TAO VISITOU ELLE EM SUA CASA naquela mesma tarde. Depois de acompanhar Isaac até a sua casa, era a vez dele encontrar o seu caminho de volta — para a casa de Elle, é claro, sua fiel melhor amiga.
O Tao fala sempre o que quer, veste sempre o que quer e faz cara feia, não importa a situação. Antes, ele desconfiava da aproximação de Nick e Charlie, mas, agora que sabe o quão bobo estava sendo (apesar de agora Nick representar, de fato, um certo grau de ameaça ao amigo), o garoto está tendo a oportunidade de conhecê-lo melhor.
Ele também precisa lidar com o fato de que não vê Elle todos os dias, não como era antes; eles estudavam juntos, riam juntos, tomavam suco de maçã no horário do almoço e, se dessem muita sorte, escapavam de comentários transfóbicos que perseguiam a garota até o último horário.
O Tao, assim como todos os seus outros amigos, queria apenas ser um adolescente normal. Depois de ver o estado físico de Nick, quase sentiu repulsa por seus pensamentos protetores sobre a relação dele com Charlie. Foi pensando nisso que Tao caminhou até a porta de uma grande casa de dois andares: a casa de Elle, um lugar onde ele podia ser normal.
A loja de antiguidades da sua família está fechada no momento, é o que diz a placa de "Voltamos logo". Aparentemente não estão em casa. Fecharam cedo. Ele bate mesmo assim, gentilmente.
— Deixe-me ver isso — diz o garoto, ajustando o gorro usando o seu reflexo no espelho da vitrine como referência. Elle abre a porta neste momento — Olá.
— Olá.
— Posso entrar?
— Uhum. Espera, o Isaac e o Charlie não vieram com você?
— Ér... — Tao olha ao redor, sarcástico. Elle dá um tapa no seu ombro, mesmo que de leve, e o amigo finge um gemido de dor — Não, não vieram — e isso desperta uma certa raiva em Elle.
— Era para o Charlie não se atrasar hoje de manhã! Meus pais quase não me deixam sair de casa, porque estão muito preocupados com as aparições idiotas daquele lobo.
Tao congelou ali mesmo, murmurando: — Eles estão em casa, os seus pais?
— Saíram.
— Vamos entrar. Preciso explicar uma coisa.
— Suas mensagens de hoje? Sim. Porque eu não entendi uma palavra, e não tive paciência de acompanhar.
Os dois subiram imediatamente para o quarto de Elle, cruzando a loja de seus pais e a casa meticulosamente arrumada. Ao bater a porta do quarto, Elle cruzou os braços. Queria ouvir uma explicação para a estranheza dos amigos.
Tao começou, dando um suspiro: — Sinto muito por... O Charlie, ele... Então...
— Não sei porque os meus pais estão sendo superprotetores — admitiu a garota — Sério. Esse lobo, aqui? Deve ser o meu padrasto mágico secreto.
Os dois riram.
— Não, não vamos falar sobre Potter agora! — brincou Tao — Há uma coisa muito séria acontecendo. Na verdade, eu pensei que coisas assim não fossem reais. E pode ser que os seus pais tenham razão em ter medo por você.
— Tao, está me assustando.
— Desculpa. É que...
— Sinto que todos estão mudando ao meu redor. Os meus amigos, os meus pais... E que eu parei, no meio da rua, com medo de alguém vir e me acertar. Não consigo acompanhar!
O olhar de Elle encontrou o chão do quarto. Tao não estava entendendo, então tirou o gorro. Sentado na beira da cama da amiga, ele a chamou para mais perto. Os dois sentaram de cabeça para baixo, como faziam o tempo todo, os cabelos caídos e os olhos recheados de sentimentos.
Elle não falou coisa alguma por dois minutos. Tao queria que ela se sentisse segura para falar, portanto aguardou pacientemente. Eles brincavam de encarar um ao outro.
— Encontrei com alguns amigos do Truham hoje — comentou ela, mudando a direção do olhar — Mas quando eu fui cumprimentá-los, eles... Bem, eles não... Eles não me reconheceram, nem por um segundo, e fizeram piadas. Me senti péssima.
Tao acenou com a cabeça, tristonho.
— É tão estranho. Quer dizer, não precisa ser estranho se eu...
— Não, não. Deixa estar. Os momentos estranhos fazem parte, e isso não é culpa sua! O que seria da nossa amizade sem eles, não? — brincou o garoto.
— As garotas do Higgs são bem legais. Fazem tudo ficar mais leve, e elas sempre falam coisas gentis. Gostaria de continuar a mesma para todos os meus amigos.
Tao procura a mão de Elle no colchão e a segura, olhando bem nos seus olhos.
— Ainda és a Elle. Se as pessoas não reconhecem isso, então... Então não vale a pena lamentar. Principalmente transfóbicos do Truham que, definitivamente, nunca foram os seus amigos! Sabe, eu continuo comprando o seu suco de maçã...
— O quê? — ela ri, cobrindo o rosto com as suas mãos dadas — Espera... — ela ri ainda mais.
— É sério! É idiota.
— É, é mesmo. O que está acontecendo conosco? — pergunta Elle, o olhar distante.
Tao gostaria de ter as respostas para todos os problemas de Elle, ou para os dele. Mas o garoto não possuía tal poder ou conhecimento. Gostaria de perguntar se os pais da sua amiga poderiam ajudar com o problema do Nick Nelson, pelo seu amigo Charlie, porém, ao invés disso continuou de mãos dadas com Elle Argent.
De repente, sentiu alguma coisa dentro do seu peito.
Tao não gostou muito da sensação.
O coração havia acelerado de repente.
— Nick Nelson é um lobisomem — berrou, sem querer. Os seus olhos arregalaram. Os de Elle também — Por isso as mensagens de hoje. Desculpa.
Ela levantou, largou a mão de Tao e disse, em alto bom som: — COMO ASSIM?!
— Eu sei! Eu sei! Difícil de explicar, mas... Elle, precisamos da sua ajuda.
— Pensei que isso tivesse sido um surto do Charlie, ou uma piada! — Elle deu um salto da cama.
— Os seus pais... Eles têm como nos ajudar. Podemos vasculhar a loja deles? Se não for pedir demais. Pelo Charlie.
Depois disso, Elle concordou em ajudar, e os dois conversaram um monte sobre o assunto. Havia mesmo muita história para contar — e descobrir, principalmente no grande acervo de livros da sua família, que foi onde vasculharam o máximo de livros e documentos possíveis até os pais de Elle chegarem.
Tao teve de recusar ficar para o jantar. Os dois encontraram um problema em sua busca que afetaria o resto da semana, visto que a próxima lua cheia seria em poucos dias.
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Unstoppable: A "Heartstopper" Tale
FanfictionCharles Spring e Nicholas Nelson estão na mesma escola, mas nunca se conheceram... até ao dia em que são obrigados a sentar-se lado a lado. Eles rapidamente se tornam amigos, e Charlie começa a apaixonar-se por Nick, embora ache que não tenha qualqu...