CHARLIE E ELLE CONVERSARAM ATÉ TARDE sobre Nicholas Nelson naquela noite; o garoto, deitado numa poltrona, com os dedos enrolados no fio do telefone, deixava escapar risadinhas enquanto Elle pontuava a quantidade de vezes que Nicholas fora gentil e comentava o quão fofo ele estava sendo com Charlie nas últimas semanas.
Foi preciso a sua mãe ir lá na sala para acabar com a conversa dos dois:
— Anda, Charlie. Amanhã vocês dois têm aula! — e ela tomava posse do telefone, afastando as mãos do filho — Tenha uma boa noite, Elle!
A garota respondia, do outro lado da linha, atenciosamente: — Boa noite, Sra. Spring. Diga ao Charlie para não se atrasar amanhã, ou os meus pais surtam.
— Anotado.
"Mas mãe" foi o que Charlie pensou em dizer, mas, com um único olhar da mãe, reconheceu imediatamente a sua derrota. Não haveria mais fofocas sobre filmes, séries e Nicholas Nelson por hoje. Estava tarde. Assim, Charlie subiu para o seu quarto, pulando dois degraus por vez, como sempre faz quando está muito feliz; e havia um motivo para toda essa felicidade, por acaso o seu nome é Nicholas, o jogador mais fofo e adorável do time de Rúgbi que andava cercando Charlie.
Com a cabeça já deitada no travesseiro, os braços afagando a pelúcia de ursinho, o garoto imaginava as inúmeras vezes em que os dois trocaram um "oi" durante as aulas, os intervalos, o horário do almoço e treinos. E assim se passaram semanas desde que se conheceram, quando a caneta de Nicholas explodiu no meio da aula. Charlie mal podia esperar pelo próximo "oi" que ouviria sair da boca de Nicholas, e então sorriria contente em resposta.
Por outro lado, os garotos do time de Rúgbi não estavam sendo uma boa companhia, especialmente o tal de Ben Hope; Charlie havia se encontrado algumas vezes com Ben, até o considerou seu namorado, mas foi tudo uma mentira. Os amigos de Charlie perceberam que alguns deles foram gentis e, de uns tempos pra cá, os mais inconvenientes finalmente deixaram o garoto em paz.
No fundo, Elle sabia que isso acontecera por influência de Nicholas.
"É só uma paixoneta passageira" dizia o seu amigo, o Tao. Mas Charlie não dava ouvidos, porque Tao sentia a mesma coisa por sua amiga Elle, e mesmo assim não movia um músculo para lhe dizer a verdade. No fundo, isso não importava. Afinal, talvez os dois quisessem assim.
Charlie, por outro lado, não. Se houvesse uma pequena chance de ser mais que apenas o amigo de Nicholas, então era nessa chance em que ele gostaria de acreditar.
Foi pensando nisso que o garoto pegou no sono e adormeceu profundamente, sem perceber que horas eram. Não fazia frio. A noite estava calma. Charlie abandonou os pensamentos sobre o garoto loiro e adorável por quem sentia uma atração, uma mistura de sentimentos que não conseguia explicar com palavras, e sonhou com os seus amigos reunidos num Arcade.
Não durou muito.
Algo bateu na janela do seu quarto, no segundo andar. O garoto acordou rapidamente, assustado; o sonho que tivera estava tão bom, até Tao vencê-lo no boliche, então preferiu acordar de uma vez do que encarar a derrota.
Charlie virou a cabeça para o lado da janela e notou que estava entreaberta. Ele nunca deixa a sua janela entreaberta. O seu coração acelerou um pouco.
— Quem está aí? — Charlie não ousou mover um músculo. Havia alguém ali dentro com ele.
— Desculpa — ouviu uma voz amigável dizer — Desculpa, desculpa... Eu não queria acordar você assim.
E, por incrível que pareça, era a voz de Nicholas Nelson! Nicholas, a sua paixoneta, bem ali no seu quarto às... às três horas da madrugada...?
Charlie precisou esfregar os olhos bem depressa para acreditar no que estava vendo: o seu relógio indicava três horas da madrugada. Mas o mais difícil de acreditar foi o fato de que Nicholas encontrava-se seminu no seu quarto.
O garoto finalmente saía das sombras, assustado.
— Nicholas?! — Charlie deu um salto da cama, tampando a própria boca em seguida, pois percebeu que havia gritado o nome do amigo — Nicholas...? O que está fazendo? — ele sussurrou desta vez.
— Alguma coisa está acontecendo comigo. Eu... eu... eu meio que surtei...? E acho que preciso da sua ajuda. Por favor, Charlie, você tem que me ajudar! — o garoto tentava manter o que sobrara de suas roupas cobrindo seu corpo, mas falhou nisso. Algumas lágrimas escapavam de seus olhos.
Charlie correu para cobri-lo com o seu lençol. Estava levemente envergonhado.
— Como foi que você entrou aqui? — perguntou, estupefato, observando o colega.
— Acho que pulei muito alto — brincou.
— Onde estão as suas roupas, Nicholas? O que aconteceu?!
— Podemos ir mais devagar, por favor?
— Desculpa.
— Não, não peça desculpa. Você está proibido de falar essa palavra, lembra? E fui eu quem invadiu o seu quarto, não foi? — Nicholas dá uma risada, fungando levemente — Eu tive um... um péssimo pesadelo. Primeiro, eu me transformava em um... Em um Golden Retriever!
Nessa hora, Charlie teve que segurar a risada para não acordar a casa inteira, muito menos magoar os sentimentos de Nicholas; lembrou-se do dia em que Tao e Isaac o chamaram de "Golden Retriever" durante um treino de Rúgbi que assistiram a pedido de Charlie.
O garoto achou melhor abandonar essa lembrança.
— Essa não é a pior parte. Pensei que a mordida e os sintomas estranhos que estava sentindo eram a pior parte — comentou Nicholas — Mas essa é — e assim o garoto ergueu o pouco que havia sobrado da sua blusa, exibindo uma enorme ferida aberta. Uma mordida.
— Isso é...
— Uma mordida. Sim.
Charlie conseguiu decifrar a ferida de Nicholas. Não era uma mordida comum.
— Nicholas, o que...
— Charlie — o garoto segurou no ombro do amigo — Já passamos da fase de "Nicholas" e "Charles", pois não? Eu vim até aqui porque... Porque você é a única pessoa em quem eu mais confio agora.
Naquele momento, Charlie teve a certeza de que havia corado. Pois então prosseguiu, sorrindo, mas ainda muito preocupado: — Nick... O que houve depois do seu sonho? Quero dizer, o que houve depois do seu pesadelo?
Nick o observou, bem no fundo dos olhos, lutando contra a vontade de chorar, mas resistiu bem. Sabia que ali ele estaria completamente seguro. Então, abriu a boca e disse:
— Você acredita em lendas? Então, é melhor ir sentando...
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Unstoppable: A "Heartstopper" Tale
FanficCharles Spring e Nicholas Nelson estão na mesma escola, mas nunca se conheceram... até ao dia em que são obrigados a sentar-se lado a lado. Eles rapidamente se tornam amigos, e Charlie começa a apaixonar-se por Nick, embora ache que não tenha qualqu...