32| Porta Corta Fogo

296 55 12
                                    

— Chan? — o barulho se repetiu — Chan, sou eu! Consegue me ouvir? 

Meus olhos se arregalaram quando ouvi um gemido em resposta. 

Era ele, eu podia sentir. 

Balanço a corrente prateada e só então noto o quão grande era o cadeado que a trancava. Percebo meu coração saltar com a possibilidade de não conseguir tirar Christopher dali de dentro. Pedir ajuda estava fora de questão, se o homem que o trancou aqui sequer sonhar que o encontrei, não sei do que ele seria capaz. Não podia correr o risco de chamar a atenção do concierge pra cá. 

Tenho que conseguir tirá-lo daqui.

Sozinha. 

— Chan, aguenta só mais um pouco, vou te tirar daí! 

Abro minha bolsa rapidamente e puxo um grampo de lá. Enfio o objeto no cadeado e tento de todas as formas abri-lo. A pouca luz do subsolo não me ajudava e era difícil manter a lanterna do celular direcionada corretamente quando eu precisava das duas mãos para abrir o cadeado. 

Era óbvio que não daria certo, porque isso não é um filme, apesar do enredo ser bem parecido com um. Ouço o estalo do grampo se quebrando e passo a mão pelo cabelo, sem saber o que fazer. Penso em ligar para Felix e pedir ajuda, mas o sinal da operadora era praticamente inexistente ali. Eu estava sem saída. 

Checo as horas no visor do celular, faltava menos de uma hora para o programa começar. Droga. 

Olho ao meu redor procurando por uma solução, algo que pudesse me ajudar naquela situação. 

Ok. Momentos desesperadores pedem medidas desesperadas. 

Respiro fundo vendo uma barra de ferro jogada a alguns metros de distância de mim. Vou em direção ao objeto e me agacho para pegá-lo, sem pensar duas vezes. A barra enferrujada era mais pesada do que eu havia imaginado, mas era a minha melhor e única chance de tirar Christopher dali. 

Junto toda força que tenho em meu corpo e bato no cadeado. Certo, você pode fazer isso, Maya. Me lembro do ódio que estou sentindo pelo pai de Chan e golpeio a tranca várias e várias vezes. Suspiro, passando as costas da mão em minha testa, me livrando do suor acumulado ali. Meus braços doíam e meus músculos pareciam prestes a estourar, mas eu tinha que conseguir. 

Reuni o resto de energia que ainda tinha e dei mais três pancadas com a maior força que podia. 

Quebrou...? 

Olho receosa para o cadeado por alguns instantes.

Isso! Está aberto! 

Apressada, desenrolo a corrente dos puxadores e a jogo de lado no piso. Empurro a porta e entro correndo no cômodo, tendo a pior visão de todas: 

Christopher estava amarrado e amordaçado, deitado no chão imundo da sala, que era rodeada por quadros elétricos e fios de alta tensão por toda parte. 

— Chan! — me ajoelho ao seu lado, o ajudando a sentar. 

Ele estava acordado, mas seu corpo estava fraco, fazendo suas pálpebras se fecharem vez ou outra. Tiro devagar a mordaça de sua boca e decido pular as perguntas. Nesse momento não me importava o que tinha acontecido ou quem o tinha prendido ali. Só precisava saber se ele estava bem. 

— Maya... — o garoto diz baixo e eu encaro suas orbes escuras. 

— Ei, não se esforce — interrompo sua fala, acariciando sua bochecha marcada pela mordaça. — Tá tudo bem agora, eu tô aqui com você. 

Desamarro os nós das cordas que prendiam seus punhos e tornozelos, verificando se estavam feridos e vejo algumas manchas roxas causadas pelo aperto. Sinto meus olhos se encherem de lágrimas ao vê-lo naquela situação horrível. Ele passa a mão direita sobre o punho esquerdo enquanto me agradece por o soltar, e eu apenas o observo.

— Como conseguiu me achar? 

Essa era uma boa pergunta. Não sei exatamente como consegui chegar aqui, mas sabia que precisava encontrá-lo de qualquer jeito. 

Acho que foi a minha vontade exorbitante de vê-lo mais uma vez. 

— Não foi tão difícil... — bato um pouco da poeira presa em meu vestido — Eu só fui juntando as peças e cheguei até aqui. 

— Entendi — ele começa, mas logo para, soltando um grunhido de dor. 

— Tudo bem?! Tá doendo muito? — chego mais perto, examinando o tornozelo que ele tocava com uma das mãos. 

O loiro ri nasal, encarando o chão. 

— Você não deveria estar me dando um sermão agora por eu não ter te escutado sobre meu pai? 

Balanço a cabeça negativamente. Sinceramente, em nenhum momento tive vontade de fazer isso, por mais que eu tivesse ficado chateada quando Chan não me deu ouvidos naquele dia. Ele é a vítima aqui, eu nunca o repreenderia por isso. 

— Obrigado por vir atrás de mim — o garoto suspira e consigo sentir sua respiração quente tocar minha pele. 

— Eu senti tanto medo, Chan... pensei que nunca mais te veria. 

Pela primeira vez eu vi Christopher chorar e, instantaneamente, meu coração se despedaçou como se aquela dor fosse minha. Seu pai, a pessoa que mais deveria cuidar e zelar pela segurança de Chan foi quem ordenou que fizessem isso com ele. É cruel demais pensar nisso. 

Envolvo Chan em meus braços, o deixando chorar o quanto precisasse. Suas lágrimas quentes caíam em meu ombro enquanto eu acariciava seus cabelos em silêncio. Eu tentava consolar o garoto, mas podia me sentir muito mais confortada por ele do que o contrário. 

Ele resmunga de dor novamente quando o aperto um pouco mais forte em meus braços e eu me afasto para vê-lo. Sua mão pressionava o abdômen e era nítido que ele estava sofrendo, mesmo insistindo que estava bem todas as vezes em que perguntei. 

— Ele te machucou? — o olho preocupada — Vamos pro hospital, Chan.

— Eu tô bem, é sério, Maya. Não se preocupa. 

— Como não vou me preocupar? Você tá todo machucado! 

— São só alguns arranhões, isso não é nada — ele sorri fechado, tentando me convencer de que estava realmente bem. — Amanhã vou estar novinho em folha, você vai ver! 

Suspiro. Christopher sempre foi assim teimoso. Acho que uma parede me ouviria muito melhor do que ele. 

— Consegue se levantar? 

— Sim, eu acho. 

Passo o braço de Chan por cima dos ombros e o dou o máximo de sustentação que consigo para o ajudar a se levantar. Para minha surpresa, o tornozelo do garoto não estava tão ruim quanto pensei e logo ele conseguiu apoiar bem o pé no chão. Uma coisa boa pelo menos. 

Eu ainda tentava convencê-lo a ir ver um médico, mas essa tarefa não estava sendo nada fácil. Quando passei pela porta corta fogo com Chan apoiado em mim, pensei que sua recusa para ir ao hospital poderia ter um motivo. E parece que acertei, porque, logo em seguida, ele parou de caminhar e se virou para mim. 

— Queria perguntar uma coisa — ele desvia seu olhar para o chão, pensando se deveria ou não continuar —, mas tô com medo da resposta. 

— O que é? — sorrio, o encorajando a dizer. 

— O programa já acabou? Quer dizer... eu perdi? 

— Não me diga que ainda cantaria mesmo nesse estado? — eu rio, mas por dentro estava super orgulhosa em saber que Christopher ainda queria correr daqui para o seu sonho. 

— Uhum — assente cabisbaixo, provavelmente imaginando que minha resposta significava que ele havia mesmo perdido a chance de se apresentar. 

Levanto seu queixo, analisando sua expressão pensativa e sorrio. 

— Eu vou estar na plateia torcendo por você. 

— O que...? — ele me olha confuso, mas um sorriso logo surge em seus lábios. 

— Vamos, Chan. Temos vinte minutos pra chegar lá!

I Want You | Bang ChanOnde histórias criam vida. Descubra agora