pouco tamanho.
- Senhor, todas as mesas estão reservadas.
- Não para mim. - ela veio caminhando junto comigo quando eu passei pela entrada.
O restaurante estava lotado e havia uma única mesa vazia. Segurei a mão da May e nos sentamos.
Não demorou muito até o Jeremy aparecer vestido como o chefe e com um sorriso no rosto. Não combinava com ele trabalhar, mas eu não disse aquilo.
- Faço questão de atender seu pedido primeiro, irmão. - ele estendeu a mão para a May e logo beijou a dela.
- Você sabe o que eu gosto. - respondi.
- Mas não sabe o que eu gosto. - May rebateu.
- E quem disse que isso é problema meu? - Jeremy riu se afastando enquanto anotava alguma coisa num bloco amarelo.
- Não me surpreendo, grosso. - comemos e conversamos sobre muitas coisas.
Não havia nada em um que pudesse ser compatível com o outro. Ela era a pessoa mais difícil que eu conhecia. Não podíamos fechar negócio porque a desgraçada queria um acordo completamente inviável.
Ao fim da noite saímos os dois do restaurante e havia um homem esperando-a do lado de fora. Ela entregou as chaves a ele e veio na minha direção.
- Por que fez isso? - perguntei.
- Porque vamos para sua casa. - depois de ter dito aquilo ela olhou para mim. - Sei que está divorciado há menos de um ano e que ainda ama a sua ex esposa, mas não quero me casar com você, só trepar. Podemos fazer isso de novo, não podemos? Me lembro de como você me procurava na faculdade quase todos os dias - balancei a cabeça positivamente, mas minha boca estava seca.
- E você me desprezou. Muitas vezes.
Ela era bonita demais, aquilo era inegável. Mas eu ainda era muito apaixonado pela Bea. Não havia nada que eu não fizesse por ela. Era o amor da minha vida mesmo que eu tentasse provar o contrário para mim mesmo todos os dias.
- Vamos foder e esquecer. - ela balançou a cabeça positivamente.
May colocou a mão escura no meu ombro e sorriu. Os dentes eram brancos e bem alinhados, contrastando com a pele negra. Tinha os cabelos soltos, alisados e pretos. Até mesmo as mãos dela eram bem feitas. Tudo na May parecia ser desenhando.
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Müller - Contos de Amor
De TodoHistórias pequenas sobre os amores dos irmãos Müller, que mesmo superando as complicações de cada um conseguem encontrar o amor nas pessoas menos prováveis...