É um estereótipo bobo havaianas te esperando com um colar de flores, dançando e repetindo aloha o tempo todo quando você chega no Havaí. Eu queria gritar para o mundo inteiro ouvir cada vez que o maldito turista perguntava sobre aquilo. Eu morava na praia, uma bem pequena comparada as enormes e belas praias do Havaí tão famoso que o mundo inteiro fala, mas isso não me deixava distantes dos ignorantes que guardam dinheiro o ano inteiro para uma viagem sobre um lugar que eles nem sabem nada sobre. Não sabia se na Jamaica todos usavam maconha ou se no Brasil as mulheres viviam o tempo todo com pouca roupa e uma cerveja na mão, mas podia afirmar que não é uma maldita regra obrigatória dançar para turistas. Eles que fossem se foder que eu pouco me importaria.
O meu pai estava rindo enquanto segurava uma rede de pesca no mesmo horário que ele costumava pescar todo dia, não entendia porque eu odiava turistas, isso porque 35 anos antes ele era um turista também. Meu pai chegou do nada, se abrigou na casa do meu avó materno e me parece que logo se apaixonou pela minha mãe, o que eu sei é que os dois se casaram rápido porque o meu irmão mais velho Jamal tinha trinta e três anos, quase trinta e quatro. Aparentemente os casais antigamente não esperavam muito para ter os primeiros filhos. Amy e eu éramos as únicas não legitimas dos sete filhos do papai e da mamãe, os meus pais verdadeiros tinham morrido junto com meus dois irmãos e o meu sobrinho, só restou minha cunhada Amy e eu, mas eu nunca tinha falado muito sobre aquilo, a história nunca tinha sido contada de verdade e os meus pais respeitavam bastante a minha vontade, mesmo com tanto tempo depois.
- Eu, um dia...
- Já foi turista. – interrompi antes que ele começasse a falar como conheceu minha mãe, se apaixonou e logo fez o primogênito Jamal. Eu já sabia de cor e salteado. – Eu sei papai, mas você é diferente.
- Por que sou o seu pai?
- Exatamente por isso. – ele sorriu e ficou alguns segundos fazendo um silêncio daqueles que eu sabia que vinha antes de um conselho.
- Só precisa ter paciência, você vive aqui há muitos anos, Madelane, os turistas não. – eu não disse nada, não por concordar, mas sim porque não queria prolongar aquele assunto. Eu era a filha mais nova, com e vinte e quatro anos, depois de mim Jilian com vinte e cinco, Jesper com vinte e sete, Jennifer e Amy com vinte e nove, Jonas com trinta e um e o Jamal, trinta e três. Acho que meus pais queriam aumentar a população da ilha de Molokai, e a letra J parecia representar sorte ou sei lá o quê, Amy e eu escapamos desse destino por sermos adotadas com 17 e 13 anos respectivamente.
- Aprendeu a contar, é isso? – só percebi que enumerava meus irmãos com os dedos quando o pior deles chegou, Jesper. – O turista que você xingou perguntou o seu nome, aí eu dei o seu telefone.
- Vai se foder! – meu pai jogou areia da praia em mim, como uma repreensão pelo palavrão. O meu irmão riu como quando tinham quinze anos. Era mais velho, mas só na idade mesmo porque o cérebro parecia ser do tamanho de uma laranja.
A minha mãe gritou de dentro de casa que o Jamal já estava chegando e todo mundo largou qualquer coisa que estivesse fazendo para entrar e recebe-lo. O meu irmão trabalhava na cidade, em um hotel/restaurante que ele abriu com o melhor amigo Samuel, namorado da minha irmã Jilian.
- A mamãe disse que você vai viajar. – ele balançou a cabeça confirmando o que eu tinha dito. Deu um beijo na minha testa e logo partiu para a Amy que estava mais próxima – Eu podia ir junto.
- E a faculdade, Made?
- Eu estou de férias, mãe. – ela parou um segundo para pensar e provavelmente deve ter se dado conta de que ainda era começo do ano. – Me leva junto, por favor!
Não tínhamos reparado, mas dentro do carro do meu irmão havia duas outras pessoas. Homens. Pareciam estar conversando e logo saíram para nos cumprimentar, o meu irmão os apresentou com um enorme sorriso como se fossem as melhores pessoas da lista dele. Nós éramos as melhores pessoas da lista dele.
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Müller - Contos de Amor
De TodoHistórias pequenas sobre os amores dos irmãos Müller, que mesmo superando as complicações de cada um conseguem encontrar o amor nas pessoas menos prováveis...