30 de junho de 1977.
Aquela semana havia sido corrida. Enquanto estudava sem parar durante o dia, á noite tinha que arrumar suas malas para retornar á casa Villin, e não podia esquecer de nada.
Lenóra estava tranquila. Tinha certeza de que havia ido bem em todas as provas. Bom, quase todas. Aritmância ainda existia, para a sua infelicidade.
Enquanto levava suavemente sua varinha de um lado para o outro, focou seu olhar na paisagem da janela, especialmente nas árvores da floresta negra. Tinha que se despedir de Firenze. Só voltaria em dois meses. Ou não voltaria, dependendo do que o futuro guardava para ela.
Assim que esvaziou sua parte do dormitório, deixou seu malão ao lado da porta e desceu até a parte externa,onde correu pela estreita estradinha de pedras até a floresta.
- Firenze! - Ela gritou enquanto passava por cima de um tronco caído. As árvores pareciam enormes lá, e estava chegando em uma parte em que elas ficavam tão juntas que bloqueavam a passagem de luz.
Lenóra olhou para um lado, depois para o outro. Só ouvia o som dos grilos e dos pássaros cantando. Viu fadas passarem por cima de sua cabeça. Se fechasse os olhos e se concentrasse, ouviria também as águas num riacho em algum lugar.
- Veja só, alguém lembrou que ainda tem um amigo. - Firenze estava bem ao lado dela, seu braço apoiado contra uma árvore enquanto afiava a ponta de uma flecha com uma pedra lisa.
Lenóra foi até ele. - Um amigo que vive numa floresta em que ninguém tem permissão para entrar. Me desculpe por não ter tempo para ver você, Finn.
Ele a olhou de canto, com um sorriso bem pequeno se formando. - "Finn"?.
- Passei grande parte do meu dia imaginando apelidos para todos que conheço. - Ela começou á andar de um lado para o outro com as mãos nas costas. - o porquê eu não sei dizer, mas estava entediada e minha imaginação é fértil.
- Veio se despedir? - Ele perguntou, se endireitando.
Lenóra diminuiu seus passos gradualmente. - Eu vou voltar.
- É... - O centauro ponderou. - Mas eu nunca sei se isso é verdade, Nora.
- Você não vai se livrar de mim tão rápido. - Respondeu séria apesar de sua expressão estar suave. - Eu não terminei de importunar você com a minha chatisse.
- Nossa, como eu iria viver sem isso? - Ele disse sarcasticamente, mas ambos sabiam que não tinha nenhuma brincadeira naquela frase. Eles eram melhores amigos, ela sabia que seria difícil para ele quando o seu coração parasse e o seu espírito se separasse do corpo. Pelo menos ela teria alguém para murmurar a sua morte. Era o suficiente.
- Se estiver com dúvidas, observe as estrelas essa noite. Veja o que elas digam, e terá a sua resposta. - Estrelas. Era assim que os centauros previam o futuro. Com astronomia.
- Espero que sejam notícias boas. - ele sorriu. - Eu não vou abraçar você, se é isso que está pensando.
- Sem drama, Centauro. - Disse ela. - Nos veremos logo.
Regulus estava sozinho em uma cabine do trem. Seus colegas ( não eram bons o suficiente para chamar de amigos) estavam irritados com ele desde o dia da aula de poções. Ele sabia que tinha sido bastante babaca de sua parte, mas tudo tinha um propósito. Ele havia se metido em uma grande confusão e precisava sair dela.
Ele estava sentado com suas costas contra a parede e seus pés no banco. Céus, estava realmente com sono. Depois de uma semana inteira de estudos tarde da noite, seu sono estava totalmente desregulado. Ele fechou os olhos por um momento, e então tudo ficou calmo.
Isso até ouvir uma batida no vidro da porta. Ele abriu seus olhos e fuzilou Lenóra Villin com raiva no olhar. Ela não deu importância e apenas entrou.
- Eu não vou pedir para entrar porque esse trem é público, então não reclame. - Ela pôs sua mala no compartimento superior e se sentou no banco vazio. Ela não olhou para ele em momento algum, apenas abriu seu caderno e começou á rabiscar.
Regulus a observou, observou a precisão com que o lápis riscava o papel, o quanto seus olhos mortos pareciam, derrepente, muito atentos.
- Sei que a minha beleza é estonteante - Ela disse sem tirar os olhos do caderno. - mas pare de me encarar.
Regulus se sentou no banco da forma adequada. Pés no chão, postura ereta. - Acredito firmemente que coisas belas devem ser apreciadas. - Não era totalmente mentira, mas ele se recusava á tirar os olhos dela por outro motivo. Ele sabia que ela iria querer vingança pelo que ele havia feito. - Ainda está brava comigo, Srta.Villin?
- "Brava" é um diminutivo bastante impreciso sobre os meus sentimentos por você.
- Então você está irada? Enraivecida? Frustrada? - Ele abriu um sorriso provocativo, mas quem estava se sentindo provocado era ele, porque não importava o quanto tentasse, ele não conseguia fazê-la explodir. Só acontecera uma vez, mas ele não tinha entendido bem o que havia feito para desarmar a bomba. Ele apenas havia a chamado de Lena.
- Algo assim. - Ela respondeu calmamente.
Ele cerrou os olhos, se lembrando de um momento nas masmorras, onde ela surgiu das sombras quando devia estar lutando para escapar do visgo do diabo. Se lembrando do momento em que ele teve certeza de que Lenóra Villin era qualquer coisa, menos humana.
- Bom, - Ele continuou. - Achei que você gostaria da escuridão. Não está na sua natureza?
Ela ergueu seus olhos para ele pela primeira vez. Algo como curiosidade e dúvida se misturou em seu olhar, mas desapareceu tão rápido quanto surgiu. - Você é um Black, Regulus. Não está no seu sangue?
Ele não soube como responder. Sua língua ansiava para lhe devolver algo á altura, mas não pôde. Não pôde porque ela não estava provocando, estava dizendo a verdade. E isso doía em Regulus porque ele não tinha idéia de quem queria ser, mas sabia muito bem o que estava se tornando.
Então ele ficou em silêncio. Ele não queria ser só mais um típico Black, mas também não queria desapontar sua família. Ele estava deixando a pressão consumí-lo, e não sabia como escapar. Já estava longe demais para voltar ao início, onde ele era apenas o Reggie. Reggie. Ninguém mais o chamava assim.
Ele olhou de canto para Lenóra. Talvez tenha sido por isso que ela tivesse ficado tão irada naquele dia. Regulus adorava criar apelidinhos para provocá-la, mas e se ele não tivesse criado o "Lena"? Talvez ela já tenha existido em algum momento da história. Talvez ela tenha morrido assim como o Reggie.
Regulus voltou para a posição confortável que estava antes, e apoiou sua cabeça contra a parede. Cheio de pensamentos, fechou seus olhos e adormeceu.
Ele acordou com um forte balanço do trem. Ele havia parado. Olhou para a janela, e viu a movimentação de pessoas na estação.
- Você dorme como uma pedra. - Lenóra estava de costas para ele, retirando seu malão do compartimento superior.
Regulus se sentou, se endireitando. Passou as mãos nos olhos tentando afastar o cansaço. - Eu durmo como um anjo, fique quieta.
- Você e "anjo" na mesma frase, não combina. - Ela pegou o malão em mãos e se virou para ele. - Aproveite suas férias, Black. Que a sorte esteja ao seu lado.
Então ela se retirou da presença dele. Regulus ficou olhando para a janela por um tempo, um pouco sonolento, sem vontade alguma de voltar para a casa. Levou um tempo até que entendesse o que Lenóra queria dizer, e quando se deu conta, se levantou rapidamente e começou á vasculhar o seu próprio malão.
Sua felix felicis não estava lá. Não estava em lugar nenhum. Aquela bruxinha havia pegado enquanto ele dormia. Ele ficou tão preocupado com a vingança dela que nem parou para pensar que ela poderia simplesmente tomar o que era dela de volta. Maldita Lenóra Villin.
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Lenóra - Regulus Black
Fanfiction" Eu espero que em algum dia, quando eu me for, alguém em algum lugar pegue minha alma dessas páginas e pense: Eu teria amado ela". - Nicole Lyons- Uma garota com uma vida atormentada se cansa de conhecer apenas a solidão. Cri...