32.

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DULCE

— DULCE?

Eu ouvi a voz de Anahi através da porta, seguida por três batidas bruscas.

— Dulce, você está aí?
— Entre.

A porta abriu, mas não consegui vê-la.
Havia muitas caixas no caminho.
Os carregadores deixaram minhas coisas ontem, e eu ainda não tinha levantado um dedo para guardá-las.
Ela espiou através da pilha de caixas.

— Ev... ah, Deus.
Maite, está pior do que pensávamos.

Anahi entrou na sala na ponta dos pés, como se tivesse medo de tocar em qualquer coisa.
Maite estava logo atrás.
As duas olharam ao redor do meu apartamento, com expressões de horror em seus rostos.

— Parem de me julgar — disse.

Era uma coisa ridícula de dizer.
Elas definitivamente deveriam estar me julgando.
Eu estava com um velho pijama desde que cheguei em casa, duas noites atrás. Meu cabelo estava em um nó bagunçado no topo da minha cabeça – e não o tipo bonito coque bagunçado.
Eu não colocava nenhuma maquiagem há dias, mas, de alguma forma, ainda tinha manchas de rímel em minhas bochechas.
Eu estava cercada pela evidência vergonhosa da minha festa de piedade pós-separação. Uma caixa de chocolates, uma mordida em cada um até encontrar os que eu gostava. Um pote de sorvete meio vazio, os restos do que parecia uma sopa. Uma ladainha de tristes canções de amor tocadas em meu alto-falante bluetooth – eu encontrei uma playlist de términos no Spotify – e comecei, pelo menos, cinco poemas em um caderno espiral, que agora chamava de meu diário de poesia. Anahi levantou a tampa de uma caixa de pizza e olhou dentro, estremecendo.

— Dulce Saviñón, que diabos?
— Desde quando você está aqui? — perguntou Maite, olhando uma pilha de livros de autoajuda que eu desenterrei das profundezas da minha estante empoeirada.
— Voltei na terça à noite.
— Você fez tudo isso em menos de setenta e duas horas? — perguntou Anahi.
— Por que você não nos ligou antes?
— Eu não estava pronta para enfrentar vocês.
— Ah, querida. — Anahi pegou uma caixa de tinta de cabelo rosa.
— Sério?
— Eu não usei.
— Graças a Deus.
— Ela a jogou por cima do ombro.
— Ainda não.
Estou esperando primeiro a hora marcada no cabeleireiro.
Anahi fez um barulho de dor.
— Maite, você se importa em fazer anotações?
Não quero esquecer de cancelar o cabeleireiro de Dulce.
Ela já estava com o celular na mão.
— Deixa comigo.
Qual salão, Dulce?
— Você não vai cancelar.
— Claro que vou — disse Anahi.
— Eu não confio em você para fazer isso, e eu seria uma péssima amiga se a deixasse fazer um corte de cabelo pós-término.
Eu não fiz isso quando foi com a Maite, e todas nós sabemos como isso acabou.
— Levei um ano para deixar essa franja crescer
— Maite disse.
— Acredite em mim, Dulce, agora não é hora para decisões precipitadas sobre o seu cabelo.
Você só vai acabar com um monte de fotos das quais se arrependerá.
E elas ficarão nas redes sociais de onde nunca, nunca irão embora.
— Eu quase não uso as redes sociais.
— Não importa — disse ela.
— Vou te dizer uma coisa, se você quiser pintar de rosa, faremos algo temporário, como alguns papéis ou giz para cabelo.

Eu gemi, puxando minha manta de tricô em volta dos meus ombros.

— Eu não me importo com o cabelo rosa.
— Tudo bem, mas precisamos fazer algum progresso aqui — disse Anahi.
— Caso contrário, você ficará na fase da sofrência por meses.
— Faz menos de três dias — disse.
— Eu ainda posso sofrer.
Ela sentou na beira do sofá perto dos meus pés e apertou minha perna.
— Pode, sim.
E nós vamos sair para ficar bêbadas esta noite.
Mas, talvez, devamos sofrer usando roupas limpas.
— Dulce, ainda preciso do nome do salão — disse Maite.
— Red X no Capitol Hill — murmurei.
Anahi esfregou minha perna.
— Você quer nos contar o que aconteceu agora ou devemos ir buscar bebidas?
— É de manhã — disse.
— Você se lembra quem somos? — Anahi perguntou. — Beber no café da manhã é a razão de terem inventado bloody marys e mimosas.
— Bem pensado.
Mas bebi um pouco de vinho ontem à noite, e não acho que estou pronta para mais álcool ainda.
— Quanto vinho você bebeu? — perguntou Maite, pegando a garrafa vazia.
— Essa garrafa.
— Apenas uma? — perguntou Anahi.
Concordei.
— Mas eu não usei uma taça.
— Ah, senhor — disse Anahi.
— Ok, querida, diga o que aconteceu.

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