11. Folhas

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CHARLIE NÃO CONSEGUIA MOVER as pernas. E sabia o que isso significava. Aled também percebera.

     — Vão sem mim — Sugeriu Charlie — É o único jeito. Aled vai guiá-los até a árvore.

     — Charlie, nós dois sabemos qual é o único jeito. A sua perna... — Aled ajoelhou-se ao lado de Charlie, apalpando levemente o pé do amigo.

     Tara abraçava Darcy com muita força, cobrindo o rosto em seu pescoço. Estava chorando. O medo havia tomado conta dela; Elle e Tao se abraçaram também, enquanto Zoya apalpava o ombro de Elle, que encarava o corpo caído do lobo de Ben.

     — Consegue mexer? — Aled perguntou.

     — Não... não sinto... Ai! O que você fez?

     — Está torcido. O tornozelo. É a adrenalina — Explicou.

     Charlie olhou ao redor e encontrou Ben. No momento, não sentiu emoção alguma, mas respirou fundo, pedindo para Aled ir checá-lo. Ele o fez. Mas era tarde. Muito tarde.

     — Não... — Zoya apontou para o corpo. O lobo de Ben havia desaparecido. Agora, apenas a sua forma humana permanecia sobre o chão, de olhos abertos. Charlie sentiu o seu estômago revirar.

     Ele...

     Ele...

     Ele foi alguém. Não merecia morrer.

     — Não há algo que eu possa fazer — Os olhos e mãos de Tara brilhavam. Mas não havia magia que pudesse salvá-lo.

     Zoya seguiu em sua direção, agachando ao seu lado e fechando os seus olhos. Uma vida interrompida.

     — Precisamos parar o Dav... o alfa.

     Charlie ainda não conseguia assimilar as informações ao seu redor. Sentiu uma aura luminosa tomar conta de si. Olhou para Aled, e ele sabia o que aquilo significava.

     — Precisamos agora... Eu preciso encontrar os pais desse menino...

     — Não os conheci — Comentou Charlie.

     — Encontrarei os pais desse menino. Pobre menino.

     Elle murmurou: — Ele nos salvou. Ele me salvou. Me deu tempo. Idiota...

     Tao abraçou a amiga.

     — Vamos tirá-lo daqui — Sugeriu, juntando-se ao pequeno grupo formado por Zoya, Tara, Darcy e Elle, que, com a ajuda da magia de Tara, guiaram o corpo de Ben até o lado de fora.

     Aled encarou Charlie, ainda pensativo.

     Uma falsa sensação de paz? Não saberia responder.

     — Nós sabemos o que fazer. Mas... apenas um está em paz com isso — Disse Aled.

     — Parece errado, Aled.

     — Mas é o que há.

     — A nossa missão não seria protegê-la?

     Aled suspirou, ansioso: — Não existirá árvore se o alfa triunfar. Assim, poderemos acabar com o seu plano. Se ele triunfar, todos nós sofreremos as consequências. Todos a quem ela protege. O multiverso.

     — Oliver... — Murmurou Charlie.

     — Não se trata apenas de lobisomens agora, percebe? Quando a hora chegar, nós saberemos o que fazer. Você está pronto?

     Tao entra na cela, sozinho: — Não vai acabar por aí. Nick precisa matar o alfa. Ouviram o que ele disse. O avô deles foi morto... Laços sanguíneos.

     — Ou a maldição permanecerá.

     Zoya entra na cela.

     — É melhor cuidar dessa ferida — Disse ela, apontando para Aled. Possuía uma ferida escondida no braço.

     O garoto deu de ombros.

     — Feitiço de cura — Disse, olhando para o Charlie — Posso ajudar com o seu tornozelo, se quiser.

     Charlie fez que não com a cabeça, desviando das mãos de Aled. Sabia o que fazer. Portanto, fechou os olhos e concentrou-se o máximo que pôde.

     Imagens invadiram o seu consciente.

     Viu o seu quarto escurecido.

     — Charlie... — Ouviu Nick chamar. De repente, galhos de árvore invadem o seu quarto. Ele acorda. O pé curado.

     Tao está de olhos esbugalhados.

     — A SUA MÃO! COMO EU VOU EXPLICAR ISSO PARA A SUA MÃE?! — Apontou, desesperadamente. Haviam folhas saindo das mãos de Charlie. Várias delas caíam pelo chão, formando um caminho de folhas.

     Era ele.

     Era o caminho até ele.

     — Nick — Disse.

     — Vamos encontrá-lo, Charlie — Tao falou, observando as folhas tomarem conta da cela.

     — Vamos encontrá-lo — Charlie concordou.

     Charlie fora guiado pelas folhas que caíam no chão, formando uma trilha, para fora do bùnquer cinzento de David.

     Já lá fora, encontravam-se Tara, Darcy e Elle, com o corpo de Ben envolvido por uma manta brilhante esverdeada; o seu rosto parecia sério, mas agora ele poderia descansar, despreocupado.

     Charlie não falou coisa alguma, apenas seguiu com a sua missão de seguir as folhas até Nick, porque sabia que elas o guiariam até ele. De certa forma, estavam conectados. O garoto continuou andando, mas ninguém o seguiu, exceto pelo manto onde Ben repousava. Tara percebera o movimento involuntário, mas usou a magia para trazê-lo de volta à entrada do bùnquer, no meio da floresta.

     Ben Hope, em vida, era um garoto confuso e procrastinador; demorava para pedir desculpas, amadurecer, e pensar em não machucar aqueles que amava, até mesmo aqueles que não amava, assim como as pobres almas que apenas cruzavam o seu caminho. Naquela noite, diante da situação mais perigosa de sua vida, Ben não hesitou em fazer alguma coisa. Ele fez alguma coisa.

     Sem dizer mais nada, ou sequer olhar para trás, Charlie seguiu o seu caminho, floresta adentro.

Unstoppable: A "Heartstopper" TaleOnde histórias criam vida. Descubra agora