"O mistério da existência humana não reside apenas em permanecer vivo,mas encontrar algo por que valha a pena viver".
- Fyodor Dostoyevsky -15 de dezembro de 1969.
Lenóra sempre soube que havia algo de errado com ela.Ela sentia todos os dias que algo dentro dela não estava certo,e a preocupação de sua mãe apenas concretizou o seu pensamento.
Algo vivia dentro dela.Algo ruim.Ela morava em um casebre nas profundezas da floresta Heartwood,com sua mãe.Era apenas elas,e Lenóra se acostumou muito bem com isso,apesar de sentir falta da presença de crianças da sua idade,mas nada disso importava muito,porque ela tinha a natureza,tintas e muita imaginação.
Ela estava em seu quarto,papéis espalhados pela cama com tentativas falhas de desenhos,todos rabiscados furiosamente com grafite.Lenóra apertava o lápis com força em sua mão, respirando fundo em busca de amenizar a raiva.A última coisa que queria era explodir dentro de casa e soterrar tudo que vivia nela.
A porta do quarto foi aberta,e Lenóra se encolheu com o susto.Sua mãe pôs a cabeça para dentro do quarto e abriu um sorriso.
- Vamos comer torta essa tarde,pode vir me ajudar á colher os morangos se quiser.
- Sim,mamãe. - Lenóra sorriu,e derrepente toda a sua raiva se esvaiu.Era um sentimento que ela conseguia controlar facilmente.Ela se levantou e correu até sua mãe,a abraçando.
- Você está bem, querida? - Ela perguntou,aceitando o abraço. - Teve mais um daqueles Incidentes?
Incidente era como chamavam as coisas incomuns que Lenóra fazia.Um dia,quando estava com preguiça demais para se levantar da cama e buscar suas tintas ela fez com que elas viessem até ela.Outra vez mudou as cores de todas as flores do jardim para roxo apenas com a ponta do seu dedo,e quando sua mãe viu quase teve um ataque do coração.
Lenóra acreditava firmemente que era uma fada,mas quando viu a expressão de horror no rosto de sua mãe,deixou esse pensamento de lado.Sua mãe não tinha ficado apenas espantada,ela tinha ficado com medo de Lenóra.Aquilo não era natural,ninguém normal fazia coisas daquele tipo.
Lenóra se sentiu terrível e jurou para si mesma que nunca mais faria sua mãe ter medo dela,então empurrou aquela doce sensação mágica bem lá para o fundo,onde não arriscaria aparecer novamente.Ela conseguiu por um tempo,até que um dia essa sensação a deixou e uma outra surgiu:Nada doce,e nada acolhedora,mas maligna,destruidora e caótica.Ela sabia descrever aquilo perfeitamente em uma palavra:Dor.Mas é claro que não diria á sua mãe,ela já se preocupava demais.
- Não. - Ela respondeu,levantando a cabeça para sua mãe. - Só não consegui fazer um desenho.
- Não seja tão dura consigo mesma. - Ela acariciou os cabelos cacheados de Lenóra. - Você é talentosa,só precisa de tempo.
Então elas foram para a pequena plantação colher os morangos.Enquanto colhia os morangos e os colocava dentro da cesta,Lenóra pensou no quanto amava morar ali.Aquele lugar parecia ter saído de um conto de fadas,cheio de borboletas e pássaros cantando,flores por toda a extensão e uma floresta que Lenóra gostava de fingir que era mágica.Ainda tinha esperanças de encontrar alguma fada por lá.
- Quando eu crescer,eu vou morar numa casa igual á nossa,só que roxa. - Lenóra disse com entusiasmo. - Eu vou comer torta de morangos todos os dias,e leite de morango,doces de morango,tudo de morango! - Ela jogou seus braços para o alto e girou,olhando para o céu.
- Não vou nem perguntar qual sua fruta favorita. - A mãe riu,colhendo mais morangos e os pondo na cesta.Na opinião de Lenóra a sua mãe era a mulher mais bonita do mundo.Ela tinha uma pele negra divina,e tranças tão finas e apertadas que levariam meses para se desmancharem.Ela tinha o sorriso mais largo e cativante do mundo.A pele de Lenóra era um pouco mais clara do que a dela,mais ainda esperava que fosse tão linda quanto sua mãe quando crescesse.
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Lenóra - Regulus Black
Fanfiction" Eu espero que em algum dia, quando eu me for, alguém em algum lugar pegue minha alma dessas páginas e pense: Eu teria amado ela". - Nicole Lyons- Uma garota com uma vida atormentada se cansa de conhecer apenas a solidão. Cri...