De Volta Ao Passado - Final

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O meu avô estava sozinho quando eu cheguei. O restante da família estava em uma sala separada. Quando entrei, o olhar se desviou dos papeis na mesa para me encarar. Ele pediu que eu me sentasse só com um olhar.

- Eu não o culpo por querer levar uma vida de um jovem de vinte e quatro anos, eu também quis. A vida é feita de sacrifícios, Jason. E pode parecer egoísmo da minha parte cobrar cem por cento de foco, quando nem mesmo eu estou completamente focado. No entanto, não há como haver muitos comparativos entre nós. Eu vivi a minha vida, me casei, tive filhos e muitos netos. Com a sua idade eu não era nada ainda, e eu não quero que você tenha que passar por tudo o que eu passei para poder aproveitar o sucesso na velhice. Eu gostaria que não houvesse nada o impedindo de seguir com o seu sonho, pois vejo claramente que tudo isso aqui é o seu sonho.

Meu avô fez uma pausa para se levantar, com dificuldade, e andar pela sala.

- Você anda relaxado demais, e volto a dizer que não o julgo por isso. É normal na sua idade, mas estaria sendo irresponsável ao não alertá-lo sobre prioridades num momento como esse. Eu logo não estarei aqui, Jason, e sendo sincero... o seu pai e o seu tio não têm nem dez por cento do seu desejo em comandar o Müller Group. É duro admitir isso. Porém, eu sei que estará em boas mãos. Ao menos espero isso.

Eu estava sendo displicente. Agindo como um adolescente apaixonado, correndo atrás da May como um viciado, implorando por meia hora de sexo. Ela não era culpada por eu ter me apaixonado como um tolo. A culpa era toda minha. E ver aquilo sendo apontado pelo meu avô, mesmo que este não soubesse o que de fato estava acontecendo, foi o suficiente para me fazer acordar.

Eu queria a May Palmer, senti-la todos os dias. Fazer amor com ela sempre que eu pudesse, sem ter que estar correndo como um louco. Eu queria que ela fosse minha. Queria ouvi-la contar suas ideias para mim primeiro. Eu a queria tanto que doía só de pensar que não podia tê-la.

Eu não podia.

Não podia ter as duas coisas.

Mais do que a May Palmer, eu queria honrar o meu avô. E por isso, teria que abrir mão do maior desejo que eu já tive em toda a minha vida. Torcendo para que um dia houvesse a oportunidade de querer alguém como eu a queria, novamente.

Saí da sala rapidamente, não fiquei para ouvir qualquer coisa que iriam dizer. Dirigi o meu carro em silêncio pela cidade, passei na minha antiga casa, onde encontrei a minha mãe com as crianças no jardim. Me sentei ao lado dela sem precisar dizer nada para que ficasse nítido que eu precisava conversar.

- Fico feliz que você tenha a habilidade de tomar decisões tão importantes mesmo sendo jovem, tenho orgulho de você por isso. - olhei para ela, que tinha o mesmo sorriso de sempre no rosto.

- Meu avô tem razão. Eu assumi um compromisso com o Müller Group, não há como fugir. Pessoas vão e vêm, mas isso não.

Me levantei sem ouvir o que ela tinha a dizer, e dirigi sem rumo por algumas horas. Como em todos os dias, o meu carro me levou ao campus. Era noite, mas não estava tão tarde.

Os corredores da universidade estavam vazios, mas quando me aproximei do teatro haviam vozes e risadas. May estava num grupo de amigas, conversando animadamente, logo que me viu ela veio na minha direção com o sorriso que tinha o poder de curar as minhas feridas.

- É impressionante como tudo em você me enlouquece. - ela sorriu, mas parecia triste de alguma forma.

- Olha só, pessoal. Prestem bem atenção, tenho algumas coisas para falar. - a atenção de todos se voltou para o palco, onde o Peter surgiu depois de meses sem dar as caras. Ele parecia mais magro e tinha um sorriso diabólico nos lábios. - Estão vendo aquela vadia bem ali, ao lado do branquelo Müller.

Müller - Contos de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora