29 de Janeiro de 2002, 14:37
- Você é médico, Julian. Eu não preciso dizer quais são os cuidados que você deve ter com o seu filho a partir de agora. – balancei a cabeça em positivo, apertando a mão da Dra. Melinda. Ela era a melhor pediatra daquele hospital, sem dúvida nenhuma, mas tinha um enorme defeito. – O pedido ainda está de pé.
Segurei o ímpeto de revirar os olhos. Mesmo sendo tão bonita e inteligente não perdia a chance de dar em cima de qualquer um.
Dei uma última olhada no prontuário do Oliver antes de sair. A Amélia estava do lado de fora me esperando e pediu para pegar o menino no colo, mas eu não entreguei. Durante aquele mês tínhamos nos aproximado a um ponto que mesmo com todo o tempo sem o contato constante não deixava de ser intenso. Meu filho me chamava de papai, e não havia nada mais incrível que aquilo.
A babá pegou as bolsas com as coisas dele e descemos pelo elevador principal. Liguei para o meu irmão Jack que começava a trabalhar numa DP com investigação para descobrir um endereço. Mesmo sendo tão jovem ele se empenhava nas coisas e tinha começado a trabalhar cedo sem depender do papai.
- Está tudo aqui? – perguntei a Amélia. Ela balançou a cabeça positivamente e entrou no carro, ajeitando o Oliver na cadeirinha. Antes que eu pudesse entrar para sairmos logo vi a figura sempre elegante da Ivy parada perto do carro dela.
- Soube que ele iria receber alta hoje. – ela tentou me beijar, mas eu não queria mais manter aquele relacionamento. Começaria por ali. – Qual é, Julian?
Respirei fundo antes de começar a falar, segurei pelos braços dela. Encarnado seriamente o rosto sempre cheio de maquiagem.
- Não dá mais para continuar com isso, Ivy. São cinco anos de mesmice e eu não suporto.
- Eu não estou te entendendo. Julian, nosso relacionamento beneficia a nós dois. – revirei os olhos pela forma como ela falava. Nunca tinha dado atenção àquilo, mas nem de longe aquela mulher seria o meu tipo de mulher. Mal entendia como eu consegui levar aquela relação tão à sério.
- Nós dois bem sabemos que não existe amor nessa relação. – falei, desesperado para acabar com aquilo de vez.
- Amor, Julian? Isso nem existe, me poupe.
- Existe sim. E eu quero isso, não sou pior do que ninguém para não ser amado. – ela deu uma risada irônica e de repente me encarou com uma fúria crescente nos olhos.
- É por causa daquela negra? Me diz que não é por causa dela. – o silêncio foi a minha resposta, pois ela se afastou como se aquela ideia fosse completamente fora de questão. – Certo, você já pode parar com essa brincadeira ridícula. Se quer terminar, vamos terminar. Não precisa usar aquela pobre coitada como razão falsa. Seja homem.
O desdém que saía naturalmente na voz dela me fez repensar várias coisas. Comecei a me perguntar onde eu estava com a cabeça quando cogitei a ideia de me casar com aquela mulher, dentro dela que não era porque o sexo não era aquilo tudo.
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Müller - Contos de Amor
RandomHistórias pequenas sobre os amores dos irmãos Müller, que mesmo superando as complicações de cada um conseguem encontrar o amor nas pessoas menos prováveis...