8. Multiverso

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CHARLIE E ELLE CONVERSARAM ATÉ TARDE sobre Nicholas Nelson naquela noite; o garoto, deitado numa poltrona, com os dedos enrolados no fio do telefone, deixava escapar risadinhas enquanto Elle pontuava a quantidade de vezes que Nicholas fora gentil e comentava o quão fofo ele estava sendo com Charlie nas últimas semanas.

     De repente, a voz de Elle soou diferente. Charlie quase não entendeu o que a amiga quis dizer, pensou ter sido culpa da estática a voz de Elle ter soado robótica:

     — Elle? — chamou o garoto, encarando o sofá da sua sala — Elle...?

     — Nossos amigos estão correndo perigo.

     — C-Como é...?

     Certeza de que aquela voz não era de Elle Argent, Charlie falava com outra pessoa. Talvez... Tao? Vai ver era apenas um trote. Ninguém falou coisa alguma.

     Foi preciso a sua mãe ir lá na sala para acabar com a conversa dos dois:

     — Anda, Charlie. Amanhã vocês dois têm aula! — e ela tomava posse do telefone, afastando as mãos do filho — Tenha uma boa noite, Elle!

     A pessoa respondia, do outro lado da linha, atenciosamente: — Nós podemos morrer...

     Depois de alguns segundos com o telefone próximo ao ouvido, a Sra. Spring responde, quase sussurrando: — Anotado.

     "Mas mãe" foi o que Charlie pensou em dizer, mas, com um único olhar da mãe, reconheceu imediatamente a sua derrota. Não haveria mais fofocas sobre filmes, séries e Nicholas Nelson por hoje, nem uma explicação para aquele trote. Estava tarde. Assim, Charlie subiu para o seu quarto, um degrau por vez, como sempre faz quando está pensativo; e havia um motivo para todos esses sentimentos.

     "Nossos amigos estão correndo perigo" lembrou-se durante a noite toda. Não parecia ser coisa de Elle, tampouco de Tao. Estava ansioso justo agora que seu estômago parecia ter sido invadido por borboletas.

     Foi pensando nisso que o garoto pegou no sono e adormeceu profundamente, sem perceber que horas eram. Não fazia frio. A noite estava calma. Charlie abandonou os pensamentos sobre o garoto loiro e adorável por quem sentia uma atração, uma mistura de sentimentos que não conseguia explicar com palavras, e sonhou com os seus amigos correndo para salvar algo... ou alguém; corriam pela floresta, completamente vendados, fugindo de pessoas más.

     Não durou muito.

     Algo bateu na janela do seu quarto, no segundo andar. O garoto acordou rapidamente, assustado; o sonho que tivera estava tão estranho, havia escutado uma arma ser disparada, então preferiu acordar de uma vez do que encarar o desconhecido.

     Charlie virou a cabeça para o lado da janela e notou que estava entreaberta. Ele nunca deixa a sua janela entreaberta. O seu coração acelerou um pouco.

     — Quem está aí? — Charlie não ousou mover um músculo. Havia alguém ali dentro com ele.

     Ninguém respondeu.

     Não foi assim que tudo aconteceu na primeira vez, pois não?

     "Charlie Spring, não faça isso", pediu uma voz, "Não é assim que o poder da árvore deve ser utilizado..." parecia muito a voz de uma pessoa com quem Charlie estudava no colégio Truham, o Aled Last.

     Mas aquelas memórias não pareciam as suas. Sua mente havia sido invadida, ou duplicada.

     — Poder? Poder da árvore?

Unstoppable: A "Heartstopper" TaleOnde histórias criam vida. Descubra agora