02.

1K 51 25
                                    

DULCE

MEUS SAPATOS ATINGIRAM o pavimento em um ritmo constante e tentei me concentrar na minha respiração. Correr não era minha atividade favorita, nunca fui o que você chamaria de atleta. Mas algo acontece quando você faz trinta anos e simplesmente não consegue se recuperar da mesma maneira.

Minhas amigas e eu não conseguíamos mais, pelo menos.

Não com tudo que fazia parte da nossa rotina: Segundas de Martini; Terças de Taco; Quartas de Vinho; Quintas Sedentas; Sextas Gordurosas (não julgue). Além de comer pizza barata e sorvete de chocolate quando uma de nós tem um término épico. Vamos ser honestas, melhores amigas não podem se esquivar de seus deveres de comer besteira e ficarem bêbadas só porque a separação ocorreu depois dos vinte e nove anos.

— Terminamos? — perguntou Anahi.
Ela corria ao meu lado com a maquiagem intacta, linda como sempre. Seu cabelo escuro e volumoso estava em um lindo rabo de cavalo enrolado que balançava conforme ela se movia. Maite olhou para seu relógio de alta tecnologia.
— Quase.
Estamos em quatro quilômetros.
Faremos quatro e meio hoje.
— Ugh — disse Anahi.
Ela parecia chateada, mas nem estava sem fôlego.
— Anahi...
— Respira. — Você está indo muito bem.
— Respira.
— Você nem está respirando com dificuldade.
— Sua taxa metabólica melhorou — disse Maite, empurrando os óculos no nariz.

Eu era a melhor amiga de Maite e Anahi desde sempre. Nós três morávamos no mesmo prédio agora, mas nos conhecemos no ensino médio e poderíamos ter sido eleitas as meninas com menos probabilidade de serem melhores amigas.
Éramos tão diferentes.

Anahi sempre foi excepcionalmente bonita e popular. Os homens a amavam e as mulheres queriam ser como ela. Maite era linda à sua maneira, mas tendia a minimizar tudo. Além disso, ela era brilhante, um verdadeiro gênio. Acho que até tinha uma placa em sua homenagem em algum lugar.
E tinha eu.
As pessoas geralmente me chamavam de fofa, em vez de bonita. Ser loira e reconhecidamente um pouco borbulhante aumentava o fator fofo. Eu tinha a reputação de ser otimista, e era verdade. Costumava ver o lado bom em tudo, e todos – o que ocasionalmente me colocava em apuros.
Ok, talvez não ocasionalmente.
Frequentemente me colocava em apuros.

— Você percebe que estou fazendo isso somente para compensar a imensa quantidade de vodca que planejo beber esta semana, certo? — perguntou Anahi.
— Anahi, nós já discutimos sobre os benefícios do exercício regular — disse Maite.
— Para começar...
— Pare. — Anahi e eu dissemos ao mesmo tempo. Nós amávamos a Maite, mas quando ela começava a falar de alguma coisa, era difícil pará-la.
— Nós já ouvimos seu discurso sobre estatísticas pelo menos doze vezes — disse Anahi.
— É muito bom, aliás — disse, entre respirações.
— Boas informações, sabe?
— Estou apenas dizendo que os fatos estão bem documentados — disse Maite.

Chegando ao parque onde tínhamos começado nossa corrida, diminuímos o ritmo para uma caminhada para esfriar o corpo. As luzes da rua acenderam acima de nós. Geralmente corríamos de tardezinha, e o sol logo estaria se pondo.
Coloquei as mãos nos meus quadris e respirei fundo.

Maite pressionou os dedos ao lado da garganta, medindo seu pulso.
Ela sempre registrava no início e no final de cada corrida.
Anahi pegou o celular do sutiã esportivo e verificou suas mensagens.

— Bom trabalho, meninas — disse.
— Foi uma ótima corrida.
— Foi mesmo — Maite completou.
— Mas acho que estamos chegando a um limiar.
Talvez possamos começar a incorporar fartleks.
— Desculpa, o quê? — perguntou Anahi.
— Você falou farte-alguma-coisa?
— Fartleks — Maite disse. — É um termo sueco que significa jogo rápido.
Ele combina treinamento contínuo com intervalos – períodos de corrida rápida interrompidos por períodos de recuperação em um ritmo mais lento.
Anahi riu.
— Não vejo como correr em qualquer ritmo seja considerado um período de recuperação.
Ainda estaremos correndo.
— Eu não sei, parece bom para mim — disse.
— Maite pode montar o programa e nos dizer o que fazer.

PERFECT PROPOSAL - Vondy (Adaptação) Onde histórias criam vida. Descubra agora