O Lobo Silencioso

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"Você não quer me machucar...
Mas veja quão profundo as balas jazem...
Ignorando que eu estou te partindo em pedaços...
Há relâmpagos em nossos corações.
Tanta raiva para aqueles que nós amamos?
Me diga, nós dois importamos, não importamos?
Você, correndo colina acima
Você eu, correndo colina acima.
Você e eu não seremos infelizes.
E se eu apenas pudesse
Fazer um trato com Deus
E fazer ele trocar os nossos lugares?"
(Running up that hill - Placebo)

****

Algo na aparência do liquido grosso e pesado dentro da tigela fez com que Jon se sentisse mal. Os veios vermelhos eram apenas seiva de represeiro, supunha, mas à luz das chamas da fogueira cavada no chão, tinham uma estranha semelhança com sangue. Tentou farejá-lo, mas eles só tinham cheiro de árvore e de algo que ele não conseguia identificar. Uma sensação inquietante comichou dentro de sua cabeça no entanto, e de alguma forma ele lembrou-se de Craster e dos bebês que ele oferecia para a Floresta Assombrada e os caminhantes brancos.

- O que aconteceu com o seu bebê?

Algo sombrio cruzou os olhos cor de musgos da bruxa e desapareceu logo em seguida.

- Coma, Jon Snow. Ou volte para sua muralha e esqueça que um dia você me viu. Eu fui longe demais na floresta para encontrar as sementes certas para você, deveria estar grato ao invés de se comportar como um mau agradecido.

Jon ainda não estava convencido, algo nela cheirava mal, ele sabia que não era apenas os seus dentes.

- Por que você está fazendo isso?

Faya o olhou de maneira conspiratória.

- Você ainda é importante e ajudou muito o Povo Livre quando eles precisaram – ela sorriu mostrando uma carreira de dentes podres. – E você me deu o seu sangue quando eu pedi. Sangue de reis. Parece uma troca justa.

Ele hesitou a princípio, até que por fim reuniu coragem e levou um pouco da pasta a boca dizendo a si mesmo que ele não tinha nada a perder. Tinha um gosto muito amargo e a primeira colherada foi mais difícil de descer. Ele quase a vomitou. A segunda teve um gosto melhor. A terceira estava quase doce. O restante, ele comeu ansiosamente. Por que havia pensado que era amargo? Não conseguia se lembrar. Tinha gosto de mel e do primeiro beijo que dera em Daenerys. A tigela vazia escorregou de seus dedos e caiu no chão da cabana.

- E agora? Não me sinto diferente.

- Você vai sonhar e lembrar.

Jon piscou, sentindo suas pálpebras pesadas e não soube dizer quanto tempo ficou sentado encarando Faya sem na verdade vê-la. De algum modo ela estava muito perto agora. Seus olhos verdes o perfurando como se ela fosse uma serpente prestes a dar o bote, seu rosto borrado e deformado se contorcendo diante de Jon, a pele da bruxa derretendo e se esticando enquanto pequenas cabeças com bocas abertas e escuras oscilavam por sua extensão. Jon tentou se afastar dela, mas não conseguiu. Foi cometido por uma forte vertigem e seu mundo girou, oscilou e ruiu. De repente seu rosto foi espremido contra uma superfície dura e fria, então a escuridão o alcançou e Jon Snow foi completamente envolvido por seu manto pesado.

...Durma e sonhe...

Ao longe um lobo uivou e ele ouviu vozes de crianças brincando, correndo por um grande castelo de pedra com altas torres cobertas de neve. Uma nuvem de corvos levantou voo de uma árvore de folhas vermelhas e se espalhou pelo céu cinza e pesado. Um homem alto, de rosto comprido e solene, entrou no castelo montado em um cavalo cinza como fumaça e um menino de cabelos escuros e outro de cabelos vermelhos correram até ele para abraça-lo.

Sangue do DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora