30.

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DULCE

DEPOIS DE COMEÇAR O DIA com o pé esquerdo, eu estava me sentindo muito melhor.
Acho que Christopher estava certo, eu precisava ficar em casa. Passei a maior parte da manhã na cama, e Richard me trouxe canja de galinha no almoço. Eu não queria deixá-lo doente, então o enxotei para fora do quarto imediatamente.
Tirei uma longa soneca pela tarde e acordei me sentindo revigorada. Eu não queria espalhar meus germes pela casa, então fiquei no quarto. Agora que eu tinha um pouco de energia, estava inquieta. Sentei-me na cama, procurando preguiçosamente na Netflix algo para assistir, me perguntando quando Christopher voltaria para casa. Eu escolhi um programa de culinária. Parecia que alguém chegara em casa, mas não sabia se era Christopher ou seu pai. Eu esperava que fosse Christopher.
Ele me mandou mensagens ao longo do dia para ver se eu estava bem – o que era tão fofo; eu sabia o quão ocupado ele estava, mas não tinha falado com ele desde esta manhã. Eu sentia falta dele.
Ele espiou pela porta, e eu sorri, pegando o controle remoto para desligar a TV.

— Oi.
Estou feliz que você esteja em casa.
— Como está se sentindo?
— Bem melhor.
Ainda estou tossindo, mas não tanto quanto esta manhã.
— Bom.
— Ele entrou com uma pilha de papéis.
Havia algo em sua linguagem corporal que me incomodou.
Por que ele não estava me olhando nos olhos?
— Como foi o trabalho? — perguntei.
— Ocupado.
— Está tudo bem?
Sem dizer uma palavra, ele tirou um envelope da pilha de papéis e o jogou na cama.
— Não.
A frieza em sua voz fez meus ombros ficarem tensos, e um nó de preocupação se instalou em meu estômago.
Peguei o envelope, e antes que meus dedos o tocassem, percebi o que era.
Ai, não.
— Eu estava olhando em sua mesa, para ver se você tinha cópias impressas dos relatórios de vendas.
E achei isso.

Eu abri e fechei a boca novamente.
O contrato de doação.

— Eu não ia dar isso a você.
— Então por que você estava com ele na sua mesa? Eu respirei fundo.
— Claudia e Miranda querem ter um bebê e esperavam que eu pudesse fazer com que você fosse o doador de esperma.
Eu disse a elas que perguntaria, mas não é como se eu tivesse prometido nada.
— Bem, porra, obrigado por isso — retrucou ele. — Embora elas parecessem confiantes o suficiente para redigir este contrato.
— Elas só queriam estar preparadas.
E eu lhe disse, eu não ia dar a você.
— Então, vou perguntar de novo.
Por que você estava com ele?
— Bem, originalmente eu ia, mas decidi que não podia.
Não queria que elas pedissem nada.
Eu senti que era errado, e disse isso a elas na noite passada.
Ele desviou o olhar.
— Então, até a noite passada, você ainda estava planejando me entregar esse envelope.
— Não, não até a noite passada.
Decidi faz um tempo que não podia.
Na verdade, eu não tinha certeza sobre isso desde o início, mas então você me pediu para morar com você, e eu pensei...
— Você pensou que me faria um favor e receberia um favor em troca.
Eu o encarei por um momento.
— Christopher, isso foi ideia sua.
Você me pediu para fingir ser sua namorada e morar com você.
Não é como se eu tivesse rastejado para dentro de sua casa.
— Mas você tinha um motivo oculto que escondeu de mim.
— Não é algo que você pode simplesmente perguntar ao seu chefe.
Ei, sr. Uckermann, tem sido ótimo trabalhar para você, e claro que vou bagunçar a minha vida inteira para ajudá-lo a se livrar de sua ex-namorada harpia caça-fortunas.
Ah, e a propósito, você pode ser o doador de esperma para o bebê geneticamente perfeito da minha irmã? Obrigada, vejo você no trabalho amanhã.
— Certo, porque sou apenas seu chefe.
— No começo você era.
Vamos, Christopher, nenhum de nós sabia o que aconteceria.
Trabalhei com você por três anos, mas mal te conhecia. Então, sim, a princípio pensei que, se fosse morar com você, teria um bom motivo para pedir que fizesse isso para a minha irmã. Mas eu nunca iria obrigar você ou tentar culpá-lo para fazer isso.
E como eu disse, decidi não fazer.
Disse a elas que tinham de encontrar um novo doador, e elas concordaram.
— Meu pai terminou as coisas com Natália na noite passada.

Minha boca se abriu, mas a irritação na minha garganta voltou.
Virei para o lado para tossir algumas vezes.

— Ele terminou?
— E eu contei tudo a ele.
— Ele está bem?
Como ele reagiu?
Christopher ainda não estava olhando para mim.
— Ele está bem.
— Tem certeza?
Deve ser muito para processar.
— Eu disse que ele está bem.
E agora, o nosso motivo para isso — ele disse, gesticulando entre nós dois — acabou.

Eu recuei, como se tivesse levado uma tapa.

— Só isso?
Você quer que eu vá embora?

Sua voz estava fria.

— Toda mulher com quem namorei queria algo de mim.
Cada uma delas.
Normalmente é apenas dinheiro.
— Christopher, não...
— Você pode ficar até melhorar, mas não estarei aqui. — Espera.
Não vá embora.
Por favor. Mas ele já estava fora da porta.

Alguns segundos depois, a porta da frente se fechou, com força suficiente para que eu pudesse ouvir daqui. O choque me deixou imóvel por um longo momento.

O que acabou de acontecer?
Peguei o contrato.
Eu queria queimar essa coisa estúpida.

Nunca deveria ter concordado em perguntar a ele, para início de conversa. E agora ele pensava... Ele pensava que eu estava usando-o. Ele pensava que eu não era melhor do que Natália, ou uma das outras interesseiras que ele namorou. Meu choque e dor foram rapidamente substituídos por uma onda rápida de raiva. É isso que ele pensa de mim?
Que tudo o que eu fiz foi para bajulá-lo para que concordasse em doar seu esperma? Que eu iria tão longe a ponto de dormir com ele para conseguir o que queria? Eu empurrei as cobertas.
De jeito nenhum eu ficaria aqui.
Eu voltaria para meu apartamento abafado e empoeirado. O anel no meu dedo chamou minha atenção, parecendo repentinamente pesado. Eu odiei esse anel. Era muito grande e chamativo e não significava nada. Um lembrete estúpido e caro do porquê de eu estar aqui. Eu o tirei do dedo e joguei na cama. Fungando e tossindo algumas vezes, coloquei algumas coisas em uma bolsa. Eu teria que voltar para pegar o resto das minhas coisas. A raiva me alimentava, mas eu podia sentir a queda chegando.
A onda de emoção que logo me dominaria.
Por enquanto, agarrei-me à raiva como uma tábua de salvação. Enfiei minhas roupas em uma bolsa.
Puxei vestidos para fora do armário.

Lágrimas apareceram em meus olhos enquanto eu levava uma remessa para o meu carro, mas eu as engoli, recusando-me a chorar aqui. Arrumei o que pude e, antes de sair, escrevi um bilhete para Richard. Eu queria que ele soubesse que eu sentia muito por mentir para ele e que esperava que ele pudesse me perdoar. Ele era um homem bom, e eu odiava pensar que o que eu tinha feito o tenha machucado. Coloquei o bilhete na mesa do quarto do Richard. E fui embora. Quando cheguei ao meu prédio, estava lutando para conter as lágrimas.

O que eu fiz?
Minha vida inteira explodiu na minha cara. Anahi e Maite falaram que isso ia acontecer. Elas me conheciam muito bem e sabiam que eu me apaixonaria pelo meu chefe. E eu não só me apaixonei, como entreguei meu coração, meu corpo e minha alma. Mas, agora, percebi que ele não se sentia da mesma forma. Eu tive algumas experiências de merda com homens. Horríveis primeiros encontros. Alguns relacionamentos que terminaram mal. Mas eu nunca fiquei tão devastada, nem sequer uma vez.

Porque eu nunca amei alguém como amei Christopher. Entrei no meu apartamento e joguei minhas coisas no sofá. Havia mais coisas no carro, mas eu as pegaria mais tarde. Minha garganta doía de tanto tossir, mas o pior era a dor no meu peito. Não tinha nada a ver com meus pulmões e tudo a ver com meu coração.
Estava completamente partido, despedaçado em um milhão de pedacinhos.

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