3. Desconfiança

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CHARLIE PARECIA ATERRORIZADO com o relato de Nick. A cada novo detalhe da história sobre como ele fora mordido, o garoto estremecia. Terminaram a história sentados no chão do quarto de Charlie, sentados um do lado do outro, os joelhos se tocando levemente.

     — Foi assustador. De verdade. Eu pensei que fosse morrer — admitiu Nick, tentando parecer forte — Fiquei surpreso quando aquela coisa me... me largou, sabe? Devo ter agradecido umas cem vezes por não ser tão apetitoso.

     Charlie esboçou um sorriso, desajeitado: — Idiota. Mas... Ben Hope... Ele...

     — Acha que ele fez de propósito? Otis disse que todos estavam sabendo do lobo que andava assustando as pessoas. Eu não sabia.

     — Não sei. Eu queria mesmo falar com você naquele dia, mas decidi não o fazer. Ben deve ter ouvido a minha conversa com o Tao. E também não acredito que ele faria isso, ainda mais com um lobo andando por aí, sem um motivo.

     — É — concordou Nick — Um lobisomem. Droga...

     Nick apertava o curativo que Charlie havia feito por cima do seu ferimento, a expressão de desespero e desamparo. Quase fez o garoto se sentir responsável por tudo aquilo. Afinal, era por causa dele que Ben estava estranho com Nick.

     A voz de Nick penetrou os pensamentos de Charlie: — Não posso culpá-lo, apenas odiá-lo por ser um... um merdas. Mas Charlie — e parou de falar ali, olhando o amigo bem nos olhos — O que eu farei? Olhe para mim, sou uma ameaça... Eu não sabia que isso era possível até... até que... Eu me transformei numa coisa horrível esta noite!

     Nick cerrou os olhos e pôs-se a chorar novamente, com as mãos no rosto, gemendo: — Estou tendo uma completa crise canina.

     Charlie interviu, abraçando-o por cima do lençol em suas costas: — Nós vamos descobrir um jeito de consertar isso, não se preocupe. Não se preocupe.

     Mas tudo o que conseguia pensar era em como ele, um garoto magricelo e franzino, iria acalmar o amigo numa noite de lua cheia — ou qualquer momento de estresse, tensão e outras emoções fortes —, e se isso seria mesmo possível. Não queria pensar muito sobre isso, portanto abraçou Nick ainda mais forte do que da primeira vez.

     — Precisamos descobrir, por enquanto, o que Ben pretendia, ou se sabe de algo. Até lá — disse Charlie — Não podemos arriscar o levando para a escola. Tudo bem?

     Olhou para Nick, mas não recebera uma resposta sequer. Acariciou os cabelos loiros e macios, como fios de ouro, do amigo e encostou a ponta do queixo em sua cabeça. Ficaria o resto da madrugada ali se pudesse.

     Já Nick, sentia-se impotente. A sensação de estar perto de Charlie o confortava, e assustava.

Unstoppable: A "Heartstopper" TaleOnde histórias criam vida. Descubra agora