14.

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CHRISTOPHER

A SALA DE ESPERA do consultório do oncologista era surpreendentemente confortável. Paredes cinza claro, luzes suaves. Um grande aquário de água salgada ocupava quase uma parede inteira. Falei com o médico do meu pai quando chegamos. Queria ter certeza de que não havia nada que nosso pai tivesse escondido de nós sobre sua doença ou sobre o plano de tratamento.
Ele não escondeu.

Seu prognóstico era bom e seu tratamento era o que eu esperava. Olhei minhas mensagens no celular enquanto esperava.
Eu tinha saído do escritório mais cedo para poder ir à consulta dele, mas parecia que eu não tinha perdido muito. Dulce tinha as coisas sob controle.
Na verdade, ela provavelmente já tinha ido para casa.

Dulce.

Meu olhar escorregou da tela do celular e meus olhos perderam o foco. Ela era tão desconcertante. No trabalho, era tão competente como sempre. Inteligente, pontual, eficiente. Mas ela não era mais apenas minha assistente, e a mudança estava seriamente fodendo com a minha cabeça.
Ela andava descalça pelo meu apartamento, com regatas e shorts que mostravam muita pele. Cabelo preso com o pescoço à mostra, me tentando. Ela me desejava bom dia, ou boa noite, sempre com aquela voz brilhante e alegre e com um sorriso. Ela se sentava em seu horrível puff amarelo com um livro ou bebia vinho com meu pai, suas risadas reverberando para todos os cantos da minha casa.

Fazê-la se mudar foi ideia minha, mas não contava que a presença dela fosse tão alucinante. Ela estava em toda parte, uma distração constante. Ocupando os meus pensamentos naqueles pijamas tentadores. Dormindo ao meu lado, fazendo meus lençóis cheirarem a morangos.

— Christopher?
Eu pisquei, olhando para o meu pai.
Ele levantou as sobrancelhas, e eu tive a sensação de que ele estava tentando chamar minha atenção.
— Terminou? — perguntei.
— Sim, finalmente.
Desculpe, filho, eu não achei que ficaríamos tanto tempo aqui.
Eu fiquei de pé e guardei o celular.
— Tudo bem.

Fomos para o estacionamento e entramos no carro. Olhei para o meu pai algumas vezes enquanto íamos para casa. Ele estava estranhamente quieto esta tarde. A consulta com o médico dele tinha sido boa.
Talvez as coisas já estivessem esfriando com Natália – isso poderia explicar seu jeito sério.

E se ele estivesse prestes a terminar as coisas com ela? Ou ela com ele?
Significaria o fim da encenação com a Dulce.
Esse pensamento era estranhamente alarmante.

— Você está bem? — perguntei.
— Você está muito quieto.
— Sim, estou bem — respondeu ele, com uma voz que indicava que não estava nem um pouco bem.
— Pai...
— Tudo bem.
Estou preocupado com minha situação financeira.
Não estou ficando mais jovem, e perdi muito dinheiro. Não posso continuar vivendo com você indefinidamente.

Então não era Natália que o estava incomodando.
Eu não sabia se estava frustrado ou aliviado.

— Olha, nós vamos dar um jeito — disse.
— Temos um plano para te ajudar.
— Eu só queria não ter colocado você nesta posição. — Não há necessidade de se sentir culpado.
Você se arriscou e não deu certo.
O momento podia ser melhor, considerando tudo, mas vai dar tudo certo.
Você sempre se recupera.
Um sorriso lento se espalhou pelo rosto dele.
— Obrigado, filho.
Agradeço muito.

Quando voltamos ao meu prédio, ele já estava alegre como sempre. Subimos no elevador até minha cobertura. Papai me agradeceu novamente por levá-lo à consulta, antes de desaparecer pelo corredor em direção ao seu quarto. Eu já estava distraído por causa da Dulce. Ela estava aqui.
Eu tinha visto seu carro no estacionamento – na vaga ao lado da minha –, mas não foi por isso que eu soube. Minha pele vibrava com eletricidade, os pelos nos meus braços se arrepiaram.

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