8. Árvore

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CHARLIE DEU UM GOOGLE NO ENDEREÇO de Aled e constatou o óbvio: era longe da sua casa.

     Aquilo levantaria muitas suspeitas para o garoto, caso pedisse aos pais para lhe dar carona, ou até mesmo para Tori. Nenhum dos irmãos dirige ainda, e muito menos os amigos de Charlie. A solução foi desenterrar a bicicleta de Tori da garagem, que estava decentemente arrumada no dia.

     Saiu assim que teve a oportunidade, e pediu encarecidamente para que a irmã o acobertasse — "estudando na casa do Tao, pois Nick havia desaparecido, Elle também e, caso ninguém atendesse na casa do Tao, era sinal de que estavam mesmo estudando" — até o jantar.

     Tori assentiu, sem mais perguntas. Por volta das cinco, Charlie chegava num sítio arborizado e fresco; a única coisa que ouvia eram os seus passos por entre as folhas secas. Encontrava-se num mar de árvores, a entrada para um antigo parque da cidade.

     Seu primeiro pensamento fora "suspeitar". Mas não demorou muito para Aled aparecer, bem lá no começo da rua, de onde Charlie viera. O garoto trazia consigo uma cesta de piquenique.

     — Então, vieste mesmo — disse Aled, contente — Sabia que podia contar contigo, Charlie.

     — Sim. Podes contar comigo. Contanto que pare de assustar as pessoas...

     Aled sorriu: — Uma hora elas vão precisar acordar. De qualquer modo, vem comigo. Tente não se perder.

     O garoto acenou com a cabeça para a entrada do parte e guiou Charlie para o que parecia uma caminhada diurna, exceto pelo fato de que nenhum deles tomou o caminho há muito tempo traçado. Pouco depois de virem a última placa do antigo parque, saíram do caminho de terra e desceram alguns metros.

     — E então, o que é que você quer tanto me mostrar? — perguntou Charlie, já impaciente, enquanto desciam floresta abaixo — Por acaso é uma árvore...?

     Aled sorriu: — Sim. Por acaso é isso mesmo. Estamos quase chegando...

     Charlie contentou-se com o "quase chegando" que recebera. Em poucos minutos, atingiram o centro de uma clareira e, bem lá no meio, havia uma árvore. Não era uma árvore comum, atestou o garoto, e sim uma rica e esbelta árvore; Charlie percebeu que Aled observava o seu segredo com um enorme sorriso no rosto, e que as suas folhas pareciam brilhar.

     De fato, aquela árvore que observavam não é como as outras. Esta se destacava pelas cores ricas das raízes, do grande tronco, dos seus galhos e flores.

     — A minha avó costumava dizer que — Aled aterrissou sua cesta de piquenique no pé da árvore, onde sentou-se rapidamente — Se comêssemos um fruto dessa árvore, nunca mais comeríamos comida mundana da mesma maneira. Ficaríamos loucos.

     Charlie ficou de pé, observando Aled. Não pensou em unir-se a ele em momento algum, pois estava desconfiado. O garoto trouxera Charlie para um... piquenique?

     — Eu não entendo — disse.

     — Como assim?

     — Por que é que estamos aqui, Aled? O que é que eu preciso enxergar?

     Charlie cruzou os braços e foi na direção do outro, sério.

     — Preciso saber o porquê de... — ele pensou em Nick, mas não tinha intenções de contar toda a verdade, pelo menos não agora — O porquê de algumas coisas estranhas estarem acontecendo na cidade.

     — Já viste algo que não conseguiu explicar? — perguntou Aled.

     — Já.

     — Lobisomens.

     — Uhum.

     — Bem — o garoto sinalizou para que Charlie sentasse ao seu lado, e ele o fez — Tudo começou com a minha avó. Ela tinha o dom da visão. Nasceu com ele. Isso foi passado para mim, de alguma forma. Ela conseguia enxergar coisas que a maioria das pessoas nem imaginaria, e foi terrível ter de lidar com isso sozinha desde muito cedo, sabe? É exatamente como eu me sinto, sozinho.

     Charlie sentiu-se mal por ter duvidado do garoto, mas ainda precisava de respostas... e não havia recebido uma sequer.

     — Mas nós juramos manter o equilíbrio das coisas usando a nossa habilidade. Ela me apresentou este lugar — Aled apontou para a clareira inteira, como se mostrasse ao Charlie parte de si — E preciso protegê-lo. Assim como as pessoas que estão lá fora.

     — Como assim?

     — O medo gera medo, Charlie Spring. Se descobrirem d'Os Outros de uma maneira abrupta e desinformada, é uma questão de tempo até encontrar a clareira... — o olhar de Aled parecia triste.

     — E por que diabos esse lugar é tão ameaçado? Está abandonado!

     Aled deu um suspiro: — Esta árvore é muito antiga, também muito poderosa. Vive neste sítio sossegado há mais tempo que nós vivemos na Terra. Ela é mágica. E, assim como a maioria das coisas magicas, atrai todo e qualquer tipo de criatura, entre outras coisas, do outro mundo. Inclusive, Lobisomens.

     Charlie arregalou os olhos. Isso trouxe os lobisomens até aqui. Esta árvore. E Nick fora mordido...

     — Você quer respostas? Estão aqui — Aled tocou na raiz da árvore. Nada lhe aconteceu.

     — Aqui?

     Charlie interpretou o conselho de Aled num sentido literal. Ao tocar na madeira da árvore, revirou os olhos e desmaiou. Perdera todos os sentidos e tropeçara numa grande perda da realidade. A última coisa que ouviu fora Aled chamar pelo seu nome, bem distante:

     — CHAR...


Continua...

Unstoppable: A "Heartstopper" TaleOnde histórias criam vida. Descubra agora