03.

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CHRISTOPHER

MINHA ASSISTENTE ENTROU no escritório.
Ela não bateu, mas era a única pessoa que podia fazer isso. Provavelmente porque nunca me interrompeu quando eu estava em um telefonema ou em uma reunião privada. Ela tirou meu casaco do gancho e o colocou no braço.

— Você deve sair agora, ou perderá a sua reserva — disse ela.

Eu olhei para a hora.
Precisava mesmo ir.
Atraso era algo que eu não conseguia suportar.
E não permitia isso em mim mesmo mais do que nos outros. Mas eu estava distraído, lendo uma proposta. Fechei o notebook e o coloquei na maleta, então fiquei de pé, minha mente já no jantar desagradável à minha frente, que tinha todo potencial para dar muito errado. Terminar com Natália em público era um risco.
Eu não namorava com ela há muito tempo, mas ela tinha um talento para o drama. Eu esperava ter feito a decisão certa ao escolher levá-la a um restaurante.

— Confirmei sua reserva no Tulio — disse ela, me entregando o casaco.
— Você quer que eu lhe envie o cardápio?
— Não.

Coloquei meu casaco e guardei meu celular.
Eu não tinha terminado de rever a proposta. Amanhã ia estar ocupado com reuniões, então eu teria que terminar hoje à noite. Quanto mais cedo terminasse esse jantar, melhor. Talvez eu não ficasse para comer. Apenas entrar, sair e seguir em frente.
Eu arrumei o colarinho do meu casaco e peguei a maleta da mesa.

— Boa noite, sr. Uckermann — disse ela enquanto eu saía pela porta, em direção ao estacionamento.

Essa coisa da Natália me distraiu.
Eu provavelmente poderia terminar sem vê-la pessoalmente de novo, mas ela me pareceu o tipo de mulher que tentaria criar problemas. Se havia algo pior do que um término ruim, era um chegava à imprensa. Ela sabia o quão reservado eu era – o quanto eu protegia minha vida pessoal. Se a irritasse agora, tinha certeza de que ela tornaria isso o mais público possível.
Minha melhor opção era acalmá-la com dinheiro.
Não um suborno direto.

Eu não a insultaria tratando-a como uma prostituta. Mas eu sabia o tipo de moeda que tinha o potencial para satisfazer uma mulher como Natália . Afinal, era por isso que ela estava namorando comigo. Eu deveria ter percebido logo no início, mas a habilidade de atuação da mulher merecia um Oscar. Ela se aproximou de mim em uma arrecadação de fundos, e seu sorriso me atraiu. Olhando para ela, você pensaria que foi seu corpo – porque, honestamente, o corpo dela era incrível –, mas tinha sido o sorriso. Ela sorriu para mim, imensa e brilhantemente, e eu sabia que a levaria para casa comigo. Mas, aos 36 anos, eu aparentemente ainda era péssimo em julgar a autenticidade das pessoas, porque o sorriso dela era tão falso quanto a cor do cabelo. Debaixo desse exterior incrivelmente sensual, Natália era um pesadelo.

Ela era territorial, exigente e reclamona. Ela queria um sugar daddy bilionário, um papel que eu não tinha interesse em desempenhar. E claramente foi por isso que ela colocou seus olhos em mim.
Assim como Brielle. E Sasha. E Marissa antes dela. Obviamente, eu tinha um problema.
Estava começando a pensar que podia estar amaldiçoado.
Eu não era idiota.

Sabia que era normal para um homem como eu atrair certo tipo de mulher. Na minha juventude, nunca sonharia que me cansaria da série de mulheres lindas batendo na minha porta. Mas elas eram todas iguais. Um rosto bonito e um corpo sensual só iam até certo ponto. Não que eu estivesse procurando por algo sério. Eu mal tinha espaço na minha vida para um relacionamento casual, muito menos qualquer coisa a longo prazo. Mas passar um tempo com uma mulher que não era uma víbora disfarçada de gatinho seria uma boa mudança.
Minha Mercedes preta estava estacionada perto do elevador.
Entrei com um senso de rendição.

Eu terminaria com jeitinho, o que, esperançosamente, minimizaria as consequências. E se ela viesse atrás de mim, eu cuidaria disso. Como em qualquer negócio, sempre havia soluções alternativas. Formas de lidar com desafios e problemas imprevistos. Tulio era um restaurante italiano de luxo. Pequeno, com boa atmosfera e boa comida. Natália ainda não estava aqui, então esperei perto da porta. Não precisei levantar o rosto do meu celular para saber que ela tinha chegado, alguns minutos depois.
A agitação que ela causava, aonde quer que fosse, anunciou a sua entrada. Natália era linda em todos os sentidos da palavra., fisicamente, pelo menos, e as pessoas a notavam. Ela tinha sido abençoada com o melhor de quase todas as características físicas, e tinha comprado o resto. Simetria facial perfeita, olhos grandes, nariz fino, lábios carnudos e curvas deslumbrantes. Apenas o suficiente de seu sotaque búlgaro permaneceu, assim ela soava agradavelmente exótica.
Ela sorriu para mim, mas não sorri.
Apenas acenei para a recepcionista, avisando que estávamos prontos. Nós a seguimos até uma mesa perto da parte de trás. Natália fez uma pausa enquanto eu puxava a cadeira dela, mas não a beijei ou toquei nela.
Seu lábio inferior salientou-se quando ela se sentou.

— Você está especialmente distante hoje.
Ela não tinha feito uma pergunta, então não lhe dei uma resposta.
Só tirei meu casaco e me sentei na sua frente.
— Eu não tenho ideia do que pedir — disse ela, olhando para o cardápio.
— Tudo tem carboidratos.
— Hum — disse, ignorando sua queixa pouco velada sobre a minha escolha de restaurante.
A garçonete voltou e perguntou se gostaríamos de beber algo.
— Devemos pedir uma garrafa de vinho? — perguntou ela.
— Nada para mim.
Ela fez careta e puxou o cardápio de bebidas da mesa. — Martini de romã, então.
— Voltarei com sua bebida — disse a garçonete.
— E então, anotarei o pedido.
Decidi que não pediria o jantar.
Eu tinha muito trabalho a fazer.
— Natália, eu reservei dez dias de férias para dois em um resort all-inclusive no Havaí.
— Peguei na minha jaqueta um envelope com a informação que ela precisaria.
— Tudo está resolvido.
Voos. Refeições. Bebidas. Até entretenimento.
Os olhos dela se arregalaram.
— Ah, Christopher, você está falando sério?
— Sim, mas não vou me juntar a você.
— Coloquei o envelope na frente dela.
— Você pode levar qualquer pessoa.
Entre em contato com minha assistente para finalizar os detalhes.
Gostei da sua companhia nos últimos meses, mas não nos veremos outra vez.
Ela abriu a boca e olhou para mim.
— Você está me deixando?
Me deixando.

Não foi o fato de que o inglês era sua segunda língua que a fez escolher essa frase. Fez parecer que eu estava me divorciando dela, não terminando um namorico.

— Isso chegou ao fim — disse.
— E o que seria isso? — perguntou ela, gesticulando para o envelope.
— Você nunca me leva a lugar nenhum, e agora você está se livrando de mim, me mandando de férias sozinha?
— Eu disse que você pode levar quem quiser.
— Eu não posso ser comprada, Christopher.
Eu levantei uma sobrancelha.
Essa é a mentira mais deslavada que já ouvi.
— Verdade.
Eu pensei que poderia ser uma distração agradável.
— Tirei o envelope da mesa.
— Mas se você acha que insultei você, aparentemente eu julguei errado.
Minhas desculpas.

Sabendo que ela pediria de volta, fiz um show colocando o envelope de volta no bolso.

— Bem... — Ela fez uma pausa e revirou os olhos.
— Eu poderia muito bem usar, se já está reservado. Eu coloquei o envelope na frente dela assim que a garçonete voltou com seu martini.
Olhei para a garçonete.
— O jantar dela é por minha conta, ela pode pedir o que quiser.
— Claro, sr. Uckermann — disse a garçonete.
Levantei e peguei meu casaco.
— Boa noite.

Sem esperar por uma resposta de Natália ou da garçonete, me virei e saí.
Tinha sido muito melhor do que o esperado.
Em poucos dias, Natália  estaria no Havaí. Quando ela voltasse, não tinha dúvidas de que encontraria alguém novo.
Uma mulher assim não ficaria sozinha por muito tempo.
Eu estaria sozinho, no entanto.

Ter uma mulher na minha vida nunca foi nada além de uma complicação.
Uma distração.
Ou uma decepção.

Deixando de lado os pensamentos sobre Natália, e minha insatisfação sobre namorar, fui para o meu carro. Tinha trabalho para fazer hoje à noite.

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