04.

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DULCE

O PEQUENO BISTRÔ QUE  minha irmã e cunhada escolheram para o jantar era adorável. Colorido, com uma decoração única e um ótimo cardápio.
Eu as encontrei já em uma mesa, próximas uma da outra e rindo de algo. Claudia era três anos mais nova que eu, mas sempre pareceu ter a vida dela organizada de uma maneira que eu não conseguia. Ela era muito determinada e orientada. Formou-se no ensino médio e na faculdade cedo. Passou no exame de Contadora Pública com louvor. Ela era brilhante, bem-sucedida, bonita. Casada com Miranda, a mulher mais legal de todos os tempos. Elas estavam reformando sua segunda casa juntas, porque as duas gostam de superar as expectativas. Não que eu estivesse com inveja, porque isso seria tão negativo. Mas eu costumava me sentir um pouco inferior ao lado da minha irmãzinha.

Eu ainda morava em um apartamento alugado. Meu trabalho era ótimo, mas assistente executiva não parecia tão impressionante quanto contadora pública certificada. Nem mesmo eu sendo a assistente de um dos empresários mais proeminentes de Seattle.

— Oi, irmãzinha.
Claudia se levantou e me abraçou.

Ela se parecia muito comigo, exceto que seu cabelo era um pouco mais escuro e na altura do ombro. Como de costume, ela parecia elegante em uma simples blusa e calça. Miranda se levantou para me abraçar.
Ela usava óculos, e nunca menos do que quatro cores de cada vez. Ela era alegre e artística, e isso transparecia em seu cabelo ondulado e estilo eclético. Embora ela e minha irmã parecessem tão diferentes, eram ótimas juntas.

— Oi, meninas — disse enquanto nos sentávamos.
— Como está tudo?
— Bem — disse Claudia.
— E você?
Eu sinto que já faz muito tempo desde que te vimos. — Sim, acho que sim — disse.
— Estou bem.
O trabalho está agitado, é claro.
— Não está sempre? — perguntou Claudia.
— E a sua vida pessoal?
Tem alguém especial sobre o qual você precisa nos contar?
Balancei a cabeça.

Claudia era ótima, mas nunca foi a pessoa para quem eu contava tudo.
Eu realmente não queria contar a ela sobre minhas últimas aventuras amorosas.

— Não, não estou saindo com ninguém.
— Por que não? — perguntou ela.
— Honestamente, Dulce, não consigo acreditar que você ainda está solteira.
Miranda a cutucou.
— Claudia.
— Me desculpe.
Eu não quis dizer desse jeito.
Eu sei como você é ótima, só isso.
— Obrigada.
E está tudo bem.
Estou dando um tempo no namoro.
— Isso é maravilhoso — disse Miranda.
— Acho que é inteligente focar em você.
Eu fiz isso há alguns anos e foi a melhor decisão que já tomei.
— Você quase não teve esse tempo — disse Claudia. — Nos conhecemos algumas semanas depois, não foi?
— Exatamente — disse Miranda.
— Acredito que a pessoa certa só entra em sua vida quando você para de procurá-la.
— Hum — disse Claudia.
— Ela pode ter razão.
— Sim, talvez — disse.
— Estou bem com como as coisas estão.
O trabalho está bem, e ficar solteira não é tão ruim.
— Claro que não — disse Claudia.
— E quanto a vocês? — perguntei.
— Quais são as novidades?
— Bem — disse Claudia, olhando para Miranda.
— Na verdade, temos boas notícias.
— É? — perguntei.
— Ai, Deus, por favor, não me diga que vocês vão se mudar para outro estado ou algo assim.
— Não, não vamos nos mudar — disse Claudia.
— Na verdade, vamos tentar ter um bebê.
— Ah — disse, esmagando a pequena onda de inveja que tentou criar raízes na minha barriga.

E daí se eu fosse mais velha do que ela e solteira?
E daí se Claudia tinha um casamento feliz e estivesse prestes a realizar os sonhos de nossa mãe, dando-lhe um neto? Isso não importava, e eu não iria estragar a comemoração da Claudia.

— Isso é incrível.
Estou tão feliz por vocês.
— Obrigada — disse Claudia.
— Sempre soubemos que queríamos filhos, e o momento parecia certo.
Miranda pegou a mão dela e a apertou.
— Exatamente.
É uma grande decisão, mas estamos prontas.
— Vocês serão as melhores mães — disse.
— Como vão fazer?
Adotar?
— Bem, adotaremos se decidirmos que queremos mais de um — Miranda disse.
— Mas Claudia realmente quer ter uma gravidez. Claudia concordou.
— Sim.
Eu sei que provavelmente vai me dar estrias e arruinar meus seios, mas eu não me importo.
Quero fazer assim mesmo.
— Não vai estragar seus seios — disse Miranda.
— E eu vou amar o seu corpo, mesmo que você tenha estrias. Claudia sorriu para ela.
— Eu acho isso ótimo — disse.
— Sério? — perguntou Claudia.
— Sim.
Por que, você achou que eu não ficaria feliz por você? — Não, sabíamos que você ficaria feliz — disse Claudia.
— Você sempre está feliz, não?
Encolhi os ombros.
— Nem sempre.
Mas é claro que estou feliz com isso.
Eu serei titia.
Por que não amaria isso?
Claudia respirou fundo e trocou outro olhar com Miranda.
— Estávamos realmente esperando que você nos apoiasse.
Eu estreitei meus olhos e inclinei a cabeça.
— Sim, claro que eu faria isso.
— Ótimo — disse Claudia —, porque precisamos da sua ajuda.
— Não sei como posso ajudar nesta situação.
Eu tenho ovários e um útero, mas vocês têm dois pares deles.
Acho que precisa de alguém com as outras partes para fazer essa coisa de bebê acontecer.
— É para isso que precisamos da sua ajuda — disse Claudia.
— Gostaríamos de usar esperma de um doador.
— Ok — disse, ainda não tendo certeza do que ela queria dizer.
— Mas com o que você precisa da minha ajuda?
Você não foi a um banco de esperma ou algo assim? — Bem, poderíamos — disse Claudia.
— Mas temos um doador em mente, portanto, seria uma transação privada.
Falamos com um advogado e temos um contrato já redigido e pronto para ser enviado.
— Em quem você está pensando? — perguntei.
— E o que isso tem a ver comigo?
Claudia respirou fundo novamente.

— Christopher Uckermann.

— O quê? — perguntei, nem mesmo tentando esconder meu choque.
— Do que diabos você está falando?
— Dulce, ele é perfeito — disse Claudia.
— Ele tem todas as características que procuramos. Altura, constituição, coloração, inteligência.
E sei que parece que estamos tentando construir um bebê sob medida, mas quando você está trabalhando com esperma de um doador, é assim que funciona.
— Claro, ele tem todas as características que você deseja... exceto uma alma — disse.
— Você percebe que corre o risco de dar à luz a um robô, certo?
Não estou convencida de que ele não seja um ciborgue.
— Qual é, você trabalha para ele há anos — disse Claudia.
— Ele não pode ser tão ruim.
— O homem não tem sentimentos — disse.
— Se você gostaria de ter um bebê com o alcance emocional de uma rocha, então sim, ele seria uma ótima escolha.
— Fizemos nossa pesquisa — disse Miranda.
— Fizemos uma lista muito completa de características que queremos visar e características que queremos evitar.

Christopher Uckermann se encaixa em todos os sentidos.
Claudia olhou para mim com as sobrancelhas levantadas e os olhos grandes e redondos.
Ela encolheu os ombros e me deu um sorriso hesitante.
Ai meu Deus, ela queria...

— Não — disse.
— Dulce — disse Claudia.
— Não pedimos nada ainda.
— Eu sei o que você está prestes a dizer.
E a resposta é não.
Não vou pedir ao meu chefe para doar seu esperma para você.
De jeito nenhum.
— Por favor, Dul — disse Claudia.
Maldita seja por invocar meu apelido de infância.
— É impossível entrar em contato com o homem se você não estiver em seu círculo íntimo.
Ele construiu o equivalente moderno de uma fortaleza medieval em torno de sua vida.
E percebemos que ele tem certa... personalidade.
É por isso que precisamos que você o adoce para nós. — Exatamente — disse Miranda.
— Você pode começar a plantar as sementes, trocadilhos intencionais, e lentamente tocar no assunto até pedir.
— E como você espera que eu faça isso? — perguntei.
— Vocês têm uma ideia errada sobre o meu trabalho, se acham que posso sentar e conversar com ele.
Ele não fala comigo.
— Você é a assistente dele — disse Claudia.
— Claro que ele fala com você.
— Não, ele fala para mim — disse.
— Há uma diferença.
— Você é uma das únicas pessoas em todo o mundo que tem acesso a ele — disse Claudia.
— A vida dele é tão protegida que foi difícil até conseguir mais informações.
Mas você o vê todos os dias.

E está no escritório, sozinha com ele.
Eu sabia que ela estava certa, e tinha um fato que eu gostava: ser a pessoa que tinha acesso a ele.
Eu não deveria ter deixado isso me tentar, mas era irresistível.

— Sim.
— Basta ver o que você pode fazer — disse Claudia. — Não esperamos um milagre.
Ele pode não estar interessado neste tipo de arranjo, e tudo bem.

Não queremos pressioná-lo.
Nós apenas queremos uma chance.
E você, minha doce irmã mais velha, é essa chance. Não consegue ver?
Você é a chave.
Você é o único jeito disso funcionar.

— Ai meu Deus, você está pegando pesado — disse. — Está funcionando?
Eu gemi, meus ombros se abaixando em derrota.
— Não sei.
Talvez um pouquinho.
Pensarei sobre isso, mas não estou fazendo nenhuma promessa.
Claudia agarrou minhas mãos.
— Obrigada.
De verdade, muito obrigada.
Isso significa o mundo para nós.
— Não fique muito animada — disse.
— Eu não disse que faria isso.
Eu disse que pensaria.
— É tudo o que pedimos — disse Claudia.
— Apenas considere a ideia.

Peguei o cardápio e olhei as opções, me sentindo mal-humorada.
Pedir ao sr. Uckermann para ser um doador de esperma?
Como alguém começava uma conversa assim? Especialmente com alguém com quem você não conversava de verdade.

Bom dia, sr. Uckermann.
Você tem uma reunião às nove horas com seu advogado e, a propósito, você consideraria doar esperma para minha irmã, para que ela e sua esposa possam ter um bebê com as características genéticas certas? Por favor, me mate.

Não tinha jeito de eu fazer algo assim. Mas minha irmã parecia tão feliz. Eu a amava e adorava fazer as pessoas felizes.
Será que havia uma maneira de fazer isso que não fosse totalmente humilhante?

Eu não tinha ideia, mas talvez pudesse pensar em algo. Embora eu me perguntasse se meu tempo seria mais bem gasto procurando por um doador alternativo que tivesse as características genéticas que elas estavam procurando. Porque a ideia de pedir ao meu chefe para doar seu esperma me dava vontade de rastejar para debaixo da mesa e morrer.

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