O Estranho

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Corvos voavam sobre o céu nublado de Porto Real,  enchendo o ar com seus grasnados agourento e melancólico, como se fossem arautos enviados pelo Estranho, embora Tyrion Lannister soubesse que serviam a outros deuses. Os deuses antigos e misteriosos do rei de Westeros.

Estava nas escadaria arruinada do Septo de Baelor, entre choros e lamúrias, assistindo as chamas lamberem a pilha de cadáveres reunidos pela  cidade nos últimos três dias.  Arrepios, Samwell Tarly chamara.  Não poupava os jovens, nem os velhos ou bebês de peito. Plebeus ou nobres. Todos sucumbiam perante a  misteriosa doença. Fosse na  cidade ou fora dela. Não havia para onde fugir, embora alguns houvessem tentado.

Corvos chegavam de todas as  partes dos Setes Reinos, relatando o mesmo fenômeno.  Uma doença silenciosa, que começava com uma leve sensação de frio e terminava com tremores violentos. Tudo o que o doente conseguia dizer antes de sucumbir era  “estou com frio”. Depois de  dias de tremores, perdiam a consciência e eram levados pelo Estranho.

O anão enrolou-se em suas peles, para se proteger do vento frio que soprava e do arrepio que lhe desceu pela espinha enquanto o fogo lambia a carne fria e dura dos mortos e uma fumaça negra subia aos céus.

A cidade estava doente e faminta. O tempo voltara a esfriar. Uma neve caíra na noite anterior e parte da torrente do Água Negra havia congelado. A primavera fora uma mentira. O inverno havia voltado e com ele trouxera uma epidemia de  Arrepios. Uma doença estranha e insidiosa,  cujo relatos de sua existência datavam da época do Velho Rei, Jaehaerys I.

Ele havia perdido uma filha assim, Tyrion se recordava, Daenerys, o nome da infeliz criança.

Viera pelo mar, numa madrugada de intenso nevoeiro sobre a cidade, com a chegada de uma misteriosa embarcação. Para a surpresa e assombro de todos, a embarcação estava vazia, sem uma alma viva que pudesse ser acudida. Apenas as tábuas rangiam. Nem mesmo um rato ou barata foram avistados.

Para a grande surpresa de todos, não se tratava de uma embarcação qualquer. No mastro destruído da galé à deriva, o lobo gigante dos Starks tremulava, sozinho,  rasgado e apodrecido. Tyrion ainda se lembrava da sensação de terror que o invadiu. O medo frio e a certeza ardente de que algo não estava certo. Aquele era o navio no qual Arya Stark deixara Porto Real alguns anos antes. Nymeria. Ficara a deriva no mar até retornar  para o local do qual partiram em direção ao Mar do Poente.

Ou não.

Naquele dia Tyrion mandara procurar a garota pela cidade, mas as buscas precisaram ser interrompidas quando as pessoas misteriosamente começaram a morrer de frio. Tinha lembranças ruins demais do inverno para se esquecer que na duvida, era melhor queimar os corpos que foram beijados pelo frio.

Ao saber do ocorrido, Samwell Tarly apenas balançara a cabeça, murmurando que a chegada da embarcação fora um mau presságio e que nada de bom acontecera com aqueles que se aventuraram para o Oeste, em direção ao misterioso Mar do Poente.

A cidade amaldiçoou o ocorrido. Arya Stark era uma serva do Deus de muitas Faces e o Deus de Muitas Faces era simplesmente o Estranho, diziam. A galé trouxera morte e destruição sobre a cidade, assim como o rei que sentava agora na Fortaleza Vermelha e seus deuses do frio. Conforme a pilha de corpos aumentava, Tyrion precisou abafar motins, saques e duas tentativas de invasão a Fortaleza Vermelha, por vezes de forma dura e sangrenta.

No fim, a menina Stark não aparecera, a Rainha do Norte não recebera notícias da irmã desde sua partida, Jon Snow continuava desaparecido e segundo os homens da Patrulha, morto, pois era esta a sua vontade. Quanto a Bran,  o rei de Westeros, se limitara a dizer quando confrontado:

- Eles estão vindo por ela. Pelo dragão. Por Daenerys Targaryen e seus cavaleiros do fogo.

Notas:

Voltando depois de um longo hiato. O capítulo foi curtinho pois a intenção foi só sinalizar o retorno da fic. Fiquei muito tempo afastada, então preciso reorganizar as ideias. Vou escrevendo  com calma.

Obs : arrepios é uma doença canônica e realmente matou a primeira Daenerys  filha do rei Jaehaerys I
2- O Estranho faz parte da Fé dos Sete. É a face que representa a morte.

Sangue do DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora