21❜ As it was, 1975

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Regulus não sentia tristeza, ele é mais forte do que é creditado por ser. Mas, no fundo de sua alma, ele sabe que sente dor.

Doía e não era eufemismo. Doía como uma maldita surra.

Ele pode ser resumido não como estrela ou nebulosa, nem sequer um universo, mas sim um caos ininterrupto. Quase como se perdas e finais sejam a única coisa que não acaba em sua vida.

A primeira a lhe trair foi uma deusa. Sua criadora. Sua mãe.

Seu corpo foi consumido quando ele pisou na casa gelada aquele fim de tarde, segurando seu malão e uma bolsa de ombro. A casa, embora o tão pouco tempo longe, parecia diferente; desde que aprendeu a sair, voltar sempre torna aquele ambiente diferente. Longe de um lar.

"Senhor Black está de volta." Monstro balbucia, pegando suas malas. "Seja bem vindo de volta à nobre casa dos Black."

"Obrigado, Monstro." Regulus sorri fracamente, erguendo os olhos pela sala.

Era de fato muito chique, com enfeites de jóias e peças raríssimas. Uma decoração requintada, é claro. Preenchida de artefatos e peças de artes, fossem mágicas por si só ou apenas objetos. — Mas, a verdade é que Regulus já não conseguia ficar sentado naquela sala sem janelas, porque, ainda que houvessem sim janelas, ele não as enxergava. E ele sabia que, no fundo, gostaria de se atirar em um mar de ilegalidade e nadar, até morrer.

"Reggie?" Virou-se com a voz familiar. Orion ganhou um rosto, de certa forma, iluminado. E, segurando em uma muleta, ele se aproximava.

O garoto sabe que ele estava velho, amaldiçoado, e com saúde deteriorada. Para piorar, no mês passado havia recebido uma carta avisando que sua situação piorou demasiadamente depois da varíola de Dragão que andava afetando a medicina bruxa recentemente devido à torneios clandestinos com pobres animais.

"Papai." Regulus mantém-se neutro, mesmo diante do grande sorriso.

"Oh, o que você está esperando?! Venha cá, por Morgana, você está enorme!" Orion se aproximou em passos difíceis, obrigando o menor a se apressar até ele para que não haja esforço, o abraçando.

"Não se passou sequer um semestre, pai." Revira os olhos com o rosto contra o casaco preto sem jeito, porém, de certa forma, aquecido com aquelas migalhas de normalidade.

O homem responde com o silêncio, acariciando os cabelos do filho antes de quebrá-lo. "Seu cabelo está muito bonito. Ótima escolha de penteado."

"...Obrigado, papai." E seus olhos estão vazios, para a parede, para o nada. Não há pensamentos, mas há muitos.

"Filho...Eu fiquei sabendo do seu jogo, meus parabéns. Você me orgulha."

"Não foi...Nada de mais." Regulus cora, se afastando desajeitadamente enquanto desamassa o colete e retoma à realidade.

"Bom, para mim foi. Ouvi dizer que foi um mergulho invertido!" Orion se senta, com a ajuda do menino.

"Onde..." Regulus endireita os cabelos, puxando o ar quando fecha os olhos, engolindo o nada. "Onde ela está?"

"Na sala de reuniões, creio." Orion oferece um sorriso entristecido.

E após um longo silêncio o menor suspira, se sentando ao lado do homem e mexendo as mãos suadas. A postura perfeitamente ereta diferentemente ao pai, que já não tinha força para se manter.

"É sobre ele?" O homem sussurra.

Aquela casa é assombrada, e ambos sabiam daquilo. Odiar seu pai não era a realidade, apenas sentir muito, porque ele era um homem muito covarde. E Regulus era igual a ele.

BORN TO DIE | ✔ starchaser. (reescrita!)Onde histórias criam vida. Descubra agora