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CHRISTOPHER

O PESSOAL DA MUDANÇA estaria lá em cima a qualquer minuto.
Felizmente, papai não estava em casa.
Ele estava jantando com Natália – o que fez minha pele se arrepiar. Mas eu estava feliz que ele estivesse ocupado com outra coisa. Não queria uma audiência quando Dulce chegasse.

Eu disse ao papai que já tinha pedido a Dulce para se mudar. Ele estava previsivelmente emocionado.
Ethan e Grant não pareciam estar interessados em se tornar pais, e papai tinha o coração determinado em ser avô. Infelizmente, ele tinha depositado todas as suas esperanças em mim, e eu não ajudava. A notícia de que eu estava dando este passo, como ele disse, tinha o deixado praticamente tonto de felicidade.
Isso me deu uma pontada de culpa.
Ele ia ficar desapontado quando eu terminasse outro relacionamento sem dar a ele uma nora.
Ou netos.

Eu dedilhei as cordas do meu violão com meus dedos calejados, tocando alguns acordes aleatórios. O apartamento de um quarto, onde eu guardava minha coleção de violões, ficava três andares abaixo da minha residência. Ninguém, exceto o síndico, sabia que eu era dono desta unidade. Mesmo Ethan, que sabia mais sobre mim do que qualquer pessoa, não sabia que eu tinha esse espaço.
Era particular. Extremamente pessoal.

Nada disso representava o homem que eu mostrava ao mundo. O homem de negócios astuto com todas as respostas. Esta sala era mal iluminada, a única luz vinha de uma pequena lâmpada no balcão. Não era um típico espaço masculino. Nenhuma TV gigante ou bar bem abastecido. Sem pôsteres esportivos ou placas de cerveja nas paredes. Eu mantinha uma garrafa do uísque Glenlivit de 21 anos na cozinha, substituindo-a conforme necessário.
Tinha um sofá de couro ao longo de uma parede. Alguns pôsteres emoldurados para dar um clima: Zeppelin, Deep Purple, Rush, Queen. E meus violões, minhas guitarras e meus baixos. Eu tinha uma Fender Stratocaster branca. Um lindo Gibson Les Paul que imitava os veios da madeira. Um baixo vintage Rickenbacker. Alguns, como o violão Gibson Hummingbird em minhas mãos, eu usava. Outros eram apenas para exibição. Não era para ostentação, pois eu não mostrava a minha coleção. Ninguém sabia de sua existência.
Eu os tinha porque os amava.
Porque tornava este lugar pacífico. E meu.

Às vezes eu contemplava porque eu mantinha essa parte de mim tão separada. Mas a resposta era simples. A música me deixava vulnerável. E eu nunca deixava meu coração exposto, como meu pai. Eu era muito parecido com a minha mãe: prático, lógico e frio. Por fora, pelo menos.
Eu tinha descoberto a música quando adulto, e ela tinha se tornado meu escape. A única maneira verdadeira de me expressar. E isso simplesmente não era algo que eu queria compartilhar com as pessoas que me conheciam como Christopher Uckermann.
Eu dedilhei mais alguns acordes, a melodia veio facilmente.

Eu tinha deixado o escritório mais cedo para ter tempo de relaxar antes de a Dulce chegar. Os arranjos foram feitos rapidamente – por Dulce, é claro. Afinal, era o trabalho dela. Ela não entregaria o seu apartamento. Simplesmente traria o que precisaria para os próximos meses. O suficiente para convencer meu pai, e Natália, que éramos um casal. Ela chegaria logo, então eu precisava subir. Depois de colocar meu violão de volta em seu suporte, saí e peguei o elevador para a cobertura.

Uma batida na porta anunciou a chegada de Dulce. Abri para encontrá-la com dois carregadores no corredor, todos rindo histericamente.

— Sim, estou falando sério — dizia Dulce.

Ela parecia estar no meio de uma conversa que todos achavam incrivelmente divertida.

— Realmente aconteceu.
Juro. Ah, oi, sr. Ucker... quero dizer, oi, Christopher. Olhei para os dois carregadores, e seus sorrisos desapareceram.
— O quarto é na esquerda.
Fim do corredor.
Eles balançaram a cabeça, reajustando seus apertos nas caixas que carregavam, e passaram por mim.
— Uau, bela maneira de arruinar o clima — disse Dulce.
— Perdão, o quê?
Ela apertou os lábios, quase como se estivesse surpresa por ter dito isso em voz alta.
— Deixa pra lá.
Eles estão...
— Meu pai saiu esta noite.
— Ah, ok.
Então não precisamos...
— Não.
— Certo.
Bom.

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