4. Lobisomem

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ALED OBSERVOU ATRAVÉS DA SUA JANELA a rua tranquila onde mora. Pensou ter ouvido um barulho vindo da casa ao lado, mas era apenas o gato da vizinha.

     Aled não mora muito distante de Nicholas Nelson. Um dia desses, enquanto caminhava ouvindo a sua playlist mais randômica, podia jurar que o havia visto subir até o telhado da própria casa e entrar sorrateiramente no seu quarto; a facilidade com a qual fez aquilo o surpreendera; Aled permaneceu ali, parado na frente do jardim da casa de Nicholas, ouvindo a sua música.

     O garoto desconfiou, por acaso, do vizinho.

     Na noite seguinte, ouvira novamente o mesmo barulho. Deve ser o gato da vizinha, cogitou, mas dessa vez o barulho não soava como um gato, e sim uma pessoa — ou criatura.

     — Hoje não — murmurou. O garoto levantou da cama, deitou os fones de ouvido — E lá vamos nós... — Aled recolheu da escrivaninha um frasco preto, empoeirado. Desceu as escadas e foi até a porta de entrada.

     Aled observou a rua lá fora, depois abriu a porta e ficou de pé na entrada da varanda. De lá, enxergou a vizinha que mora na casa à frente. Ela acenou:

     — Ouviu também? — perguntou ela, enxugando as mãos num pano de cozinha.

     — Uhum — ele fez que sim com a cabeça, curioso.

     A vizinha sorriu: — O que seria de nós sem Aled Last, não é mesmo? — depois disso, deu as costas ao garoto e entrou em casa, despreocupada. Aled por outro lado, não.

     — É — concordou — O que seria de nós...

     Sem demora, Aled despejou o conteúdo do frasco nos degraus da varanda, e em todas as entradas da casa. Quando terminou, deu um sorriso e disse em alto bom som para qualquer um da vizinhança ouvir:

     — Sem criaturas na minha casa. Sem... lobisomens.

     E voltou para o quarto, esperando por um pouco mais de paz.

Unstoppable: A "Heartstopper" TaleOnde histórias criam vida. Descubra agora