6. Ferido

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CHARLIE CORREU O MAIS RÁPIDO QUE PÔDE para ajudar Nick e Isaac, segurando a bolsa de tramazeira com força na mão.

     Ele desamarrou a bolsa e enfiou a sua mão lá dentro, retirando um punhado de um pó preto, que brilhava à luz da lua.

     — Vamos lá — Murmurou — Faça cada grão valer a pena.

     Então, começaram os trabalhos; Isaac procurou silenciosamente pela casa algo que pudesse atrair um lobisomem gigante, enquanto que Nick subia até o segundo andar.

     Abriu a primeira janela que viu pela frente, e jogou seu corpo para o lado de fora, sem pensar duas vezes. Queria muito que o lobo tomasse conta agora, mas os meninos poderiam perdê-lo para o controle mental do alfa, consequentemente perdendo sua vantagem, que seria o trabalho em equipe.

     — Vamos, vamos... — Murmurou Nick, mordendo os lábios inferiores. Conseguia ver o alfa dali. A criatura enorme estava sentada e de olhos fechados, os pelos majestosos voando com o vento.

     "O que ele está fazendo?" pensou o garoto.

     Enquanto Nick observava a criatura, ela abre a boca e de lá sai um uivo.

     Um uivo de terror e desejo de poder, mas ao mesmo tempo um uivo de tristeza. Muita tristeza.

     É quando Nick percebe a verdade.

     — Não é o alfa! — Exclama, deslizando. O ruído é o suficiente para chamar a atenção do lobo, que muda a sua expressão rapidamente. Está zangado.

     A distração de Isaac funciona, aparentemente; um rádio emite um chiado muito irritante, pensou Nick. O garoto tampa os ouvidos imediatamente. E se transforma. Um lobo castanho surge no telhado, uivando.

     — NICK! — Gritou Isaac, da janela do seu quarto. O lobisomem de Nick olhou rapidamente para o lobo enorme, tentando atacar o garoto próximo à janela.

     O lobisomem de Nick voou na direção do lobo, agarrando-lhe pelas costas, arranhando sua pele. Ele produz um uivo estressado, tentando removê-lo com a boca, remexendo a cabeça de um lado para o outro.

     — NICK! — Continuou Isaac.

     Charlie, por outro lado, estava prestes a completar o seu círculo de tramazeira ao redor da casa.

     O garoto respirou fundo, limpou o suor excessivo da testa, e enfiou a mão novamente dentro da bolsa surrada. Só mais um pouco... Conseguia ver o jardim dianteiro da casa. E duas luzes também: era o carro da mãe de Isaac, a Sra. Henderson.

     Charlie correu na direção da mulher que saía do veículo, cantarolando, sem fazer um barulho sequer, largando a bolsa no chão. Ela se surpreende com o garoto, mas não antes de ter sua boca tampada por ele.

     Ela emite alguns sons de pânico, mas Charlie aponta para o telhado de sua casa. Espero que ela entenda, pensou ele, mas de certeza que a mulher compreendeu. Arregalou os olhos e parou de se remexer.

     — NICK! NÃO! — Gritou Isaac. A maior vontade de Charlie era largar a mão do amigo e ajudar Nick, imediatamente. Mas não o fez.

     Mas a Sra. Henderson não se controlou. Livrou-se de Charlie e correu na direção dos gritos.

     — MEU FILHO! MEU FILHO! — Gritava.

     Assim, os lobos voltam suas atenções para a Sra. Henderson, que grita cheia de terror. O lobo pula em sua direção, irritado, com as garras esticadas. Nick colocou-se entre a mulher e o lobo, atacando o seu braço.

     Isaac aparece com o rádio no andar de baixo, assustado.

     — MÃE, NÃO! CHARLIE, O CÍRCULO!

     O lobo, irritado com aquela barulhada toda, volta-se contra Isaac em contrapartida.

     — NÃO! — Grita Charlie, quando Isaac é arremessado para dentro de casa, caindo no chão inconsciente.

     Assustado com a situação, Charlie usa um punhado de tramazeira da bolsa caída para cegar a besta. Ela urra de dor, com uma nuvem de fumaça ácida. A criatura vai diminuindo, diminuindo, e diminuindo ainda mais. Sua pelagem vira pó. Todos os seus traços sobrenaturais viram pó.

     Charlie estava prestes a enfiar uma adaga no coração da criatura quando alguém interfere na ação. Uma mulher ruiva e de coque firme.

     — Não! Não faça isso! — Ordenou — Nós assumimos daqui!

     — Você é uma caçadora...!

     A mãe de Isaac corre na primeira oportunidade para dentro de casa. Nick está largado no chão, remexendo-se, já na forma humana. Estava chorando por causa da tramazeira.

     — Nick... — Charlie corre na direção de Nick.

     Quando a mulher de cabelos ruivos aproxima-se do lobo, agora numa forma estranha, ela desvia o olhar.

     — Ele... ele é... Está nessa forma há anos, mas... não é o alfa! — Exclamou, agora cutucando a perna da criatura. Era grande, magro, muito magro, e com poucos fios de cabelo na cabeça.

     A criatura murmurava: — Família... Família... Minha família...

     — Charlie... — Chamou Nick, estendendo os braços — Não. É. O. Alfa.

     Os gritos da Sra. Henderson invadiram os ouvidos dos meninos, aterrorizados. Sabiam o que aquilo significava. Charlie estava arrepiado. Havia... havia falhado.

     "Uma realidade sem Isaac..." pensou.

     — Mordê-lo... — Sugeriu Nick — Posso mordê-lo.

     A mulher de cabelos ruivos gritou: — NÃO! NÃO, GAROTO, não vale a pena... É arriscado. Vocês são menores de idade, e até comprovarmos a vossa inocência...

     Charlie fechou os olhos, chorando. Nick o consolou, abraçando-o.

     — Eu sinto muito... — Disse a mulher, resolvendo se atirava ou não na criatura. Mas não atirou. Porque alguém resolveu disparar uma arma contra ela, bem na cabeça, atravessando o olho esquerdo.

     Charlie escondeu o rosto no peito de Nick, gritando.

     — Sinto muito, Zoya — A voz do atirador era familiar. E, infelizmente, Nick a reconhecera.

     Era o seu irmão David.

Unstoppable: A "Heartstopper" TaleOnde histórias criam vida. Descubra agora